Foliões defendem sobrevivência dos blocos

Camaleão e Largadinho mostram que nem a força da pipoca é capaz de baixar todas as cordas no Carnaval

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  • Fernanda Santana

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 02:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Muitas cordas podem até baixar, mas há foliões que só querem brincar dentro delas. A força da pipoca no Carnaval de Salvador não impediu que os blocos desfilassem nos circuitos e mantivessem a tradição dos abadás na folia. A passagem do Camaleão, comandado nesta terça-feira (13) por Bell Marques, no circuito Dodô, foi uma amostra disso.

E os motivos para continuar fiel ao bloco, que completa 40 carnavais este ano como um dos mais tradicionais da festa, são variados. Há 26 anos, o contador Roberto Seixas, 64, sai no Camaleão. A razão para permanecer na parte cercada por cordas, segundo contou, é "a ideia de que está seguro". "Pode até não ser nada disso. Mas a gente fica com uma ideia de privacidade, de segurança", diz. Das mortalhas ao abadá, ele guarda mais de 150 fardas carnavalescas. Nos 40 anos do Camaleão, o cantor Bell Marques continua atraindo uma legião de fãs (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A preservação da memória também é outra justificativa. "É uma lembrança para os meus netos, para que eles possam ver parte da minha história no carnaval. No caso, a maioria foi vivida no Camaleão e com Bell", conta, aos risos.

Guardar as memórias da folia também faz o psicólogo Antônio Augusto, 36, escolher o Camaleão todos os anos. O custo por um abadá guardado como lembrança não sai por menos de R$ 790. Nem o preço, no entanto, afasta os foliões mais empenhados. "Tenho mais de 300 abadás. Porque não guardo só os abadás do carnaval, mas de micaretas. É uma vida guardada em um só lugar", revela. 

Pelo sexto ano consecutivo, a paraense Valberlene Gomes, 26, vem ao carnaval para seguir o Camaleão. Para fazer valer as dificuldades de vir a Salvador, ela prefere o bloco não só pela “estrutura que deixa os foliões mais seguros”, como pela possibilidade de “levar o abadá para casa como uma lembrança da folia”. Entre uma das justificativas para a manutenção dos blocos está o acolhimento, principalmente do público LGBT (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Liberdade 

Comandado no último dia da folia por Claudia Leitte, outro bloco que afasta qualquer hipótese de término é o Largadinho. Para Neto Belarmino, 27,  é o preconceito que empurra os foliões para o bloco, em sua maioria, homens gays. Das ruas da Barra até o circuito, a homofobia só acaba quando ele entra na parte protegida pelas cordas. “No caminho até aqui, é ‘brincadeirinha’ de tudo que é tipo. Entrar aqui e saber que a maioria é homessexual é um alívio”, conta.

Como ele, outros foliões foram ao Largadinho, e vão a outros blocos direcionados ao público LGBT, se sentem mais acolhidos. “Ainda temos esse problema triste da homofobia. E, aqui, nos sentimos mais seguros, livres", compartilha o engenheiro Fábio Andrade, 30.  Cláudia Leitte trouxe a dupla Maiara e Maraísa como convidadas (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Mas, o bloco também precisou investir para vender. Os tradicionais abadás, por exemplo, foram substituídos por um uniforme de basquete branco e vermelho. Para João Barbosa, 28,  a inovação fez toda a diferença. “Usar um abadá bonito, estilizado desse, é diferente, e faz a gente ter vontade de vir”, diz ele, que saiu de Aracaju só para acompanhar a cantora.

Cláudia Leitte, inclusive, foi citada pelos foliões como outro atrativo do bloco. Logo no início da passagem pela Barra, ela surpreendeu os foliões ao aparecer dentro de uma carreta em formato de bola de basquete, de onde cantou “Claudinha Bagunceira”. Vestida de branco com trasparência e decote, ela recebeu como convidadasno trio,  as irmãs Maiara e Maraísa, com quem cantou o hit “Lacradora”. Juntas, elas ainda cantaram “Corda do Caranguejo” e balançaram o bloco, sem espaço do começo ao fim dos limites da corda.