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Tem remédio? Confira dicas para resistir aos apelos das promoções e manter e a saúde financeira em dia
Priscila Natividade
Publicado em 17 de setembro de 2018 às 05:41
- Atualizado há um ano
As 50 peças de roupa no armário ainda com as etiquetas de compra denunciam que o vitrinista Davi Carvalho é daqueles que não podem passar perto de uma loja em promoção. “Coloco a roupa no corpo, internalizo na cabeça que preciso e quando eu me dou conta estou saindo com as sacolas”, admite.
Não resistir a promoções é só um dos principais motivos que levaram o consumidor a gastar mais no último ano, segundo dados apurados pela Kantar Worldpanel. Em média, três em cada dez brasileiros compram além do que previam ao ver o produto mais barato (33%). Também se somam aos cinco motivos mais relevantes o encontro de promoções que não esperavam (18%), produtos mais caros do que previam (7%), compra de itens recém-lançados (2%) e a aquisição de marcas mais caras (1%).
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Todos esses gatilhos funcionaram muito bem com Davi, que chegou a zerar a conta bancária só de promoção em promoção. O barato acabou saindo caro: “Fiz uma limpa no guarda-roupa, olhei o que tinha, o que preciso e não preciso e me segurei para não comprar mais até as contas se ajustarem”.
Atrás de promoção, a diarista Sirlete Silva é mais uma capaz de qualquer coisa. Sobretudo, se a oferta estiver no supermercado. Para comprar frango por R$ 2,99 o quilo, ela chegou a ir a pé de Pernambués a Barros Reis. “Não posso ver um encarte. Cheguei lá, comprei frango e mais um monte de coisa que estava na promoção e coloquei tudo no cartão de crédito da minha amiga, inclusive a corrida do táxi”, lembra. Sem nem gostar de miojo, ela comprou também 30 pacotes. “Cada um saía por R$ 0,23 e a Maria Promoção não aguentou. Só depois me dei conta que ninguém lá em casa gosta de miojo”.
Em outra situação, a conta de luz... Sobrou. “Fui ao supermercado só para pagar a conta de luz, mas aí anunciaram uma promoção de frango. eu não resisti - coxa de frango e filé de frango por R$ 6,99? Gastei o dinheiro da luz. Cheguei na minha casa foi um transtorno, porque eu não tinha onde colocar tanto frango e não tinha também o dinheiro pra pagar a luz e tive que pedir emprestado. Não tem jeito, se estiver barato, eu compro”.
Vantagem?
Mas o que está por trás destas decisões de compra do consumidor? Quem responde a pergunta é o professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) na área de Marketing de Varejo, Roberto Kanter. “Em um momento de crise é muito valorizado o ‘eu mereço’. Minha vida está difícil, mas eu mereço tomar uma cerveja mais cara, ou gastar com esse produto”.
Diante do consumidor com o orçamento apertado, ainda de acordo com Kanter, acaba se gastando mais por esta decisão de merecimento. “Quanto maior a vantagem, mas este estímulo irá seduzi-lo a comprar”, explica.
Outra estratégia determinante é a oferta de um produto de maior valor agregado oferecido em quantidade limitada em um curto espaço de tempo. “Isso é matador para o consumidor. Por necessidade, as decisões de compra são guiadas sempre de forma racional. Quando entra o desejo, as escolhas são emocionais”, destaca.
No entanto, outros fatores estão provocando o consumidor. Para o professor do curso Ciências Sociais e do Consumo da ESPM, Fábio Mariano Borges, em um mundo onde a tecnologia permite que as empresas conheçam mais o consumidor do que a ele próprio, novos interesses motivacionais estão surgindo e transformando a decisão de compra.
“Os discursos sobre inclusão da diversidade, empoderamento feminino e sustentabilidade são os exemplos mais atuais desses interesses”, analisa o especialista.
A abordagem vem seguindo a linha ‘responsável’, conforme defende Mariano. “Consumidores endividados consomem menos e têm um ciclo de vida menor com a marca. O Marketing de Consumo tem concluído que o melhor é ter o consumidor como um aliado por muitos anos do que estimular um consumo que pode comprometer suas finanças ou bem estar”, completa.
Sinal de alerta
O fato é que promoção é bom e todo mundo gosta. O risco, na verdade é, quando o consumo além do que se pode pagar, torna-se um vilão do orçamento financeiro. Para a educadora financeira da Dsop, Cíntia Senna, o alerta deve ser ativado quando o consumidor passa a “comprar por comprar”. “Ao não ter um planejamento, qualquer “oportunidade” que aparece é motivo para fazer uso do recurso que está disponível”, aconselha.
Eu quero? Eu preciso? Eu posso? - O conselho da planejadora financeira da GFAI, Planejamento Financeiro Pessoal, Daniela Mir, passa por estas três perguntas. “Evite levar no primeiro momento em que viu o produto. As promoções se tornam atrativas, pois geram uma necessidade de ter aquilo. Diante disso, é ser racional e ponderar sempre estas decisões”.