Festival de dança, música e poesia movimenta Bairro da Paz

Evento gratuito realizado neste domingo (7) reuniu artistas no Centro de Referência em Promoção Social e Capacitação

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  • Laura Fernades

Publicado em 7 de maio de 2017 às 21:10

- Atualizado há um ano

Do lado de fora, o pagodão rolava no volume máximo. Do lado de dentro, a delicadeza quase inaudível do fagote chamava a atenção no Festival Dança, Música e Poesia, que aconteceu na tarde deste domingo (7), no Bairro da Paz. O contraste de sons marcou a segunda edição do evento gratuito realizado no Programa Avançar – Centro de Referência em Promoção Social e Capacitação, mantido pela Santa Casa da Bahia.

Artistas e grupos da região marcaram o domingo com apresentações de break dance, música e recital de poesia. Os melhores avaliados pelo júri foram premiados com itens oferecidos pela comunidade: R$ 150 em compras em um mercado do bairro, um book feito por um fotógrafo da região, um mês de academia, um ventilador e procedimentos em um salão de beleza.Festival contou com grupos de dança, como o Swingue Dancee (Foto: Marina Silva/CORREIO)“Esse evento é maravilhoso, porque incentiva o artista do bairro e ajuda o jovem a correr atrás do seu sonho. Aqui tem um alto índice de criminalidade, referente a drogas, roubos, e quem está aqui tem outro foco”, elogiou a auxiliar administrativa Lisandra Costa, 23 anos, que cantou durante o festival.

Funk, pop e arrocha fizeram a trilha das coreografias que foram acompanhadas com passos tímidos (e outros nem tanto) do público que assistia atento cada movimento. “Isso é muito legal, porque tem poucos eventos assim no Bairro da Paz. Eventos para dançar, se divertir e fugir de problema”, elogiou o pintor Fábio Pereira, 22, que se apresentou com o grupo de dança Swingue Dancee.

O também pintor e irmão de Fábio, Elesson Lima, 22, contou que o Swingue Dancee foi criado há três anos para ser levado a sério. “Digo a todo mundo que para estar no grupo tem que estar trabalhando e estudando, porque aqui o trabalho é levado a sério, não tem brincadeira. Tem que ter humildade e compromisso”, garantiu o líder do grupo.

Outro que também leva o trabalho a sério é Lázaro Silva, 24, que durante o festival mostrou um pouco da sua atuação nos ônibus de Salvador, recitando poesia. No evento, Lázaro recitou o poema autoral Na Calada da Noite, inspirado no amigo Cláudio Brito, 27, que morreu após levar um tiro da polícia na volta do trabalho para casa. “A poesia é uma válvula de escape e fala da realidade que muita gente não tem coragem de falar”, refletiu.

Apesar do episódio impactante, Lázaro contou que a violência no Bairro da Paz tem diminuído graças a eventos como o Festival Dança, Música e Poesia. “Hoje, a juventude tem mais acesso aos espaços públicos. Até a mídia vem fazer matéria que não é só sobre violência e isso pode servir de exemplo para outros jovens seguirem na arte”, comemorou.O poeta Lázaro Silva mostrou um pouco do trabalho que faz em ônibus (Foto: Marina Silva/CORREIO)Integrante do Núcleo de Prática Orquestral e Coral do Neojiba, que também funciona no Programa Avançar, a estudante Lívia Santos Silva, 15, garantiu que não participou do festival com o objetivo de ganhar prêmio e, sim, de interagir com os vizinhos. “Não é todo bairro que tem isso, né? As pessoas têm uma visão horrível daqui, mas só a gente que mora sabe as coisas boas que o Bairro da Paz oferece”, elogiou.