Futebol completa um ano sem torcida nos estádios brasileiros

Público foi impedido de assistir aos jogos in loco por causa da pandemia

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  • Da Redação

Publicado em 15 de março de 2021 às 05:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas / Arquivo CORREIO

No dia 16 de março de 2020, o CORREIO trazia como manchete em sua versão impressa “Cancelados: CBF suspende todas as competições, e jogo entre Vitória e Ceará é adiado”. Era a repercussão da notícia mais importante daquele final de semana, seguindo o que já havia ocorrido em outros países por causa da pandemia da covid-19. Hoje, 15 de março de 2021, as competições não estão mais suspensas - foram retomadas em julho. Só que falta uma parte crucial. Há exatamente um ano, não há torcidas nos estádios brasileiros.

A capa daquela edição trouxe um dos últimos registros de torcida no estado. Era a arquibancada do Barradão, onde o Vitória havia goleado o River por 4x1 pelo Nordestão. Foi o último duelo em Salvador. O último gol comemorado com os torcedores foi o de Alisson Farias, às 17h07.

Por coincidência do calendário, o Vitória também jogou naquele dia em Riachão do Jacuípe, onde perdeu por 1x0 para Jacuipense com seu time sub-23, que disputava o Campeonato Baiano. Como esta partida começou 30 minutos mais tarde que a no Barradão, a rigor foi a última com torcedor em toda a Bahia.

Naquele domingo, a CBF tomou a frente e adiou jogos das suas competições – em especial a Copa do Brasil, pela qual o Vitória enfrentaria o Ceará. Como efeito dominó, o Baiano e a Copa do Nordeste também anunciaram paralisações nos dias seguintes. 

Os portões fechados para evitar aglomerações têm como consequência um grave prejuízo aos clubes. Esses 12 meses causaram a perda de R$ 450 milhões só em bilheteria para os 34 principais times brasileiros, segundo estudo feito pela Pluri Consultoria. O mesmo levantamento indica que, de março de 2020 até agora, a falta de jogos com torcida causou R$ 330 milhões de impacto entre receitas originárias de sócios e ações de marketing.

Por aqui, Bahia e Vitória ainda não divulgaram o balanço financeiro de 2020 – têm até o final de abril para fazê-lo –, mas o aperto financeiro pode ser notado nas propostas de orçamento para 2021. Após anos seguidos em crescimento, a diretoria tricolor apresentou ao Conselho Deliberativo uma proposta de arrecadação de R$ 171 milhões, 5% a menos do que o projetado (e provavelmente não executado) ano passado.

De acordo com o que foi orçado para 2020, o Bahia esperava arrecadar R$ 1,6 milhão por mês de bilheteria. Só teve essa receita em fevereiro, já que janeiro e março foram cortado pelo meio - pelas férias e pela pandemia.

Já o Conselho rubro-negro aprovou arrocho ainda maior. A proposta da diretoria, de R$ 48 milhões, foi recusada e no lugar os conselheiros aprovaram R$ 35 milhões. Redução de 33% em relação aos R$ 52 milhões que foram projetados em 2020. Nova reunião está programada para abril para avaliar se ajustes serão necessários.

Em 2019, as receitas com dias de jogos fizeram os 20 principais times brasileiros arrecadar R$ 950 milhões, segundo levantamento feito pela consultoria Ernst & Young. A quantia representa em média 17% do total. Porém, agora essa fonte de recurso secou e até mesmo o time mais vitorioso da última temporada, o Palmeiras, admite dificuldades. “A situação financeira é bem sensível. Perdemos ao redor de 30% das receitas em 2020. E o quadro tende a se repetir para 2021”, comentou o presidente Mauricio Galiotte. O Palmeiras fechou o ano com prejuízo de R$ 151 milhões.

Mais do que lamentar, as equipes agora procuram maneiras de minimizar as perdas. As soluções são necessárias porque o horizonte segue indefinido. A CBF defende que os portões só sejam reabertos quando a população for vacinada. “A volta do público é algo que na nossa avaliação está muito acoplado à vacinação”, disse o secretário-geral, Walter Feldmann. E nem 5% da população foi vacinada ainda (4,6%).

A final da Copa Libertadores no Maracanã, em 30 de janeiro, foi a única exceção ao longo desse período, com 5 mil pessoas no jogo entre Palmeiras e Santos. Porém, não houve venda de ingressos. A cota foi reservada para convidados dos clubes, patrocinadores, dirigentes, jornalistas e membros da Conmebol. A entidade exigiu a apresentação de testes negativos para covid-19. E houve cenas de aglomerações no estádio.