Filme mostra que o desejo não faz distinção de gênero

Com quatro indicações ao Oscar, Me Chame Pelo Seu Nome conta a paixão de um adolescente por um amigo do seu pai

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 06:35

- Atualizado há um ano

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É no Verão de 1983, no norte da belíssima Itália, que conhecemos a história de Elio, 17 anos, e Oliver, 24, em Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Nome), adaptado do romance homônimo de sucesso do escritor americano André Aciman, publicado em 2007.

Dirigido pelo cineasta italiano Luca Guadagnino, 46, o longa-metragem merece as quatro indicações que recebeu esta semana ao Oscar 2018: filme, ator (Timothée Chamalet), roteiro adaptado (pelo veterano James Ivory) e canção original.

A simplicidade da história ganha contornos suntuosos pelas mãos de Guadagnino, o mesmo de Um Sonho de Amor (2009), que se aventurou a retratar a história do primeiro amor de Elio Perlman (interpretado por Timothée Chalamet, o jovem ator que já conquistou a indústria do cinema).

Enquanto passa férias na casa de campo da família, na Itália, Elio transcreve e toca música clássica, além de ler e flertar com a amiga Marzia (Esther Garrel).

Oliver (Armie Hammer) é um estudante americano que vem ajudar Mr. Perlman (Michael Stuhlbarg), pai de Elio e um ilustre professor de cultura greco-romana, numa pesquisa. E é com a chegada de Oliver que a vida aparentemente enfadonha de Elio ganha novo sentido. Afinal, quem pode controlar mesmo o desejo? Me Chame Pelo Seu Nome é, em resumo, uma obra sobre um romance de Verão. Não apresenta nada de novo em termos de narrativa, exceto o fato de termos dois homens como amantes, mas é precisamente por essa universalidade que ele vem conquistando corações desde que foi exibido pela primeira vez no Festival de Sundance, EUA, em janeiro de 2017.

Cena mais sexual -  O roteirista James Ivory (diretor de romances históricos dos anos 1980 e 1990, como Retorno a Howard's End) e o Guadagnino compreendem as aparentes contradições do desejo e da adolescência - e sabem como temperar novas emoções em cima de um material clássico.

Diante da sua estrutura dramática tradicional, no ato de atar e desatar esse amor homossexual, Me Chame Pelo Seu Nome flui de forma solta e moderna, fiel à década de contradições  dos seus personagens. Sobre algumas acusações da crítica americana do filme ter cortado a cena mais sexual entre os seus protagonistas, o diretor Luca Guadagnino, homossexual por sinal, argumentou com o fato de ter percebido que a química entre os dois atores (Chalament e Hammer) e seus respectivos personagens (Elio e Oliver) seria o suficiente, que mostrar o ato sexual seria uma forma de intromissão.

Produtor brasileiro - “Eu gosto de pensar que Me Chame Pelo Seu Nome encerra uma trilogia de filmes baseados no desejo, juntamente com Um Sonho de Amor e Mergulho no Passado”, explica Guadagnino. “Elio, Oliver e Marzia se veem envolvidos numa bela confusão que Truman Capote uma vez descreveu dizendo: ‘O amor, não tendo geografia, não conhece fronteiras’. O filme é também uma homenagem aos pais da minha vida: meus pais de sangue e meus pais cinematográficos, Renoir, Rivette, Rohmer e Bertolucci”, completa.

Para os brasileiros, Me Chame Pelo Seu Nome tem a curiosidade de contar com Rodrigo Teixeira, da RT Features (São Paulo), como um dos produtores. Ele acredita que as melhores chances do filme no Oscar são na categoria de roteiro adaptado.

COTAÇÃO - ÓTIMO

Horários de exibição:

 UCI Orient Shopping Barra  Sala 6 (leg)(delux): 12h (M), 14h40, 17h40, 20h40  Espaço Itaú Glauber Rocha  Sala 2 (leg): 15h30 (sábado tem sessão gratuita para quem tem carteirinha Clube do Professor), 18h, 20h30  Saladearte Cine Paseo  Sala 2 (leg): 13h25, 15h45, 18h05, 20h25 (exceto terça)

OUTROS TRÊS BONS FILMES DE TEMÁTICA GAY:

O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee/2005):

Premiadíssimo (incluindo três Oscar) e dirigido pelo taiwanês Ang Lee, o belo drama retrata o complexo envolvimento romântico e sexual de dois caubóis (vividos por Heath Ledger e Jake Gyllenhaal) do Oeste dos Estados Unidos, entre os anos de 1963 e 1981. Uma obra-prima.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro/2014):

O diretor brasileiro Daniel Ribeiro desenvolveu uma ideia interessante, aplicando a uma história universal (a descoberta do primeiro amor) características particulares: a homossexualidade e a deficiência física. Com os atores Ghilherme Lobo e Fábio Audi.

Azul é a Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche/2013):

No drama francês de Abdellatif Kechiche, Adèle (Adèle Exarchopoulos), 15 anos, descobre na cor azul dos cabelos de Emma (Léa Seydoux), a sua primeira paixão por outra mulher. Sem poder revelar a ninguém os seus desejos, ela se entrega a  esse amor. Palma de Ouro em Cannes.