Filme Talvez uma História de Amor reflete sobre importância de pausar e mudar

Trama nacional reúne diversas metáforas e aborda a indispensabilidade de não ignorar a tristeza

  • Foto do(a) author(a) Vanessa Brunt
  • Vanessa Brunt

Publicado em 14 de junho de 2018 às 12:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Um homem metódico, perfeccionista e com receio de mudanças busca controlar ao máximo cada mínimo detalhe da vida. Ele segue a sua firmada rotina driblando riscos, até o momento em que chega em casa após mais um dia corriqueiro de trabalho e liga a secretária eletrônica. Na mensagem, está a voz de uma mulher que o desconcerta: Clara está terminando com ele, não é mais possível continuar o relacionamento dos dois. E: desliga. No entanto… quem é Clara? Virgílio (Mateus Solano) não se lembra dela, nem de ter se relacionado com ninguém nos últimos meses. Os amigos comentam, os colegas de trabalho perguntam. Todos, de alguma forma, sabiam da relação dos dois, menos ele. A partir daí, Virgílio parte em busca de encontrar essa mulher misteriosa e, talvez, o amor da sua vida.  Confira o trailer: Na adaptação do best-seller homônimo do francês Martin Page, enquanto tenta lembrar da relação e juntar peças ‘do quebra-cabeça’ que possam ajudá-lo a encontrar a moça, o protagonista entra em uma caminhada profunda de autoconhecimento e acaba vivendo mudanças nunca antes imaginadas, percebendo que mudar nem sempre significa perder ou abandonar, já que estamos perdendo o tempo inteiro ao abdicar de algo em cada pequena escolha. Marco Luque faz par de 'bromance' com Mateus Solano no longa (Foto: Reprodução) A FORÇA DA LÁGRIMA Com um ‘bromance’ que quebra a ideia de que ser forte é engolir a lágrima e que, ainda, consegue desfazer de diversos tópicos machistas – ao incluir, por exemplo, cenas de carinho e zelo na relação de amizade entre homens –, Virgílio passa a profundar novos laços e ideais a partir da situação. Assim, o longa, que tem distribuição da Warner Bros. Pictures, utiliza um mesmo acontecimento de base para criar duas linhas metafóricas e reflexivas. O esquecimento do personagem serve, na trama leve e romântica, para representar todos aqueles que estão tentando esquecer outra pessoa e, acabam, assim, caindo na armadilha de ignorar aspectos fundamentais sobre si: burlando a própria essência e, por isso, bloqueando novas oportunidades. Para além da analogia, a caminhada do protagonista acaba por representar, ainda, todos aqueles que não percebem os ganhos da perda de uma determinada relação (o famoso: uma porta foi fechada para outra melhor abrir). A obra, que não é um dramalhão pesado e nem uma comédia, se mantém com ritmo bem amarrado e instigante, navegando pela transformação do protagonista como pano de fundo para um debate amplo sobre a importância de pausar, bem como o lembrete de que permitir pausas também significa estar fazendo algo e incrementando um determinado projeto. O debate é ainda alargado ao discutir a desestabilização que um amor pode causar – mostrando que 'está tudo bem' em passar por fases assim e valorizando a importância de permitir a tristeza como fase reflexiva –, além de navegar pela importância de não nos apegarmos a alguma zona de conforto. Cynthia Nixon, a Miranda de Sex and The City, faz participação especial na trama (Foto: Divulgação) Seja para os solteiros que buscam um amor, para os casais que buscam ajustes na relação ou para quem deseja tirar de vez um nome do peito quebrado, Talvez uma História de Amor é uma trama que promete deixar o coração quentinho e a alma mais empática.  Em meio a alguns clichês pontuais, o filme consegue não cair em um 'lugar comum', não somente pela sinopse criativa, mas por ter um roteiro que utiliza até dos próprios clichês para lembretes profundos e intencionais. Ainda que o final, por exemplo, possa dar uma impressão de ter avançado rápido demais, até isso ganha sentido, já que, no clímax, há a noção de que o real sentimento causa atos urgentes e, ao menos, uma real tentativa, diferente do que ocorre nas mornas emoções. Assim, Talvez uma História deixa mais um alerta: para quem vive em uma relação não tão correspondida. De tal forma, o longa é, em meio a tantas alegorias, um convite válido para reflexões sociais em meio a um entusiasmo que pode ser permeado do começo ao fim. Com pensamentos sobre a importância de saber pluralizar e equilibrar prioridades, a obra também traz a ideia de que, em certos momentos, a vida pessoal deve estar acima da profissional – até para que uma possa impulsionar à outra, mesmo que não seja algo perceptível 'de cara'. Com as linhas emocionais tão carregadas quanto sutis, o longa traz cenas de respiro que abordam as forças e fragilidades das relações humanas, mostrando o quanto mostrar sentir a dor é, por vezes, a saída mais forte. Em meio aos momentos críticos, o filme ainda traz no elenco Paulo Vilhena, Nathalia Dill, Bianca Comparato, Totia Meirelles e uma participação especial de Cynthia Nixon, a Miranda de Sex and The City, que consegue contar uma história de vida em poucos minutos de diálogo, assim como fazem diversos outros dos personagens bem construídos.Cotação: Ótimo