Gosta de bicicleta? Entenda por que as magrelas estão em destaque

Meio de transporte cada vez mais forte, bike é aliada da saúde e socialização; conheça mais benefícios e confira dicas de boa convivência com as bicicletas

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 25 de junho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Estilo de vida ou meio de transporte para o bem-estar: a bicicleta é uma realidade cada vez mais sólida em Salvador. Duvida? Basta um breve passeio pelas ruas para perceber a companhia cada vez mais expressiva das famosas magrelas no dia a dia da cidade. Seja junto ao pescador que aproveita a brisa na volta do trabalho, ou como aliada do auxiliar de cozinha que está a caminho da Feira de São Joaquim.

A vida sobre duas rodas mudou a rotina do publicitário que estava em busca de liberdade e de cicloativistas que decidiram criar um bike- café-poético para circular por aí. “A bicicleta representa liberdade. Não preciso pagar ou ficar esperando o transporte público e consigo me deslocar em qualquer rua. Me dá agilidade, além de saúde”, destaca o artista e publicitário Bernardo Santos, 30 anos, que há três comprou uma bike para o lazer e acabou descobrindo um meio de transporte viável.

Incentivado pelos amigos, passou a ir para a faculdade de bicicleta, depois para a casa da avó, para o médico, para a natação... Usa a magrela até para resolver pendências. “Comecei a andar de bike pra tudo quanto é lado”, lembra Bernardo. “Depois disso, me senti mais disposto para as atividades cotidianas. A bike pode ser um estilo de vida, basta começar a trocar alguns hábitos de acomodação e talvez de preguiça. Por que ir para qualquer lugar de ônibus ou carro, sendo que você pode fazer um exercício?”, provoca.

A troca do velho e bom “buzu” pela bicicleta também foi uma escolha do auxiliar de cozinha Izac Rodrigues, 18, que mora no Alto das Pombas e todo dia vai trabalhar no Hospital Martagão Gesteira. Sem grana para investir na bicicleta particular, aproveita uma das 274 laranjinhas que estão em operação dentro do projeto Bike Salvador, realizado pela Prefeitura de Salvador em parceria com  a Tembici e o Itaú Unibanco. O auxiliar de cozinha Izac Rodrigues e o amigo, o sapateiro Ícaro Santos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Depois de pegar a bicicleta na estação que fica na praça do Campo Grande, Izac faz uma pausa e conta que está a caminho da Feira de São Joaquim com o amigo. “A gente vai fazer a feira, mas a compra é pequena”, diz, justificando sua escolha pela bike. “Bicicleta é sensacional! Dá aquela sensação de bem-estar, é fresquinho... Direto, eu subo a ladeira de boa, curtindo a brisa”, conta entusiasmado.

Outro que gosta de uma “brisa no rosto”, depois de passar quase dez horas no mar, é o pescador José Raimundo de Jesus, 59. Com 35 anos de pesca “nas costas”, Raimundo vai trabalhar de bicicleta todo dia e no retorno aproveita para dar uma volta na orla do Rio Vermelho e fazer valer o hábito que ultrapassa 20 anos.

De domingo a domingo a rotina se repete, o que significa cerca de quatro horas de bicicleta por dia. “Moro perto e por isso uso como meio de transporte, lazer e bem-estar. Tenho três bicicletas, essa aqui é para o trabalho”, conta, orgulhoso, apontando para a bike com o escudo do Bahia que já recebeu a terceira pintura em 20 anos e foi batizada de “tricolor de aço”. José Raimundo fez três pinturas na bike em 20 anos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Cicloativistmo Muita gente sabe que pedalar faz bem para a saúde, afinal queima calorias, melhora o sistema cardiorespiratório, fortalece os músculos e estimula a produção de serotonina e endorfina, responsáveis pela sensação de bem-estar. Além disso, não é novidade que andar de bike diminui a poluição sonora e do ar. O que nem todo mundo lembra é que a bicicleta vai além do impacto físico.

Dentro dessa proposta, surgiu o La Frida Bike Café  Poético, movimento de cicloativistas que busca incluir mulheres negras nos planos de mobilidade. “Estamos falando de bem-estar físico e mental, do prazer, poder de cura e da autonomia que a bike proporciona”, explica Lívia Suarez, 30, coordenadora geral do La Frida, que tem um espaço na Saúde e outro itinerante que serve comidas e cafés na garupa da bike. Posando ao lado de Nanda Lisboa e Luise Reis, Lívia Suarez (à direita) está à frente do La Frida Bike Café Poético (Foto: Juh Almeida/Divulgação) “Ao redor da Bike, propomos um espaço de criação e socialização”, reforça Lívia, sobre a iniciativa que acredita no uso da bicicleta como “melhoria da relação das pessoas com a cidade”. Ferramenta de empoderamento feminino, o La Frida realiza projetos como o #PretaVemDeBike, que oferece aulas gratuitas de bicicleta para mulheres negras da periferia, aos domingos, das 9h às 11h, no Campo Grande, com inscrição pelo e-mail [email protected]. Além disso, oferece palestras, oficinas de mecânica e legislação.

