Goleiro da Juazeirense fala pela primeira vez após caso de racismo

Deijair foi vítima de injúria racial durante partida contra Aparecidense

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 21 de maio de 2019 às 18:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Carlos Humberto / Juazeirense

A Juazeirense já perdia por 2x1 contra a Aparecidense-GO, pela terceira rodada da Série D, sábado (18), quando o atacante Jeam levou cartão vermelho. O lance gerou discussão e parte do banco da Juazeirense foi tirar satisfação com o quarto árbitro por discordar da expulsão do jogador. 

A partida ficou parada e foi aí que tudo aconteceu: um grupo de torcedores da Aparecidense começou a gritar as palavras “nego fedido, nego fedorento”. O alvo? Deijair, goleiro de 20 anos que defende o Cancão de Fogo.

A injúria não parou por aí: segundo a esposa e advogada de Deijair, Luamar Nunes, o goleiro também ouviu gritos de “macaco”, “fuleiro” e teve um copo de cerveja arremessado contra o corpo. 

Revoltado com o que sofreu, o arqueiro foi tirar satisfações com os agressores no alambrado do estádio e, por conta disso, foi expulso pelo árbitro Sílvio André Loureiro de Lima, do Mato Grosso. O árbitro relatou em súmula que puniu o goleiro com o cartão vermelho “por sair do banco de reservas da sua equipe e dirigindo-se ao alambrado, onde o mesmo chutou o alambrado e tentou agredir um torcedor caracterizado com as cores da equipe A.A. Aparecidense”. Ver essa foto no InstagramNão fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar". . A melhor resposta é o trabalho ????????. #osracistasnãopassarão #diganaoaoracismo #futebol #forcadeijair

Uma publicação compartilhada por Deijair Nunes (@goleirodeijair) em 20 de Mai, 2019 às 3:30 PDTO caso foi parar em uma delegacia no 1º Distrito da Polícia Civil de Aparecida de Goiânia (GO), que fica próximo ao estádio Anníbal Batista de Toledo. Lá, o pesadelo vivido por Deijair ganhou novos contornos. Em nota divulgada pela Juazeirense, o goleiro afirmou que o agente da polícia informou que o caso “não daria em nada, que já tinham ocorrido outros casos” e que registrar o Boletim de Ocorrência era perda de tempo. Ainda assim, o boletim foi registrado.“Não sei como vai ser tratado, mas não posso deixar isso impune. Eu já tinha visto atos de racismo pela televisão, você fica chateado, mas é diferente quando o discriminado é você”, afirma Deijair.Descontente com o suporte oferecido pela polícia goiana, a Juazeirense sugeriu que Deijair registrasse um novo boletim de ocorrência, desta vez na cidade de Juazeiro - o que aconteceu na tarde desta terça-feira (21). Por telefone, o goleiro afirmou ao CORREIO que a polícia baiana enviará um ofício para Goiás com a denúncia feita em Juazeiro. Após o envio desse material, Deijair também fará uma denúncia no Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA).“Tudo que um atleta passa para estar ali, e no seu ambiente de trabalho ser agredido com palavras assim... é  revoltante”, declara Deijair.Em nota, a Aparecidense manifestou “total repúdio a qualquer forma de preconceito, em especial ao episódio”. O clube também declarou que lamenta o que classificou como atitude isolada e infeliz de um torcedor e que não será conivente com qualquer prática preconceituosa. E afirma que tomou todas as medidas que o caso requer, identificando o agressor e encaminhando para a polícia.

Confira a nota da Aparecidense na íntegra: “A Associação Atlética Aparecidense, através de sua Diretoria, vem manifestar total repúdio a qualquer forma de preconceito, em especial ao episódio envolvendo um torcedor e um atleta do time adversário, ocorrido no final da partida entre  Aparecidense X Juazeirense, realizada no dia 18/05/2019, no Estádio Anníbal Batista de Toledo, em Aparecida de Goiânia.

A Associação Atlética Aparecidense é uma entidade esportiva, sem fins lucrativos, que mantém diversos projetos sociais junto à sociedade aparecidense, especialmente na formação de cidadãos onde é trabalhada a inclusão social, de forma integral, trabalhando intensamente conceitos de cidadania, repúdio a qualquer forma de preconceito, sejam eles de qualquer matiz, através do esporte.

Mantemos em nossas categorias de base pelo menos 140 atletas entre 13 e 20 anos, onde são trabalhados, além da prática esportiva, todos os conceitos acima relacionados e que constam inclusive de nosso Estatuto Social.

Lamentamos profundamente a atitude isolada e infeliz de um torcedor, que nada condiz com a prática e conduta da nossa Associação. Em hipótese alguma a Aparecidense será conivente com qualquer prática preconceituosa, discriminatória, excludente e ainda qualquer expressão de violência.

Neste episódio tomamos todas as medidas que o caso em especial requer: o torcedor foi identificado, o policiamento acionado e os envolvidos foram encaminhados para a Delegacia de Polícia onde foi lavrado um Boletim de Ocorrência em que os fatos foram registrados e os envolvidos selaram uma retratação mútua. As demais providências serão prontamente tomadas.

Assim a Aparecidense, lamenta o ocorrido, e manifesta seu total repúdio a qualquer manifestação de violência ou preconceito!”

*Com supervisão do subeditor Miro Palma.