Greve dos caminhoneiros leva indústria a ter a maior queda desde 2008

Produção industrial cai 10,9% em maio com impacto da greve, diz IBGE

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  • Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2018 às 10:53

- Atualizado há um ano

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Sob impacto da paralisação dos caminhoneiros, a produção industrial recuou 10,9% entre abril e maio, na série com ajuste sazonal, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da segunda maior baixa registrada na série histórica da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), iniciada em janeiro de 2002. A única outra vez em que o setor industrial registrou queda de dois dígitos na base mensal foi em dezembro de 2008 (-11,2%), sob efeito da crise financeira internacional. Em abril de 2018, a produção havia crescido 0,8% frente a março. A queda de maio foi, contudo, menos intensa do que a média das projeções de 30 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, que previam recuo de 14% da produção. O intervalo das estimativas variava de baixa de 4,6% a 19,7%. "Com o resultado, o patamar de produção retornou a nível próximo ao de dezembro de 2003, ficando, dessa forma, 23,8% abaixo do ponto recorde alcançado em maio de 2011", destacou o IBGE em nota. A paralisação de 11 dias dos caminhoneiros, que provocou uma crise de desabastecimento no fim de maio e no início de junho, afetou o recebimento de matérias-primas pelas indústrias, assim como atingiu o escoamento da produção. "A paralisação afeta porque você não consegue receber matéria-prima para a produção. Também porque seu estoque, que não é escoado, não justifica produzir mais. E tem um ponto importante, de os trabalhadores não conseguirem chegar às respectivas plantas industriais", aponta André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE. O recuo de 10,9% da indústria teve predomínio de resultados negativos, alcançando as quatro grandes categorias econômicas e 24 dos 26 ramos pesquisados, destacou o IBGE. A produção de bens duráveis, por exemplo, encolheu 27,4% ante abril, a maior queda na série histórica do segmento, iniciada em fevereiro de 2002, influenciada em grande parte pela queda na produção de automóveis, de quase 30%. Perante maio de 2017, a produção industrial diminuiu 6,6%, a queda mais intensa desde outubro de 2016. Além disso, representou uma interrupção na sequência de 12 meses seguidos de taxas positivas, segundo o IBGE. Por essa base de comparação, a expectativa dos consultados pelo Valor Data era de recuo de 10,3%. De janeiro a maio, a produção industrial acumula 2% de crescimento. Nos 12 meses encerrados em maio, a indústria apresenta 3% de avanço na produção, ante 3,9% nos 12 meses imediatamente antecedentes.

Categorias econômicas As categorias de bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis recuaram, respectivamente, 27,4% e 12,2%, as baixas mais intensas desde fevereiro de 2002. Bens de capital (-18,3%) e bens intermediários (-5,2%) também tiveram resultados negativos. Entre as atividades pesquisadas, as principais influências negativas foram na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias (-29,8%), de alimentos (-17,1%) e de bebidas (-18,1%), todas pressionadas pelas interrupções.

As duas únicas atividades com crescimento em maio, na comparação com abril, foram os ramos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (6,3%) e de indústrias extrativas (2,3%). Ambas repetiram o comportamento positivo dos últimos três meses, com ganhos acumulados de 12,5% e 5,9%, respectivamente. De acordo com o gerente da pesquisa, são dois segmentos com uma menor dependência em relação às rodovias. “Além disso, o biocombustível foi favorecido pela safra da cana de açúcar, que é destinada principalmente ao etanol. Já o setor extrativo foi impulsionado pela produção de minério de ferro”, disse.