Ficar com biquíni ou sunga molhados pode causar doenças; veja como se prevenir

Infecções são mais comuns durante o verão

Publicado em 20 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

A combinação era sempre a mesma: depois de um dia na piscina ou na praia, um incômodo na região genital. Quando tomou banho numa cachoeira, após uma trilha na Chapada Diamantina, a gerente comercial Marina Meireles, 30 anos, percebeu os mesmos sintomas – coceira e irritação que beiravam o insuportável. 

Foi só quando procurou ajuda de uma ginecologista que Marina descobriu que o causador de tanto desconforto era alguém, aparentemente, inocente: o biquíni molhado. No consultório, a médica explicou que a roupa úmida favorecia o desenvolvimento de fungos naquela região.

A gerente comercial estava com candidíase. Apesar de não ser considerada doença sexualmente transmissível (DST), pode ser transmitida durante as relações sexuais.“A ginecologista me explicou que, às vezes, a gente pega do parceiro sexual, mas que também é muito comum pegar por causa de biquíni molhado. Incomoda bastante, porque coça muito”, lembra Marina. De acordo com a ginecologista Nádia Tiúba, além da coceira e irritação, a candidíase causa um corrimento branco, com aspecto semelhante a uma coalhada, além de poder gerar inchaço na vulva, causando ardor na hora de urinar.

A especialista explica ainda que, durante o verão, casos como o de Marina são ainda mais comuns. Segundo Nádia, a estação favorece a proliferação de fungos e bactérias, devido a fatores como suor, calor e umidade. Quando entram em contato com substâncias como o cloro ou areia da praia, o aparecimento de doenças fica ainda mais fácil. 

Não existem dados sobre o número de ocorrências no estado, nem na capital, porque, de acordo com as Secretarias Municipal da Saúde (SMS) e da Saúde do Estado (Sesab), não são doenças de notificação compulsória. Muitas vezes, segundo os órgãos, as pessoas se automedicam ou sentem vergonha de falar abertamente sobre o desconforto. Especialistas não aconselham que mulheres permaneçam com biquínis molhados (Foto: Arquivo CORREIO) Higienização O problema é que as roupas molhadas atrapalham a higienização da região íntima, de acordo com a ginecologista e obstetra Márcia Machado, secretária-geral da Associação de Obstetrícia e Ginecologia (Sogiba) e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. “Essa umidade modifica o ph da vagina. Com essa modificação, existe a proliferação tanto de fungos quanto de bactérias. Às vezes, a própria paciente já tem fungos na microflora, o que é normal, mas, com esse desequilíbrio do ph, o fungo pode se proliferar”, explica. Segundo Nádia Tiúba, porém, uma das infecções mais comuns nessa época é a candidíase, provocada por um fungo chamado Candida (Candida albicans). Para passar longe do problema, a orientação da médica é justamente cuidar das roupas de banho. 

Hoje, é o que gerente comercial Marina costuma fazer. Vale levar um biquíni extra ou até mesmo uma roupa seca na bolsa. O que ela evita, ao máximo, é passar muito tempo com a roupa molhada.“Me enrolo na canga, troco mesmo e não estou nem aí se repararem que eu estava trocando de roupa. Mas nem sempre dá para trocar com 100% de privacidade, especialmente nessa situação de trilha”, afirma Marina. É muito comum que as problemas vaginais evoluam até quadros de infecção urinária, segundo Márcia Machado. Isso pode acontecer por fatores que vão desde a maior contaminação até a higienização inadequada das roupas. “E uma vez com infecção urinária, a paciente tem que usar antibióticos, o tratamento modifica a microflora e isso atrapalha a microbiota intestinal”. Homens também deve evitar ficar com sungas molhadas por muito tempo (Foto: Robson Mendes/Arquivo CORREIO) Homens também podem pegar doenças Embora nunca tenha chegado a ter uma infecção, o estudante de Economia Felipe Duplat, 22, já adotou esses cuidados em sua rotina. A roupa extra na sacola, sempre que vai à praia, já virou hábito. 

