Gravado em Angola, As Cores da Serpente mostra poder da arte

Documentarista baiano acompanha transformação da Serra de Leba pelo grafite

  • D
  • Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

 A transformação pela arte de um dos mais conhecidos pontos turísticos de Angola é o mote do documentário As Cores da Serpente, que será lançado nesta quarta, às 19h, na Saladearte Cinema do Museu, no Corredor da Vitória. Realizado pelo jornalista e cineasta baiano Juca Badaró e pela produtora Renata Matos, o filme faz um retrato afetivo  do processo de criação dos artistas envolvidos na pintura dos murais da Serra de Leba, uma deslumbrante formação montanhosa que separa as províncias da Huíla e do Namibe. Em seus 20 km de extensão, a estrada preserva uma importante herança da história colonial do país; a via começou a ser construída pelos portugueses no final do século XIX e só foi concluída às vésperas da independência, em 1974.  Serra da Leba, um dos principais pontos turísticos de Angola (Foto: Reprodução) “Os murais estavam todos pixados, com palavrões. Então esse coletivo pintou tudo de branco, para então aplicar os grafites. E os desenhos estão ligados à ancestralidade, ao passado, pra construir o presente, na perspectiva de futuro”, explica Badaró. Cores fortes dão vida a mulheres mucubais ou mumuilas, heróis e símbolos nacionais como a rainha Njinga ou a bandeira do país, com a sua catana, estrela e roda dentada em fundo preto e vermelho.

Encontro A relação de Badaró com Angola já tem mais de 10 anos e começou quando ele foi morar no país para trabalhar em uma TV pública. De lá para cá, voltou ao país algumas vezes e prestou serviços a várias produtoras de vídeo. Em sua última viagem, em 2015, conheceu o artista angolano Thó Simões, diretor artístico do projeto Murais de Leba - 40 Anos.  Thó estará presente na sessão de lançamento do filme em Salvador, que também contará com a presença de figuras importantes do candomblé e do movimento negro, como Makota Valdina e Vilma Reis. Para quem ficou curioso com o título do documentário, As Cores da Serpente, Badaró diz que a serpente remete tanto à geografia da estrada, que serpenteia as encostas, quanto à simbologia religiosa do animal. “Os moradores se referem à estrada como serpente, e no candomblé, a serpente também é renovação. O filme abre com um texto que fala justamente desse poder de transformação, de mudança. Durante 30 anos, Angola viveu em guerra. Agora é que eles estão reconstruindo as estradas, as cidades, e também a própria identidade”, sintetiza Badaró.