Filme sobre Geovane, jovem morto por policiais, é lançado neste sábado (17)

Caso revelado pelo CORREIO deu origem a documentário dirigido por Bernard Attal

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 17 de novembro de 2018 às 09:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Em cena de Sem Descanso, estão mães de jovens que desapareceram após terem encontrado a polícia

Em 13 de agosto de 2014, o CORREIO revelava o desaparecimento do jovem Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos. A reportagem de Bruno Wendel mostrava que o rapaz, após uma violenta abordagem policial na Calçada, registrada em vídeo, havia sido colocado no fundo de uma viatura. Até aquele dia, o jovem estava desaparecido.

Mas, 48 horas após a publicação da reportagem, o corpo de Geovane foi encontrado carbonizado. A necropsia revelaria ainda que a morte fora por decapitação e o corpo havia sido queimado em seguida. Meses mais tarde, o Ministério Público denunciou 11 policiais por homicídio, sequestro e ocultação de cadáver.

O crime chamou a atenção do cineasta francês Bernard Attal, que vive em Salvador há 13 anos e dirigiu longas como A Coleção Invisível (2012).  Attal decidiu realizar um documentário sobre o caso: Sem Descanso, que será exibido pela primeira vez neste sábado (17), no Espaço Itaú Glauber Rocha, às 20h20. A sessão integra o Panorama Internacional Coisa de Cinema, mais importante festival de cinema da Bahia. O filme concorre ao prêmio de melhor longa-metragem nacional do evento.  Na terça (20), o filme volta a ser exibido, às 13h, no mesmo local. Sérgio Costa, a quem a sessão deste sábado (17) será dedicada (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) A sessão desta noite será dedicada à memória de Sergio Costa, que era editor-chefe do CORREIO na época da publicação da série de matérias especiais sobre o caso Geovane. Mais tarde, Sergio se tornaria diretor-executivo do jornal, função que ocupou até sua morte, em março de 2016, aos 55 anos. “O filme se tornou possível graças, principalmente, a duas pessoas. Uma delas é Jurandhy, pai de Giovane. A outra é Sergio Costa, a quem o filme é dedicado. Era um grande jornalista e nos permitiu conversar com o jornal para realizar o filme”, diz Bernard. Sem Descanso tem  depoimentos de Sergio Costa, Bruno Wendel e Juan Torres, editor do CORREIO em 2014."O filme se tornou possível graças, principalmente, a duas pessoas. Uma delas é Jurandhy, pai de Giovane. A outra é Sergio Costa (ex-editor-chefe do CORREIO), a quem o filme é dedicado"  (Bernard Attal, diretor de Sem Descanso)O cineasta, que nasceu na França e viveu em Nova York antes de morar no Brasil, revela preocupação especial com a questão da segurança pública e, mais especificamente, quando envolve questões raciais. “Me chama a atenção a postura da sociedade brasileira - e não apenas da polícia - em relação à violência contra jovens negros”, diz o diretor.

Ele compara a repercussão do caso Geovane com outro que ocorreu na mesma época: “Na mesma semana, o jovem Michael Brown [negro de 18 anos] foi assassinado por um policial nos EUA e a repercussão foi completamente diferente”. O incidente desencadeou uma série de reações em nível nacional, incluindo protestos até violentos da população e uma cobrança por uma investigação. Bruno Wendel (centro) recebe o Prêmio OAB de Jornalismo pela série "Onde Está Geovane" (Foto: Beto Júnior/CORREIO) Pela série de reportagens, Bruno Wendel, que trabalha no CORREIO há 12 anos, concorreu ao Prêmio ExxonMobil de Jornalismo - antigo Prêmio Esso e venceu o Prêmio OAB de Jornalismo, que contempla trabalhos relacionados à justiça e direitos fundamentais.

“A imprensa, inicialmente, tem o papel de reportar  e não deve fazer nada que não seja baseado em fatos. Tínhamos vídeos que comprovavam a abordagem truculenta que resultou num homicídio brutal. O pai de Geovane recorreu às autoridades, mas não teve resposta. Diante da omissão do poder público, procurou a imprensa”, afirma Bruno Wendel. “Foi a sede de justiça social que me motivou a fazer as reportagens. Mas, certamente, precisei de coragem para isso. E eu estava bem embasado; por isso, tive essa coragem”, afirma. O diretor Bernard Attal (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) SERVIÇO

Espaço Itaú Glauber Rocha (Praça Castro Alves). Sábado (17), 20h20; Terça (20), 13h. Ingresso: R$ 12 | R$ 6