Ele ama o mar, mas odeia a sensação de sentir a areia da praia presa na roupa molhada. “Não curto. Por isso, sempre deixo minha roupinha no ponto. Depois da farra é só trocar”, explica.

Ainda que a preocupação de Felipe não seja por conta dos riscos à saúde, a dermatologista Anete Olivieri alerta que os homens também precisam ficar espertos. Assim como as mulheres, eles são suscetíveis a sofrer com candidíase nas regiões íntimas e podem passar pelo mesmo desconforto.  Felipe sempre leva uma roupa extra para a praia (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Segundo a dermatologista, os sintomas nos rapazes costumam surgir como assaduras, que podem aparecer na região da virilha ou do testículo. Com a pele fragilizada e mais oleosa devido às condições climáticas, o fungo da candidíase pode se desenvolver.

“Naturalmente, temos fungos na pele. No verão, existem as condições para que elas se desenvolvam e tenha uma espécie de ‘segunda vida’, aí podem causar a doença", explica ela, que faz um alerta."Em pessoas com pele mais oleosa, a atenção precisa ser dobrada porque, além do calor e umidade, também tem a oleosidade, que representa fator de risco”, explica Anete.Médicos explicam como evitar fungos A recomendação dos especialistas é a mesma: tentar manter o corpo seco. Anete Olivieri sugere que, logo após sair do mar ou piscina, o banhista deve tomar uma ducha, secando-se logo após sair do chuveiro.

Outra dica é apostar em roupas mais fresquinhas. Segundo o dermatologista Ricardo Sá Pessoa, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o ideal é optar por peças de algodão, porque o tecido absorve o suor, ao contrário dos sintéticos. A lycra, por exemplo, não tem essa propriedade e, ao mesmo tempo, provoca a umidade e favorece a irritação da região íntima. 

Outro alerta: quem costuma deixar o biquíni ou sunga guardados o ano todo no armário também pode se expor a esses perigos. Quando as roupas são guardadas em sacos plásticos ou em locais sem ventilação, tornam-se mais propensas a serem infectadas por fungos, de acordo com Márcia Machado.“Com a lycra, é muito fácil acontecer. Por isso, a gente sempre indica que os biquínis sejam lavados antes do primeiro uso ou caso estejam guardados há muito tempo”, pontua a ginecologista. Caso a pessoa já sinta o incômodo e os fungos evoluam, a indicação é procurar um médico. No caso das mulheres, ginecologia é a especialização mais indicada, mas a consulta com um dermatologista também pode ajudar. Os especialistas em pele, aliás, são os mais indicados para que os homens procurem caso percebam algum sintoma das doenças.

O tratamento costuma ter duração que varia entre 20 e 30 dias e acontece, normalmente, através de pomadas antifúngicas e, em casos mais específicos, com remédios de via oral. Conheça algumas das principais doenças

- Candidíase Os pacientes apresentam vermelhidão, coceira e uma secreção vaginal esbranquiçada, a textura é semelhante à de uma coalhada.

- Tricomoníase  As principais queixas são uma secreção cinzenta e um odor desagradável. Não coça como a candidíase, mas tem o odor.

- Vaginose bacteriana Parece muito com a tricomoníase. Tem o odor forte e uma secreção amarelada de textura mais aquosa do que a candidíase. 

- Pano branco Também é conhecido como micose de praia, mas seu nome formal é pitiríase. É causada por conta de um fungo, assim como a candidíase. Basicamente, ele libera uma substância na pele que impede a produção de melanina em algumas regiões do corpo e, sendo assim, cria manchinhas brancas que normalmente ficam nas costas, braços ou região do peito.

- Impingem Cientificamente é chamada de Tinea corporis, mas popularmente é conhecida como impingem e provocada por fungos. Neste caso, ela é responsável por provocar bolhinhas de líquido claro, que ao secar ficam vermelhas ou amareladas. As áreas do corpo mais afetadas são normalmente o tronco, a virilha, o rosto e os braços - lugares do corpo onde há muita transpiração.

* Sob supervisão da subeditora Fernanda Varela.