Foliões questionam horário de desfile dos blocos afros na Avenida

No último dia de Carnaval, desfiles estavam previstos para as 18h, mas o Ilê só conseguiu sair depois das 20h

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  • Priscila Natividade

Publicado em 6 de março de 2019 às 00:54

- Atualizado há um ano

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A professora Taíse Assis (no meio) e a chefe de cozinha Ivone da Cruz são apaixonadas pelo Ilê por Foto: Priscila Natividade/ CORREIO

No último dia de Carnaval, os blocos afros fecharam a noite no Circuito do Campo Grande. Depois das 20h, tradição e musicalidade se misturam a coisa linda que é o ver o desfile de blocos como Muzenza, Filhos do Congo e o Ilê Ayê.  Mesmo com o Circuito Barra Ondina fervendo na contagem regressiva para a folia terminar, teve gente que não abriu mão do batuque que só o bloco afro tem. 

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“Eu não troco o Ilê por nada. A cultura afro conquistou esse espaço e isso tem que ser mostrado”, destaca a chefe de cozinha Ivone da Cruz, de 39 anos, que desfila no Ilê há 10 Carnavais. 

“Eu nunca vou esquecer um negão lindo que eu conheci no Ilê. Até hoje estamos aqui”. O Bloco que comemora 45 anos também mora no coração da professora Taíse Assis, de 50 anos: “O Ilê é o mais belo dos belos. É o melhor. Todo ano, o que a gente vive aqui é uma emoção”.

Os foliões, no entanto, pedem para que blocos afros ocupem a passarela durante o dia e não sejam os últimos da fila na programação do Carnaval. É o que questiona a cozinheira Maria Reis, de 51 anos. O desfile do bloco marcado para às 18h30 só começou depois das 20h30. 

“Desfilo todo ano no Ilê, mas é uma beleza que não pode ser vista só de noite. Todo ano questionamos isso. Precisamos ser vistos também durante o dia. Se é tão bonito de se ver porque sai tão tarde?”, reclama. 

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‘Me deixe a vontade’

A mesma queixa é levantada pela merendeira Leila Cardoso, de 55 anos, que aguardava desde às 18h, pelo desfile dos Filhos do Congo. “É a minha origem, o nosso axé. Os blocos afros devem estar cada vez mais presentes no Carnaval é a nossa raiz e isso precisa sim ser visto”. 

Ainda na espera dos Filhos do Congo, a técnica de enfermagem Celeste Silva, de 62 anos, concorda: “Não podemos ser sempre os últimos. É mais que Carnaval, é cultura tradição e religião e tudo isso é muito importante”, defende. 

Seja de dia ou de noite, a energia e as cores dos blocos afros tem mesmo muita coisa para mostrar. Para a psicóloga Elidiane Queiroz, de 32 anos, as entidades são símbolos de resistência e defesa da cultura negra. “Antigamente os negros não podiam curtir o Carnaval na Avenida e o Ilê veio para mudar isso. Não dá para explicar a emoção de sair no Ilê. Aqui a gente mostra que hoje o negro tem sim importância”. 

A cobertura do Correio Folia conta com o apoio institucional da Prefeitura de Salvador.