Filme sobre Geovane, morto por policiais, chega ao Festival do Rio

Dirigido por Bernard Attal, documentário se baseia em caso revelado pelo CORREIO

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  • Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2019 às 05:20

- Atualizado há um ano

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Única produção baiana no Festival do Rio 2019, o filme Sem Descanso, que conta a história de Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos, morto pela polícia em agosto de 2014, estreia hoje no evento, um dos mais importantes do país. No total, serão quatro exibições dentro do festival. Dirigido pelo cineasta francês Bernard Attal, que vive em Salvador há 14 anos e assina ficções como A Coleção Invisível (2012) e A Finada Mãe da Madame (2016), o longa é um dos oito concorrentes da mostra competitiva de documentários - as outras produções são dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.  Jurandhy Silva de Santana, pai de Geovane, em cena do filme (Foto: Divulgação) Até o dia 19, Festival do Rio irá exibir aproximadamente 90 títulos, entre longas e curtas-metagrens, em competição ou em exibições especiais. Sem Descanso fez sua estreia em festivais há um ano, durante o Panaroma Internacional Coisa de Cinema, no Espaço Ítaú Glauber Rocha. Depois disso, circulou por diversos eventos, incluindo o  Festival de Documentários de Thessaloniki, na Grécia, que marcou sua estreia internacional, em março desse ano.

“Quisemos estrear na Bahia, mas já mirando nessa turnê mundial. Já passamos na Europa, Canadá, EUA, e na América Latina. Recentemente, estivemos em Cuba e no Uruguai”, detalha o diretor, para quem a estratégia de circular por festivais visa garantir uma distribuição ampliada do filme em circuito comercial. “Também estamos negociando parcerias com ONGs e instituições que fazem lançamentos de impacto para chegar nas pessoas interessadas no tema, mas que não têm acesso às salas de cinema tradicionais”, complementa Attal.

Fatos reais Baseado no caso revelado pelo repórter Bruno Wendel, do jornal CORREIO, o filme reconstitui a partir de entrevistas com familiares e outros depoimentos, a saga do pai de Geovane em busca do paradeiro do filho, desaparecido após uma violenta abordagem policial no bairro da Calçada. A ação, que foi registrada em vídeo por câmeras de segurança, mostra o jovem sendo colocado no fundo de uma viatura.  Capa do jornal CORREIO sobre caso Geovane em 2014 (Foto: Divulgação) O corpo de Geovane só foi aparecer dias depois da publicação da reportagem. A necrópsia revelaria ainda que a morte fora por decapitação e o corpo havia sido queimado em seguida – numa tentativa dos responsáveis de passarem impune ao crime. Meses mais tarde, o Ministério Público denunciou 11 policiais por homicídio, sequestro e ocultação de cadáver. O caso chamou atenção do cineasta, que nasceu na França e viveu em Nova York antes de morar no Brasil, por dois motivos principais: a questão da segurança pública e sua intersecção com as questões raciais. “A violência contra jovens negros é uma tragédia sem tamanho, e uma responsabilidade não só da polícia, mas de toda sociedade. Devemos lançar o filme em meados do ano que vem, e percebo as pessoas ainda mais sensibilizadas por esse assunto, devido às muitas coisas que aconteceram no país, principalmente no Rio”, aposta o diretor. Pai e avós de Geovane em uma das cenas do documentário (Foto: Divulgação) Por onde passa, o filme tem cumprido seu papel de provocar e conscientizar. “Estamos bem felizes de ter chegano Festival do Rio, que tem essa visibilidade e é conhecido pelo público muito envolvido. Acredito que vai ajudar bastante nosso lançamento. Para nós, uma honra”, comemora. 

Sinopse: Em 2014, Geovane, um jovem morador da periferia de Salvador, foi levado por uma viatura da polícia militar em pleno dia e nunca mais foi visto. Apoiado pelo jornal local, seu pai conduziu as investigações e não descansou até descobrir o paradeiro do seu filho.​