Gerente de loja executado é sepultado; primo baleado pode perder a perna

André Luís Silva, 32, foi morto por PM após Réveillon no Santo Antônio Além do Carmo

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  • Milena Hildete

Publicado em 2 de janeiro de 2018 às 22:20

- Atualizado há um ano

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Centenas de pessoas participam da cerimônia na Quinta dos Lázaros (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) “E agora? Quem vai me dar a benção quando eu passar na Avenida Sete?”. A frase é de Jorge Silva, pai do gerente de loja de roupas André Luís Santos Silva, 32 anos, morto pelo policial militar Sérgio Ricardo Sobral Guerreiro após a comemoração de Ano-Novo, no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador. O pai da vítima chegou ao cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa do Quintas, acompanhado de familiares e amigos, na tarde desta terça-feira (2). 

Emocionado, ele ainda tentava entender o motivo do assassinato. “Como é que tira a vida de alguém de bem? Alguém que não fez nada. Meu filho nunca mexeu com ninguém. Ele estava curtindo a festa com os amigos. Aí o cara vem e atira. Isso não é justo”, lamentou Jorge. Até agora, o pai da vítima só consegue encontrar consolo na justiça divina. “Eu sei que existe Justiça; pode não ser na dos homens, mas existe a de Deus”, falou.

Centenas de pessoas foram até a cerimônia para prestar as últimas homenagens para André. Entre elas, Daniela Silva, prima da vítima. “Ele era alegre e tranquilo. Uma pessoa boa não poderia morrer dessa maneira”, disse.

Morcego, como era conhecido, era o mais velho de quatro irmãos. Ele morava no bairro do Barbalho e deixa dois filhos, uma menina de 8 anos e um menino de 10. André foi morto a tiros na manhã do dia 1º (Foto: Reproduçao) A vítima era apaixonada pelo Olodum e, por conta disso, seus amigos finalizaram a cerimônia com o batuques dos tambores. “Apesar de não tocar, André amava o Olodum. Cantava todas as músicas”, contou um colega da vítima, que não se identificou.

A morte Após comemorar a festa de Ano-Novo, André estava com mais oito pessoas - dentre elas a ex-mulher do PM, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, próximo a Cruz dos Pascoal. De acordo com uma testemunha,  o PM teria ficado com cíumes da ex-mulher, que estaria na festa junto com as vítimas. Por conta disso, o PM teria "jogado o carro" em cima das homens. Pouco tempo depois, as vítimas começaram a jogar pedras no veículo do PM. "Só jogaram, porque ele (PM) queria colocar o carro em cima de todo mundo", contou a testemunha. 

Ainda segundo a testemunha, na sequência o policial chegou ao local atirando com duas armas: “ele foi pra matar todo mundo, mas os meninos correram. Só ficou André e Adriano, o primo. E Adriano só sobreviveu, porque as baladas acabaram, foi muito tiro”, relata.

Ainda segundo ela, o PM teria visto a ex- mulher e chamado para uma conversa. Segundo testemunhas, a ex- companheira foi embora sozinha e o policial saiu logo em seguida de carro. Instantes depois, o policial retornou ao local e desceu do carro atirando.

O  PM atirou em Adriano Santos Santana, 27 - atingido no braço esquerdo de raspão e no joelho esquerdo. Adriano foi socorrido ao Hospital Geral do Estado (HGE), onde foi submetido a uma cirurgia. Segundo familiares, o estado de saúde dele é grave - pode ter que amputadar perna.

Testemunhas relataram ainda que o policial conhecia as vítimas. "Os rapazes baleados são pessoas de bem, todos nascidos e criados aqui, no Santo Antônio, inclusive o próprio PM os conhecia. Antes de entrar na polícia, Sérgio vendia açaí no Barbalho e entregava aqui", disse um morador.

Conforme a testemunha, o acusado teria ficado com ciúmes, porque a ex-companheira teria enviado fotos na festa. “Ela também tem que pagar, porque poderia ter evitado essa situação. Agora morre uma pessoa inocente”, lamentou. Segundo ela, o PM, que mora no bairro de Macaúbas, tem dois filhos. Há informações de que eles chegaram a publicar fotos juntos nas redes sociais poucos dias antes do Natal. O PM foi preso por matar André (Foto: Milena Teixeira/Reprodução) Depois do crime No mesmo dia do crime, mas à noite, o soldado da PM  se apresentou no  Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele foi autuado e levou consigo uma pistola 9mm, que teria sido utilizada no homicídio. Um advogado o acompanhava.  Em depoimento, o policial disse que houve uma discussão com as vítimas e que estas teriam atentado contra a sua vida atirando uma pedra contra seu veículo, um EcoSport, de cor preta.

Investigadores do departamento estiveram na casa do militar onde apreenderam outra arma, uma pistola calibre 380. Tanto o veículo quanto as armas foram encaminhados para o Departamento de Polícia Técnica (DPT), onde passarão por perícia. A ex-mulher do PM,  testemunhas e vítimas do crime já foram ouvidas. O policial foi encaminhado para o Complexo da Mata Escura, onde está preso.

Afastado da polícia A Corregedoria da Polícia Militar instaurou um processo administrativo disciplinar (PAD) para apurar o envolvimento do soldado no assassinato de André e a tentativa de homicídio contra Adriano. O policial já foi afastado das atividades operacionais do Batalhão de Choque, onde é lotado.