Filme conta história de milagre de Santa Dulce

Maurício voltou a enxergar depois de 14 anos cego

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  • Roberto Midlej

Publicado em 13 de outubro de 2021 às 08:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: divulgação

O baiano Toni Couto visitou o Santuário Santa Dulce dos Pobres há cerca de cinco anos e aproveitou para fazer uma promessa: se ela contribuísse para que seu filme fosse premiado por um edital, Toni voltaria ali para mostrar o produto em primeira mão. E chegou a hora: o cineasta lança nesta quinta-feira (14), naquele local, o documentário  A Luz na Escuridão, que conta a história de José Maurício, que voltou a enxergar graças a um milagre operado por Irmã Dulce. E foi graças a esse milagre que a baiana foi canonizada.

Maurício ficou cego aos 32 anos, na virada de 99 para 2000, em razão de um glaucoma. Profissional da informática, teve que deixar a área e adaptou-se se à nova vida: aprendeu a usar uma bengala para se orientar, adotou um cão-guia, e se dedicou a uma outra paixão, a música. Acabou tornando-se um regente de corais muito requisitado. Um dia, 14 anos após perder a visão, Maurício sofria por causa de uma conjuntivite viral que o incomodava muito e já o deixava sem dormir havia três noites. Pegou uma pequena imagem de Irmã Dulce, que havia herdado da mãe, e pediu apenas para ter uma noite tranquila. Funcionou: dormiu como um anjo... Ao acordar, abriu os olhos e enxergou uma mão em sua frente. "Só posso estar morto", pensou Mauricio. Só depois de uns segundos, notou que era sua própria mão. Sim, ele havia recuperado a visão.

Roteiro "pronto"

Toni, que era amigo de infância de Maurício, soube que o músico havia voltado a enxergar e, claro, acionou seu faro de cineasta: "A história era fantástica, o roteiro estava pronto". Mas a ideia inicialmente era contar a história de superação da vida de Maurício e, claro, relatar o fato de ter voltado a enxergar. Falava-se da fé em Irmã Dulce, mas não se falava em "milagre", já que o Vaticano ainda não reconhecia oficialmente. Toni Couto, o diretor e amigo de Maurício Toni também teve uma relação próxima com a religião, tanto que seu nome, Antônio, é em referência a Santo Antônio, de quem sua família é devota. "Sempre respeitamos muito Irmã Dulce, afinal ela sempre foi vista como uma figura mitológica. Para além do milagre, ela sempre fez muito pelo povo da Bahia. É uma das mães que cuidam dos baianos", revela o diretor.

Maurício, segundo Toni, era uma figura que merecia o filme, independentemente da questão religiosa: "É um baiano típico, um personagem riquíssimo: nasceu no Bonfim, foi criado em Brotas, é torcedor do Bahia, violeiro autodidata... Ficou cego aos 32 anos, foi pro fundo do poço e se reergueu".

O título do filme, segundo Toni, mostra que Maurício encontrou seu caminho e uma dessas saídas foi a música. "O filme tem um dispositivo musical, um grupo vocal que conduz a narrativa", revela o diretor, que, por ser também músico, compôs as canções do filme, conduzidas por um grupo vocal.

A Luz na Escuridão foi contemplado pelo Edital de Arranjos Regionais do Fundo Setorial para o Audiovisual (FSA), através da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA). Mas o filme não foi aprovado tão facilmente e contou com aquela ajudinha de Irmã Dulce, que obriga Toni pagar a promessa. "Entramos no edital, mas estávamos como suplentes. Quando fui ao Santuário, rezei pra ela e disse 'estamos quase lá'. Não sei o que aconteceu, mas um filme que estava na nossa frente acabou se retirando e entramos", diz Toni, com a certeza de que a Santa Dulce intercedeu em favor de seu filme.

Enquanto se preparava para terminar o doc, surgiu a canonização de Irmã Dulce. "Maurício me ligou dizendo que o papa ia canonizá-la, quando estávamos finalizando. A equipe estava em São Paulo para filmar o depoimento de um especialista em glaucoma, que defendia que, embora enxergasse, Mauricio continuava cientificamente cego.

Surpreendido com a notícia da canonização, Toni decidiu registrar outras entrevistas, falando do milagre e da santificação. A duração, que era de 52 minutos, foi estendida para 60 minutos. Esta é a versão que será exibida amanhã e que, em breve, estará na TV Kirimurê (canal 10.3 ou 24 UHF digital). Mais tarde, haverá uma versão mais longa do doc, para cinema. E Toni já prepara o argumento para filmar uma ficção baseada na história de Maurício.

Serviço Pré-estreia quinta-feira (14), 19h. Santuário Santa Dulce dos Pobres (Avenida Dendezeiros do Bonfim). Ingressos: retirar na secretaria do Santuário, até hoje, mediante a troca de 1kg de alimento não perecível, das 7h às 13h e das 14h às 18h.