'Foi uma execução', diz promotor sobre morte de empresário por PMs

Policias afirmaram que ação 'foi um engano'

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 15:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

A ação policial que resultou na morte do empresário espanhol Márcio Perez Santana, 41 anos, ocorrida na quarta-feira (19), no bairro de Armação, em Salvador, foi classificada nesta terça-feira (25) pelo promotor Davi Gallo como uma execução.

 “Um tiro na nuca? Alguém atirou em direção a alguém e acabou matando. Foi uma execução”, declarou um dos representantes do Ministério Público da Bahia (MP-BA) designado para o caso ao lado do também promotor Luciano Assis. Dois PMs foram afastados das atividades ostensivas. 

Gallo informou ao CORREIO que aguarda o envio do depoimento dos policiais feito no Corregedoria da Polícia Militar, instituição que está à frente das investigações, mas já adiantou que as circunstâncias são fortes de uma execução.

“Ao meu ver, trata-se de homicídio qualificado pela impossibilidade de defesa, tanto que ele (Márcio) corre com o carro, acreditando que se tratava de um assalto, já que a viatura estava com o giroflex e os faróis desligados. A perícia deverá confirmar tudo isso”, declarou o promotor.  Márcio Perez morto por policiais militares em Armação (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO)

Além das perícias no local da cena do crime, do carro da vítima e na arma dos policiais, o MP-BA vai requerer ao Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que também apura as circunstâncias do fato, uma reconstituição, já que a versão dos policiais é diferente da relatada por testemunhas. Segundo os moradores, Márcio estava estacionando o carro na porta de sua casa quando a viatura se aproximou, com faróis e giroflex apagados, e teria ficado com medo de ser assaltado e arrastou com o carro, sendo perseguido e baleado na nuca.

“Se faz necessário (reconstituição) para se juntar a outras perícias para então de fato esclarecer o que realmente aconteceu naquela noite. A simulação dos fatos ainda não tem data, mas acredito que não irá demorar”, disse Gallo. A solicitação ficará à cargo do também promotor do caso Luciano Assis.

Gallo disse ainda que a único depoimento que teve acesso até agora foi o da mulher que estava no banco do carona do carro de Márcio. Segundo o promotor, ela contou que os dois saíram para comer um temaki. “Eles eram amigos e em Armação foram surpreendidos pelos tiros”, declarou.

Ainda de acordo com o promotor, questionada sobre o fato do motivo que levou os policiais a atirarem contra o carro do empresário, a mulher disse que não sabia. “Que não entendeu o porquê dos tiros, que não conhecia nenhum policial, que não tem conhecimento da amizade de pessoas próximas com alguém da polícia”, disse o promotor, que pretende interrogar a mulher.

Registro A TV Bahia e o CORREIO tiveram acesso ao registro feito pelos militares após o assassinato, onde eles explicam o que aconteceu naquela noite. Segundo o registro, os PMs foram abordados por pessoas próximo ao antigo Centro de Convenções, por volta das 23h. Elas contaram que homens em um carro branco, modelo Fiat Palio, estavam realizando assaltos na região. Os policiais teriam identificado um veículo suspeito alguns metros à frente e ligaram a sirene da viatura, pedindo que o motorista parasse.

Ainda segundo o relato dos militares, quando os homens no veículo perceberam a presença dos policiais atiraram contra a viatura e tentaram fugir, o que deu início a uma perseguição com tiroteio. Os policiais contaram que o carro de Márcio surgiu no meio da confusão, em alta velocidade e colidiu no canteiro central.  O caso foi registrado na 9ª Delegacia (Boca do Rio).  O corpo do empresário, que foi enterrado nesta terça-feira (25) na Espanha. 

Perseguição Nesta segunda-feira (24), o advogado Alcindo Anunciação Júnior, que representa a família de Márcio, conversou com a TV Bahia e disse que a versão da mulher que estava com o empresário no momento do crime é a mesma das testemunhas que presenciaram a ação.

“A versão apresentada (pela mulher) é de que eles chegaram em casa, pararam o carro, e que um outro carro parou logo atrás, só com os faróis ligados, sem giroflex (sirene). Eles ouviram os gritos ‘sai, sai, sai’. Márcio Perez pensou que fosse uma ação de bandidos e saiu com o carro. Foi quando começaram os tiros”, contou o advogado.

Durante a perseguição, o carro de Márcio subiu o meio-fio e bateu em uma árvore. Foi nesse momento que a mulher percebeu que Márcio Perez estava baleado. O advogado disse que também teve acesso a versão apresentada pelos policiais e que as duas histórias estão sendo apuradas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e pela Corregedoria da PM.

Espanha Márcio Perez era formado em Economia e sócio de uma empresa que presta consultoria a uma operadora de telefonia. Ele tinha duas filhas - uma completou 9 anos no dia 18 e, por isso, uma festa de aniversário estava programada para domingo (23).

De acordo com vizinhos do empresário, ele morava no mesmo lugar - o 2º andar de uma casa na Rua Gáspar da Silva Cunha - há 40 anos. “Ele chegou [para morar na casa] com 1  ano de nascido e pretendia ir para Espanha, onde estão os pais. Ele era filho único”, disse uma vizinha, que não quis se identificar. Assim como outros moradores, ela disse que ouviu os tiros pouco depois das 23h.

Em relação à mulher que estava no banco de carona do carro, os vizinhos disseram que não a conheciam. “Nunca a vi com ele. Sabemos que ele tem uma ex-mulher e dois filhos. O parente mais próximo é um primo que morava aqui em Salvador”, disse outra vizinha.

Em entrevista à TV Bahia, a ex-mulher de Márcio, que não teve o nome divulgado, disse que ele pretendia levar as filhas para passar as férias na Espanha. Este final de semana, ele ficaria com as meninas: “Ele era um paizão, uma pessoa supertranquila. Foi a pior coisa que eu já fiz na minha vida, foi dar essa notícia pras minhas filhas”.