Filósofo francês prega as virtudes do fracasso e faz sucesso

Por Hagamenon Brito

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  • Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2018 às 05:03

- Atualizado há um ano

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Em Volta Por Cima, um clássico da história da MPB, o compositor paulista Paulo Vanzolini (1924-2013) chora a sua desilusão amorosa cantando que "Um homem de moral não fica no chão/ Nem quer que mulher/ Venha lhe dar a mão/ Reconhece a queda e não desanima/ Levanta, sacode a poeira/ E dá a volta por cima".  O escritor e filósofo Charles Pépin, 45 anos, é autor do best-seller As Virtudes do Fracasso, editado agora no Brasil e traduzido em mais 13 países (Foto/Divulgação) O filósofo e escritor francês Charles Pépin, 45 anos, certamente gostaria da mensagem desse samba caso o ouvisse no seu serviço predileto de streaming musical. Afinal, como ele prega no livro As Virtudes do Fracasso (Estação Liberdade | 184 págs. | R$ 39 | tradução de Luciano Vieira Machado), é importante (e humano) aprender através do erro.

"O que têm em comum Charles de Gaulle, Steve Jobs e Serge Gainsbourg? O que aproxima J.K. Rowling, Charles Darwin e Roger Federer, ou ainda Winston Churchill, Thomas Edison e a cantora Barbara?", pergunta  Pépin na introdução do seu best-seller, já vendido para 14 países. 

O autor responde em seguida: "Todos conheceram sucessos estrondosos, mas não só isso. Eles fracassaram antes de vencer. Melhor ainda: foi pelo fato de terem fracassado que conseguiram vencer".

Partindo de diversos pensadores, como Hegel, Freud, Sartre, Nietzsche, Kant e Lacan, e também das experiências de personalidades de vários setores, Charles Pépin alinha a história da filosofia a casos reais para fazer uma crítica ao atual culto ao sucesso e uma defesa apaixonada da ousadia, da resiliência e da originalidade.

O pensamento do filósofo não é um estímulo à mediocridade e, tampouco, ele quer dizer que todos os fracassos são positivos. O importante é reconhecer que a frustração por um objetivo não alcançado é parte intrínseca das nossas vidas, nossas angústias (e vitórias). "Há fracassos que acarretam um fortalecimento da vontade, outros que resultam em seu afrouxamento; há fracassos que nos dão força para perseverar no mesmo caminho, e os que nos oferecem o impulso para transformá-lo. Há os fracassos que nos tornam combativos, os que nos tornam mais sábios, e há também os que nos tornam simplesmente disponíveis para outra coisa", afirma na página 11.

As Virtudes do Fracasso pode ser visto como uma obra de autoajuda diferente, que foge do óbvio. Contra qualquer preconceito literário, porém, não custa lembrar que a questão da autoconfiança chegou a ser abordada indiretamente por mestres como Sartre e Nietzsche, e que Pépin - professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris - tem uma sólida formação intelectual. 

Acho até que o professor Merlí (Francesc Orella), da ótima série homônima da Netflix, recomendaria o livro de Charles Pépin para os seus queridos peripatéticos do Instituto Angel Guimera, em Barcelona.

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SUCESSO DA NETFLIX, SÉRIE 'MERLÍ' FILOSOFA PARA A GERAÇÃO 2000 Falada no idioma catalão e ambientada em Barcelona, na Espanha, Merlí é uma pérola da Netflix e a sua última e terceira temporada estreou em fevereiro. Cada episódio da série é inspirado por um pensador ou uma corrente filosófica, com Merlí (Francesc Orella) e os  alunos do Instituto Angel Guimera discutindo ideias e vivendo conflitos da fase teen (sexualidade, namoros, drogas, etc) além da vida pessoal dos professores e pais.

Veja um trailer (não legendado) da primeira temporada de Merlí

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O IMPERADOR FILÓSOFO No livro Marco Aurélio - O Imperador Filósofo (Zahar | 376 páginas | R$ 79,90), o grande historiador francês Pierre Grimal (1912-1996) explica porque Marco Aurélio foi o mais humano, o mais sábio e o mais justo dos imperadores de Roma. Autor da lendária obra Meditações, que são reflexões inspiradas pela estoicismo, Marco Aurélio ensina muito sobre as relações entre ética, poder  e prática política.