Filha de Regina Casé desabafa sobre surdez: 'Tinha pavor de ser vista como vítima'

Benedita Zerbini descobriu problema na infância, quando médicos disseram que ela não desenvolveria fala

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  • Da Redação

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 14:08

- Atualizado há um ano

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Filha de Regina Casé, Benedita Zerbini, 30 anos, escreveu um relato emocionante para a revista Vogue no qual conta detalhes de sua surdez, descoberta na infância, e só tornada pública recentemente, quando usou as redes sociais para falar abertamente sobre o assunto. No texto, publicado na revista nesta quarta-feira (4), Benedita admite que o fato de ter demorado a se pronunciar sobre sua condição de saúde se deu pelo "pavor de ser vista como vítima". 

Apesar de ter nascido ouvinte, Benedita perdeu a audição ainda criança, após uma complicação grave decorrente de uma pneumonia. Ela precisou tomar uma série de medicamentos – entre eles a Gentamicina, antibiótico que era aplicado em recém-nascidos e que podia provocar perda de audição. 

"Minha surdez foi descoberta aos 3 anos de idade. Meus pais só notaram que havia algo errado porque apesar de falar, era difícil identificar o que eu dizia. No início, eles acharam que era um problema de dicção que poderia ser resolvido com sessões de fonoaudiologia. Mas, desconfiados, insistiram em ter outras opiniões e continuar investigando. Um dia, ao fazer uma audiometria, veio o diagnóstico: o que eu tinha era surdez bilateral neurossensorial severa, uma perda auditiva causada por danos ao nervo que liga o ouvido ao cérebro e que não permite ouvir sons que estejam abaixo de 70 a 90 decibéis. Ou seja, perdi todos os tons agudos, um tanto dos médios e muito pouco dos graves. Não ouço campainha, apito, passarinho...", detalha ela no texto.

Por conta disso, os médicos diziam que ela também não seria capaz de desenvolver a fala, e que teria de usar a linguagem dos sinais e estudar em um colégio especial, pois não conseguiria ter outro tipo de comunicação. "Mas o ser humano é impressionante: até o diagnóstico final, já havia aprendido, naturalmente, a fazer leitura labial", recorda. Benedita faz parte da campanha Surdos que Ouvem, do blog Crônicas da Surdez  - veja vídeo no fim desta matéria (Foto: Divulgação) Aos 4 anos, foi matriculada em uma escola regular e começou a usar aparelho auditivo. "Isso mudou minha vida, pois apesar de ele não ser suficiente para ouvir absolutamente tudo, me possibilitou escutar tons e frequências que antes eram impossíveis. Também mudei minha relação com a música", conta ela, ao classificar como "um acontecimento" a primeira vez que ouviu todas as nuances de uma música de Bob Marley em uma loja de discos. "Minha mãe e um amigo que nos acompanhava ficaram superemocionados. Saí da loja com uma caixa de CDs do Bob Marley, que nunca mais parei de ouvir".

As dificuldades, no entanto, a acompanharam até a fase adulta. Formada em Design Gráfico pela PUC do Rio, ela destaca no texto que ficava constrangida em pedir ajuda na sala de aula. "Na faculdade, era comum o professor dar aulas de costas ou com a luz apagada, o que me impedia de ler seus lábios. Apesar de conseguir me virar, tinha dificuldade de me colocar – ficava constrangida em pedir ajuda, achava que iria atrapalhar o andamento das aulas. Minha mãe sempre insistiu para que eu me abrisse com as pessoas, mas tinha pavor de ser vista como vítima", desabafou. 

Repercussão Desde a primeira vez que falou sobre o assunto nas redes sociais, há cerca de quinze dias, o tema tem sido assunto recorrente para ela. "Apesar de toda a repercussão, fiquei aliviada em poder contar minha história. Ao fazer aquele post, usei minha visibilidade para mostrar que é possível ter uma vida normal e inclusiva", diz a empresária, que tem uma produtora de audiovisual junto com o marido João Pedro, pai de Brás, de 2 anos. Benedita ao lado do marido, João Pedro, e do filho Brás  (Foto: Divulgação) Junto ao blog Crônicas da Surdez, ela tem discutido e desmistificado o assunto. "Com eles faço parte da campanha Surdos que Ouvem, que mostra a diversidade na deficiência e leva informações para esta comunidade. É muito bom encontrar pessoas que têm um discurso parecido com o meu e que acreditam que é possível sim, ter uma vida leve e alto-astral", conclui.

Veja vídeo da campanha Surdos Que Ouvem: