'Foram muitos tiros, acordamos em pânico', diz vizinho de empresário morto por PMs

Márcio Perez, 41 anos, foi baleado na nuca durante perseguição em Armação

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  • Bruno Wendel

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 16:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Empresário do ramo de consultoria, Márcio Perez Santana, 41 anos, morto durante perseguição policial na Orla de Armação, morava no segundo andar de uma casa na Rua Gáspar da Silva Cunha, no mesmo bairro, há 40 anos. 

Ele estava chegando em casa, acompanhado de uma mulher, quando acabou surpreendido por PMs a bordo de uma viatura da 58ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Cosme de Farias), que estava com os faróis e giroflex desligados, segundo relatos de testemunhas ouvidas pelo CORREIO. Durante a perseguição, ele acabou atingido na nuca por um tiro.

"Ele chegou [para morar na casa] com um ano de nascido e pretendia ir para Espanha, onde estão os pais. Ele era filho único", disse uma vizinha de Márcio que não quis se identificar. Ela e outros moradores da rua relataram que ouviram os disparos. "Foram muitos tiros. Acordamos em pânico", declarou um senhor. Os tiros foram ouvidos pouco depois das 23h de quarta-feira (19).

Márcio era formado em economia e sócio de uma empresa que presta consultoria a uma operadora de telefonia. Ele deixa duas filhas - uma delas de 9 anos que fez aniversário na última terça-feira (18) e uma festa estava programada para domingo (23). O corpo do empresário já foi liberado do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLN) e aguarda em uma funerária a documentação necessária para o translado até a Espanha, onde Márcio vai ser enterrado.  Márcio deixa duas filhas (Foto: Reprodução) Em relação à mulher que estava no banco de carona do carro de Márcio, eles disseram que não a conheciam. "Nunca a vi com ele. Sabemos que ele tem uma ex-mulher e dois filhos. O parente mais próximo é um primo que morava aqui Salvador", comentou outra vizinha.

A mulher que estava no carro de Márcio foi ouvida na Corregedoria da PM - onde chegou por volta das 8h30. Ela chorava e estava acompanhada de um rapaz, que seria sócio de Márcio na empresa que presta serviço à uma empresa de telefonia. Os dois não quiseram falar com a imprensa. 

O depoimento dela durou pouco mais de quatro horas. Os dois deixaram o prédio da corregedoria, na Pituba, em um carro preto sedã de vidros escuros. 

Apuração A Secretaria da Segurança Pública determinou, na tarde desta quinta-feira (20), que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apure em conjunto com a Corregedoria da Polícia Militar a morte de Márcio.

"Vamos investigar com celeridade e esclarecer como o fato ocorreu", afirmou, em nota, o secretário da Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa. 

O delegado Líbio Braga do DHPP acompanhou, na manhã de hoje, o trabalho no levantamento de informações na cena de crime.  "O fato ocorreu ontem, vim acompanhar os trabalhos feitos aqui, a pedido do diretor do departamento", declarou o delegado.

Questionado sobre as circunstâncias do crime, Braga respondeu: "Até agora, o que sabemos é que houve uma perseguição seguida de um homem morto". 

O delegado disse que duas viaturas da PM participaram da perseguição ao Fiat Palio conduzido pela vítima. Segundo o delegado, a PM solicitou perícia ao Departamento de Polícia Técnica (DPT).

"Foram coletadas imagens das câmeras do posto, mas não estão em boa qualidade. Mas acredito que serão coletadas também imagens da farmácia que fica ao lado do posto e de estabelecimentos que estão localizados no trajeto da perseguição", declarou.

Ainda de acordo com o delegado, a vítima foi socorrida para o posto de saúde no Marback pelos próprios policiais que atiraram no veículo.

Perseguição De acordo com testemunhas, Márcio foi baleado próximo de casa, pouco depois das 23h. Ele manobrava o carro para estacionar, quando foi surpreendido por uma viatura da 58ª CIPM que estava com os faróis e giroflex desligados. 

Ele então acelerou o carro e foi perseguido - os PMs, na sequência, teriam atirado. Baleado, Márcio ainda conseguiu dirigir o carro por alguns metros, mas acabou invadindo o canteiro central na Avenida Simon Bolivar, entre um posto de combustível BR e escola municipal Luiza Mahim. 

Até às 11h desta quinta-feira (20), o veículo ainda estava no local. Pelo menos três marcas de tiros podiam ser vistas a olho nu - todas na direção do motorista: uma no para-choque traseiro, outra próximo ao cinto de segurança traseiro e mais uma no encosto de cabeça do banco traseiro, provavelmente resultado do trajeto do projétil que atingiu a nuca da vítima. 

Além das perfurações, o vidro traseiro estava quebrado e havia vestígios de sangue na lataria e parte interna do carro. Os pais de Márcio moram na Espanha e devem chegar nesta sexta-feira (21) em Salvador.