Flávia Azevedo: As tetas são inocentes!

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 24 de março de 2017 às 17:04

- Atualizado há um ano

Amamentei meu filho, até quatro anos e meio, em tudo que foi lugar, sem paninho, sem sutiã e sem vergonha. Eu explodia de orgulho, pra falar a verdade. Ganhei fama de “louca do peito” ou, como diz meu amigo Gil, “representante da vanguarda do peito de longa performance”, a depender do olhar. Gosto do título engraçado de “musa láctea” (obrigada, Carlinha!), que recebi de uma outra amiga.

Assim, com os peitos cheios de leite - e meu filho pendurado neles-, vivi alguns dos melhores anos da minha vida. Por causa dessa “fama” (maravilhosa pra uns, ridícula pra outros), às vezes sou procurada por mulheres com dificuldades na amamentação prolongada. Pra conversar, pra ouvir e contar histórias, uma espécie de consultoria afetuosa, um “dar uma força” pra quem já anda de saco cheio dos dedos em riste de quem se incomoda.

Em geral, são bebês por volta dos seis meses (apegadíssimos às tetas) e mães encantadas com aquele vínculo delicioso. Uma dupla insuportavelmente feliz que passa a sofrer pressão para que sequem (“porque já chega”!) o amor líquido e docinho que nutre tanta coisa. Nesses casos, o inferno é mesmo o outro.

Não adiantam todas as pesquisas, não adianta a OMS (Organização Mundial de Saúde) sugerir amamentação até dois anos OU MAIS, não adianta feminismo, mamaço na frente do shopping. Não adianta nada. As mulheres com seus bebês e tetas cheias de leite continuam na mira de gente com artilharia pesada. Uma delícia que incomoda, provoca, desperta sentimentos que variam da inveja ao nojo, passando por questões sexuais de observadores que transformam desejo em ódio.

Gente que não sabe o que fazer com aquela que é das imagens mais enternecedoras da natureza. Gente que não suporta o poder e o prazer femininos tão explícitos na amamentação. Nunca desmamei meu filho. Ele decidiu desmamar.

Não acho que as mulheres são obrigadas a amamentar e entendo que há muitas dificuldades nesse processo. Não acho que somos obrigadas a nada. Não acho que uma mãe é melhor ou pior porque deu ou não o peito. Isso não é da minha conta. São tantas as batalhas da maternidade que não ouso sugerir uma cartilha. A minha só serve pra mim. Às outras mães, apenas o meu respeito e solidariedade.

Mas há as (muitas) mulheres que podem, querem e gostam de amamentar prolongadamente e são importunadas, incomodadas. Que viram tema de papinhos irônicos nos encontros familiares, que são vistas como pessoas que estão fazendo algo errado, prejudicial e maluco.

A amamentação não diz respeito a ninguém além da mãe, da cria e quem mais eles escolherem incluir. Eu não acho que você tem que achar que está “certo” pra respeitar e deixar em paz. Ela não te perguntou. O que acho é que não é da conta de ninguém.

O que acho é que continuamos muito babacas quando ficamos incomodados ao ver peitos exercerem uma função além de seduzir machos. Só falto morrer de pena quando escuto uma mulher dizer que vai desmamar o filho pro peito “voltar a ser do marido”.

Me arrepio toda de agonia quando escuto o discurso de que mulher amamentando não tem tesão. Só falto tirar a blusa quando alguém diz que amamentação estraga os peitos. Só acho que continuamos perseguindo a beleza e deixando que passem, livres, os nossos algozes. As tetas são inocentes!

Flavia Azevedo é produtora e mãe de Leo