“Enfrentamos dificuldades: as ruas estreitas e sem ciclovia, onde pedestre, carro e bike disputam espaços; e a inacessibilidade para o ciclista da periferia. Temos uma cidade que não pensa no ciclista que utiliza a bike para transporte, mas apenas para lazer. Mas as facilidades somos nós que, mesmo com as dificuldades, estamos aí”, garante. 274 bikes estão em operação em 39 estações como a do Campo Grande (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Capital tem novas bicicletas e estações Basta olhar para os lados para ver que a paisagem urbana mudou: novas laranjinhas circulam cheias de charme pela capital baiana. Tem gente desfilando para cima e para baixo nas novas bicicletas compartilhadas pelo projeto Bike Salvador, realizado pela prefeitura com patrocínio do Itaú Unibanco e operação da Tembici.

Ao todo, 274 bikes estão em operação em 39 estações e a proposta é chegar a 50 estações e 400 bicicletas. Entre as novidades, está uma nova tecnologia canadense que inclui painéis solares nas estações, quiosque com pagamento digital e novas formas de desbloqueio da bicicleta: via aplicativo Bike Itaú (disponível nos sistemas Android e iOS), cartão do usuário ou por meio do Salvador Card.

Neste último, basta vincular o Salvador Card ao perfil de usuário - pelo site ou aplicativo - e o cartão vira uma chave para a retirada da bike. Outra novidade é que a Estação Bike Ribeira terá empréstimo de bicicletas por até 12 horas. Ao todo, serão disponibilizadas dez bicicletas, das 6h às 22h.

“Estamos em uma cidade em que o uso das bicicletas nas vias públicas já é uma realidade, diferente de cinco anos atrás. Então temos um público cada vez mais exigente”, destaca o presidente da Saltur, Isaac Edington. “Desde sua implantação, o Bike Salvador foi muito bem recebido pelos soteropolitanos e a utilização só aumenta. Estimular a bicicleta como modal de transporte está no DNA da Tembici”, garante o CEO da Tembici, Tomas Martins. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Conheça os benefícios e algumas dicas de boa convivência com as magrelas

Menos estresse Pedalar alivia o estresse. Afinal, nada como apreciar a paisagem com uma brisa no rosto e um banho de sol. Além disso, o exercício físico libera serotonina e endorfina, substâncias que aumentam a sensação de bem-estar

Físico mais forte Além de queimar calorias, a vida sobre duas rodas melhora o sistema cardiorrespiratório e fortalece os músculos: quadríceps, panturrilha, glúteos, musculatura posterior da coxa e abdominal, além de extensores da coluna. Músculos do ombro, braço e antebraço também são desenvolvidos no ciclismo.

Social Os benefícios da bicicleta vão além do impacto físico no corpo. Pedalar estimula a atenção, a disciplina e gera convívio social, ao integrar amigos e até mesmo pessoas desconhecidas que se reúnem para pedalar.

Menos poluição O uso da bicicleta diminui a poluição sonora - já que é mais silenciosa que o carro - e a poluição do ar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada dez pessoas no mundo respiram ar com níveis elevados de poluentes. A poluição do ar, de acordo com a ONU, é fator de risco para doenças crônicas e provoca quase um quarto das mortes por doenças cardíacas (24%), por acidentes vasculares cerebrais (25%), por doença pulmonar obstrutiva crônica (43%) e por câncer de pulmão (29%).

Dicas de segurança A companhia das magrelas é cada vez mais forte em Salvador, então é importante ficar ligado na segurança. Ande sempre com capacete; luvas; óculos para proteger de detritos e insetos; joelheiras e cotoveleiras; utilize luzes, materiais reflexivos e sinais sonoros na bicicleta, principalmente se for pedalar à noite.

Respeite a sinalização A boa convivência entre ciclistas, pedestres e motoristas é fundamental. Pedestres e motoristas: respeitem a sinalização; não invadam a ciclovia (segregada por estruturas e proteção) e a ciclofaixa (faixa pintada no chão, sem separação física). Ciclista: sempre sinalize sua ultrapassagem, seja por gestos ou sons (como buzinas e até mesmo a voz); não ande no meio da via; evite fones de ouvido e aparelhos que possam tirar a atenção; nunca transite na contramão; não pedale em zigue-zague; respeite a sinalização e esteja sempre atento.