Flavia Azevedo: Feminina não, feminista

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 21 de abril de 2017 às 17:21

- Atualizado há um ano

“Eu não sou feminista, sou feminina”. Toda vez que essa frase é pronunciada, Simone de Beauvoir volta pro fim da fila da reencarnação, lá no além. E eu fico aqui pensando no que faz com que alguém diga um negócio que faz tanto sentido quanto “eu não sou arquiteta, gosto de torresmo”. Tá difícil. Mas, eu não desisto de você, querida.

Venho, por meio deste, tentar deixar as coisas um pouco mais claras nessa cabecinha dominada por clichês do tipo “feminista é tudo sapatão do sovaco cabeludo que tem raiva de homem e odeia pinto”. Preste bem atenção: tem as gays, as que não curtem se depilar, as que de fato tem raiva de homem e as que vivem muito bem sem interação alguma com pênis.

É que essas pessoas são elementos de um conjunto chamado “mulheres”(A) e pertencem, simultaneamente, a vários subconjuntos, inclusive aos de nomes “feministas”(B) e “machistas”(C). B e C estão contidos em A. Visualizou?

Exemplo: há mulheres que não se depilam por motivo religioso. Por esse mesmo motivo, frequentemente vivem num padrão de comportamento machista. Essas mulheres, então, pertencem ao conjunto “mulheres” e, ao mesmo tempo, ao subconjunto “machistas”. Ou seja, existem mulheres do sovaco cabeludo que são machistas. Conclusão é que, se você não quer fazer parte de um grupo onde existam mulheres do sovaco cabeludo, por exemplo, só tem uma solução: deixar de ser mulher.

Se você não cogita isso, esqueça os sovacos das outras. Considerando que você permanece mulher, fará, necessariamente, parte de outros subconjuntos. Entre uma infinidade deles, continuam lá o subconjunto “feministas” e o subconjunto “machistas”.

O seu pertencimento a um ou outro subconjunto, depende, exclusivamente, de como você responde a uma única pergunta: mulheres são seres inferiores aos homens e devem ser dominadas por eles?

Se responder SIM, estará automaticamente do grupo “machistas” (e uma lagriminha escorrerá dos meus olhos borrando o meu delineador).

Se responder  NÃO, seja bem vinda ao subconjunto “feministas” com feminilidade, com tudo! Traga suas roupas cor de rosa, seus saltos e maquiagens, se for esse o seu jeitinho. Tem problema nenhum.

Você pode ser gay, hetero, depilada, cabeluda, pode até ter essas sobrancelhas da Nike que estão super na moda (e nem precisa me dar qualquer explicação sobre elas). E namorados, muitos namorados, se for hetero e desejar assim. Ou ser virgem. Pode ser dona de casa, porque gosta desse modo, e esperar seu marido toda noite com o jantar pronto e o escalda pés, se essa for a sua escolha. A SUA, entendeu?

Porque, ao responder a pergunta que fiz acima com um NÃO, você concordou que não acha bacana ser obrigada, abusada, subjugada, dominada, agredida, morta e/ou estuprada por ser mulher. Você concordou que não deve ter dono, e que, ainda que sejamos tão diferentes, homens, mulheres e pessoas de todos outros gêneros devem ter direitos exatamente iguais.

Porque hierarquia motivada por gênero é uma das coisas mais perversas que a humanidade já inventou e você não concorda que as coisas continuem assim. Então, reflita. Pense bem direitinho e, na próxima vez em que a maldita frase “eu não sou feminista, sou feminina” tentar sair da sua boca pintada de batom, lembre de outra, muito mais esperta e que diz uma coisa na qual você nunca havia pensado: “feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente”. É só isso. E eu sei que você entendeu.