Fiéis lotam Catedral Basílica em reabertura 

Cerimônia, celebrada pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, atraiu cerca de mil pessoas

Se a intenção da  reforma era fazer brilhar os olhos dos fiéis no primeiro contato visual com a nova Catedral Basílica de Salvador, os planos deram certo. Na tarde desta sexta-feira (14), durante a reinauguração do templo, não era difícil flagrar pessoas, entre jovens, crianças e idosos, observando atentamente cada detalhe da estrutura banhada a ouro.

A reinauguração, que era prevista para durar 18 meses, acabou levando 44. O resultado, no entanto, foi aprovado pelos fiéis que, em peso - cerca de mil pessoas -, lotaram a igreja para assistir à cerimônia de reinauguração, celebrada pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.  

Há três anos e oito meses, exatamente o tempo da reforma, a professora Marta Costa, 47 anos, esteve na Catedral Basílica para assistir à última missa que viu. "É exatamente o tempo que eu tinha sem entrar em nenhum outro templo. Porque essa é uma igreja especial para mim, foi aqui que eu casei", comentou.

Aos 22 anos, foi na Catedral que a professora disse sim para o marido e, ainda, para a religião. Ela, que ainda não era católica, contou que passou a seguir os dogmas da igreja no dia do casamento. Para Marta, o espaço está "ainda mais bonito". O santuário, segundo a professora, é referência de beleza e história em Salvador. "É o nosso templo mais importante, sem dúvida. Eu estou muito feliz com essa reinaguração. Bonita está ainda mais, mas para além da beleza, nós temos que entender que o mais importante é a segurança da estrutura, daí o sentido do restauro, que agora tem que que ser preservado por nós, e pelo Estado", defendeu Marta.E Dom Murilo concorda. Segundo o arcebispo, antes de ser um patrimônio da Igreja Católica, a Catedral Basílica "é uma igreja da humanidade". Ele também reiterou que o templo é uma obra de arte.

[[galeria]]"Todo mundo que vier aqui vai ter o coração elevado a Deus. É um encontro com a arte. Uma obra belíssima, feita por nossos antepassados e que só vem para somar mais paz e mais amor", disse Dom Murilo ao CORREIO. Conforme a presidente do o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, o fato de Salvador ostentar o título de Patrimônio Mundial, por si, já requer um compromisso de preservação, conservação e restauração de bens como a Catedral Basílica.

"Nós nos comprometemos com a Unesco e, temos por responsabilidade proteger esse patrimônio para a atual e as futuras gerações", afirmou. 

Ainda de acordo com Kátia, pelo menos 100 pessoas, sendo a maioria delas mulheres, participaram do processo de restauração do templo. "Foi uma obra muito difícil, porque restauros necessitam de muita pesquisa, muito cuidado. Mas, como todos podem ver, estamos diante de um trabalho de excelência, sendo a maioria desses responsáveis profissionais mulheres", afirmou, sem esconder o orgulho.

Emoção Os olhos do aposentado Manoel Negreiros, 72, não disfarçaram a emoção de enxergar as 50 mil folhas de ouro que resplandecem a igreja. Não é de hoje que Manoel, católico ferrenho, como ele mesmo se define, avista aqueles 13 altares folheados. Cerca de mil pessoas participaram de reabertura (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) "Eu frequento isso aqui desde garoto. Meu avós, meus pais, eu, meus filhos e, amanhã, meus netos. Eu fiz questão de vir para a abertura pela referência que a catedral significa para mim e minha família".

E por falar em família, o prefeito ACM Neto, presente na cerimônia, afirmou que tem uma relação familiar com a igreja. Durante seu discurso, Neto revelou que, assim como a professora Marta, foi naquele altar que ele casou."Meu sentimento, como critão, é de felicidade. Eu tive a oportunidade de ser batizado aqui. Na época, por escolha dos meus pais, mas foi ali que abriu para mim o caminho religioso. Já adulto, foi aqui na Catedral Basília que eu resolvi casar, um momento muito importante em minha vida", comentou o prefeito.Enquanto prefeito, segundo Neto, o sentimento é de orgulho. "Salvador é uma cidade que nos coloca em situações misteriosas e só quem é soteropolitano sabe disso. E isso vem da nossa cultura, história e tradição. Que é o que este templo representa para cada um de nós. A prefeitura tem o grande prazer de participar, ainda que humildemente, deste momento", concluiu Neto.

Surpresa

Já no final da cerimônia, todas as atenções se voltaram para o altar-mor. Quando duas portas de madeira enormes - cada uma com cem quilos e com uma pintura de São Francisco Xavier, Santo Inácio de Loiola e do próprio Cristo - se abriram, mostraram a imagem do Cristo Crucificado, antes escondida.

O novo atrativo foi anunciado por Dom Murilo Kriger, que chamou a atenção dos fiéis e pediu que todos ficassem de pé para saudar às imagens.  Catedral ficou pronta em 3 anos e oito meses (Fotos: Arisson Marinho/CORREIO) "Quando cheguei, a primeira coisa que reparei foi a ausência de Cristo, que sempre ficou no altar, exposto. Então foi um momento muito emocionante, ver as portas abrindo e Cristo aparecento ali no alto, lindo", descreve a aposentada Graça Ramos, 59.

Católica desde criança, Graça afirmou que a Catedral Basília é uma igreja especial. "É totalmente diferente de todas as outras [igrejas]. Para mim, só de entrar aqui a gente já se sente tomado por fé, por amor e pela certeza de que temos Deus conosco, todos os dias", comentou ela, acompanhada da neta, a pequena Sofie, de 13 anos.

A menina, que esteve no templo pela primeira vez, destacou a beleza do patrimônio. "Eu nunca vi nada assim, é cheio de ouro por todos os lados. Gostei muito de conhecer e quero que minha avó me traga outras vezes", afirmou a menina, aos risos.

Presente na cerimônia, o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, comentou sobre a importância do retorno da Catedral Basília para o turismo de Salvador."O Centro Histórico de Salvador é um patrimônio mundial. E, por isso, nós temos que maximizar e potencializar a nossa história. Isso vai fazer com que mais pessoas conheçam e queiram conhecer a cidade", afirmou o ministro.Conforme Sérgio, a restauração do templo terminou com satisfação para todos os lados envolvidos. 

"Para nós, da cultura, é muito emocionante. Eu, pessoalmente, me sinto muito feliz de pôr os pés aqui. É como se estivéssemos entrando numa máquina do tempo e retornando ao século 17. O nosso patrimônio histórico diz muito sobre nossas tradições, nossos valores e sobre quem somos.