Fórum discute competitividade no Polo Industrial de Camaçari

Fórum discutiu perspectivas de crescimento para o empreendimento, que completou 40 anos em junho e responde por 20% do PIB da Bahia

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  • Gil Santos

Publicado em 6 de julho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

A competitividade é vital para a sobrevivência das mais de 90 empresas do Polo Industrial de Camaçari e ela está sendo ameaçada por deficiência em infraestrutura, logística e por questões fiscais ligadas à produção. Nesta quinta-feira (5), o tema e as oportunidades de crescimento para o empreendimento foram debatidos no Fórum na Cidade do Saber, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS)

Aniversariante, o Polo completou 40 anos em junho com o sonho de alcançar a maturidade e melhoria na competitividade. No debate, representantes da indústria reforçaram que é preciso repensar algumas ações para garantir o crescimento pelas próximas quatro décadas.

O diretor de Desenvolvimento de Produto da Ford para a América do Sul, Alexandre Machado, contou que apenas 15% dos carros que são produzidos pela unidade da empresa na Bahia são vendidos no Nordeste. Para ele, a logística é uma parte fundamental do processo que precisa de mais atenção das autoridades.

Ele contou que a fábrica de Camaçari é uma das seis do planeta que produzem o Ford Ecosport, mas que na Bahia os custos para retirar os carros da unidade e levá-los até os pontos de venda são mais caros que nas outras cinco produtoras. Temas como inovação e competitividade foram debatidos em fórum nesta quinta-feira (5), em Camaçari (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “A estrutura logística do Polo Industrial precisa ser repensada, precisa de evolução. Em países de baixo custo de produção usa-se muito trens e navios. Na Bahia, não usamos ou usamos muito pouco esses modais. Temos que buscar alternativas de logística para continuar a eficiência. Nossos custos logísticos são mais altos que o das outras plantas que produzem o mesmo veículo, por exemplo”, disse.

A Ford Bahia tem cerca de 8 mil funcionários, diretos e indiretos, e produz entre 250 mil e 300 mil carros todos os anos. Deste total, 85% são encaminhados para as outras regiões do país, em distâncias que podem superar os 3 mil quilômetros.

Indispensável Para o presidente do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) e vice-presidente da Braskem, Marcelo Cerqueira, além da logística, é preciso repensar os custos com a produção. Ele acredita que a indústria petroquímica está em um bom momento no mundo, mas que a produção brasileira necessita de mais incentivos.“A indústria química e petroquímica está com boas perspectivas em nível global. Um crescimento importante vai acontecer nos próximos anos. No Brasil, a gente tem o desafio dos custos de matéria prima e energia, além da insegurança do ponto de vista de regulação. Esses são os principais obstáculos que precisamos superar para criar condições e atrair novos investimentos”, disse Cerqueira.Até o final de julho o Senai Cimatec deve divulgar um estudo sobre as ameaças e oportunidades do Polo Industrial de Camaçari. O levantamento foi feito a pedido do Cofic para identificar as potencialidades do empreendimento. Apesar do cenário, as perspectivas dele em relação ao empreendimento são positivas.

Cerqueira acredita que se for dada a atenção necessária aos desafios será possível fazer a expansão e o fortalecimento das cadeias existentes, atrair novos investimentos, tecnologia e inovação, além de gerar mais postos de trabalho e de renda ao longo dos próximos 40 anos do Polo.

O presidente do Cofic identificou como oportunidades para alcançar os objetivos o aumento na interação entre as empresas do Polo, a implantação de novos projetos e na conexão com outros estados do nordeste, além dos investimentos necessários em logística e infraestrutura.

Palestras Já o diretor de Tecnologia e Inovação do Senai, Leone Andrade, apresentou um estudo da Cadeia Petroquímica na Bahia. Ele também afirmou que existe uma dependência do Polo Industrial de Camaçari por apenas um modal de escoamento da produção.“Percebemos que há uma alta concentração no modal rodoviário, e uma limitação em relação ao ferroviário e hidroviário, provocada pela saturação do Porto de Aratu e por problemas na infraestrutura”, disse Andrade.O gerente executivo de Políticas Econômicas da CNI, Flávio Castelo Branco, também participou do evento e destacou os desafios da competitividade para as indústrias no Brasil. O vice-prefeito de Camaçari, José Tude (DEM), e a prefeita de Dias D’Ávila, Jussara Márcia (PT), também marcaram presença.

O Polo Industrial de Camaçari foi inaugurado em 29 de junho de 1978, com cerca de 40 empresas. Hoje, 40 anos depois, são mais de 90 unidades instaladas, empregando 45 mil trabalhadores, 15 deles diretos e 30 mil indiretos, em diversos segmentos.

O empreendimento é responsável por mais de 20% do Produto Interno Bruto da Bahia (PIB) e gera R$ 1 bilhão por ano em arrecadação de Imposto sobre Mercadorias e Serviços (ICMS) para o estado. O faturamento anual do Polo é de US$ 15 bilhões.

Porto e ferrovias Um dos pontos mais criticados pelos palestrantes durante o fórum sobre competitividade do Polo Industrial de Camaçari foi o Porto de Aratu. Em junho, o superintendente geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), Mauro Pereira, contou ao CORREIO que, em 2017, o complexo perdeu pelo menos R$ 86 milhões com o pagamento de estadias de navios internacionais no Porto de Aratu.

O superintendente de Atração e Desenvolvimento de Negócios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), Paulo Guimarães, informou durante o fórum que o governo está discutindo a ampliação da capacidade do Porto de Aratu.

A ideia é que o projeto de reforma seja realizado em parceria com a iniciativa privada, mas que o processo é lento por contas das licenças e liberações de outros setores, como a Marinha e órgãos ambientais.“Teremos uma área grande para contêineres, para líquidos e gases. O governo terá uma pequena participação nesse projeto para garantir o acesso de todos, mas, como tudo que diz respeito a área portuária, existe uma lentidão na resolução das questões ambientais porque envolve também área de Marinha. A gente espera que desse ano para o próximo possa ter alguma novidade nesse sentido”, disse Guimarães.Sobre a malha ferroviária, ele disse que existe uma perspectiva de se refazer uma concessão para ferrovia na Bahia, além de estudos que já estão em andamento sobre novas linhas.  

Ele também falou sobre o investimento de R$ 170 milhões na ampliação do Porto de Salvador, que não atende diretamente ao Polo Industrial de Camaçari, mas é o de maior movimentação de carga de exportação e importação do país.