Grupo bloqueia trecho da Lapa; ônibus circulam nos demais bairros

Cerca de 40 manifestantes bloquearam o trânsito e os ônibus deixaram de subir até a Lapa

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  • Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2017 às 05:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tailane Muniz/CORREIO

Os ônibus circularam normalmente na manhã desta sexta-feira (10) em Salvador - exceto na região da Lapa, onde aconteceu uma manifestação da centrais sindicais as 6h. Segundo a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), os coletivos estão nas ruas desde às primeiras horas do dia - o fluxo de  ônibus foi normal nas principais vias, assim como nas estações de transbordo da capital.

Um grupo com cerca de 40 pessoas bloqueou o trânsito na rotatória entre o Dique do Tororó e a Lapa. Eles impediram que os coletivos com destino à Lapa entrassem na estação - após três horas e meia de protesto contra as reformas da previdência e trabalhista, por volta de 9h20, manifestantes liberaram a rotária que liga o Dique do Tororó à Lapa. Os carros particulares que trafegavam na região também ficaram parados no congestionamento.

Segundo representantes dos sindicatos que participam do protesto, o grupo seguirá para o Campo Grande, onde haverá outro ato e uma caminhada em direção ao Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (TRT-BA) e à sede da Previdência Social. O protesto faz parte da mobilização convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em vários setores contra medidas do governo do presidente Michel Temer.

Trânsito Por conta do protesto, o trânsito ficou congestionado no Vale dos Barris, Dique do Tororó sentido Lapa e vias do bairro de Nazaré. Para reduzir os impactos causados pelo protesto, a Transalvador realizou uma operação especial de desvio de tráfego.

Equipes de trânsito desviaram o tráfego nas proximidades da Arena Fonte Nova e na Avenida Vasco da Gama, no acesso à Praça João Mangabeira (Rótula dos Barris). Veículos tiveram como rotas alternativas seguir da Vasco da Gama para a Av. Anita Garibaldi, Vale do Canela, Mário Leal Ferreira (Bonocô) e Comércio.

No local do bloqueio, motoristas tentaram furar as barreiras e, revoltados, alguns chegaram a se desentender com os sindicalistas.

Foi o caso do empresário Carlos Paixão, 55 anos, que pretendia chegar ao trabalho, na região da Avenida Centenário. "É um absurdo, eu não consigo acreditar nisso. Eu querendo trabalhar e esses preguiçosos fazendo algazarra. Se isso aí adiantasse alguma coisa, o país estaria arrumado", defendeu.

A manhã também foi de transtorno para a doméstica Carla Silva, 30, que precisou descer do ônibus no local e andar até o Garcia, onde trabalha. "Não acredito que vou ter que ir andando. Mas, sinceramente, se é pro nosso bem, bem dos trabalhadores, eu apoio. Vai ser uma 'paletadinha', mas pior é não me aposentar nunca", disse ao CORREIO. 

Assim como Carla, dezenas de pedestres desceram dos vários ônibus enfileirados na região da Lapa, como a secretaria Lúcia Costa, 25. "Eu não aguento mais essas palhaçadas, deve ser a terceira vez, só esse ano, que não consigo chegar no trabalho. Acho um absurdo, não concordo mesmo" afirmou.

Para Lúcia, que trabalha na Barra, o jeito foi ir de mototáxi. "Agora vou ter que gastar um dinheiro que nem tenho pra chegar no trabalho. Mesmo assim, tive que tirar foto pra poder mostrar aos chefes", revela.

Quem também teve o carro impedido de passar foi o agente de trânsito Pedro Paulo de Matos, 54. Segundo ele, protestar é a única maneira de mudar. "Não tem outro jeito. A gente fica chateado porque, para mim, deveria haver uma lei federal que garantisse a livre passagem em pelo menos uma via. Mas protestar é um direito constitucional. Sem protesto, não tem mudança", argumentou.

"A reforma trabalhista é uma perda irreparável para os trabalhadores. Não para mim, que tenho meu emprego garantido até o final da vida, mas para a maior parte do país. Se o objetivo é chamar atenção, é natural que pare tudo mesmo", concluiu.

A diarista Diná Maria dos Santos, 44, saiu de casa, no bairro de Nova Brasília, por volta de 5h30, com destino ao trabalho, na Graça. Ela deveria chegar lá às 7h, mas às 6h30 o ônibus em que estava também foi impedido de seguir viagem."Eu não sou contra o protesto, mas eu já tenho tantos gastos. Para eles, que já bateram cartão, tudo certo. Ganharam um dia. Mas e eu, que se não trabalhar não recebo?", ponderou.Segundo ela, falta comunicação entre manifestantes e população. "Se a briga é por nós, pobres e trabalhadores, não tínhamos que ser pegos de surpresa. A gente precisa entender os caminhos deste protesto e os resultados dele. E hoje, o que vai ser de mim, fico aqui ao Deus dará até que horas?", questionou.

O técnico em enfermagem Márcio Gomes, 29, também foi um dos pedestres que precisou caminhar para tentar chegar ao trabalho. "Tem duas horas que saí de casa, no Retiro, e ainda estou aqui (na Lapa). Sorte que trabalho relativamente perto, consigo ir andando. Isso precisa ser revisto, virou graça agora esse tipo de intervenção. E a gente não pode fazer nada, só lamentar", disse ele, que trabalha em uma clínica no bairro do Canela. Para  Márcio, os ônibus não deveriam aderir à paralisação. "Eles sempre falam que não vão participar, e sempre participam. Porque sabem que só eles conseguem parar a cidade e aí a gente fica refém disso", desabafou.

O vice-presidente do sindicato dos rodoviários, Fábio Primo, confirmou ao CORREIO na manhã de hoje que os ônibus circularam normalmente pela cidade, mas que representantes da categoria participavam no protesto na Lapa. Foto: Tailane Muniz/CORREIO Dia de paralisações Os trabalhadores que aderiram ao movimento cruzaram os braços no início da manhã, por volta das 7h. 

Sindicatos de todo os país foram convocados para aderir à mobilização no Dia Nacional de Paralisações, organizada pela própria CUT. Na Bahia, a manifestação reuniu diferentes categorias profissionais, que ameaçaram paralisar totalmente as atividades ou aderir parcialmente à manifestação. 

Segundo os organizadores do movimento, o protesto é 'contra retrocessos do governo Michel Temer'. Eles citam a reforma trabalhista, que entra em vigor neste sábado (11), além das mudanças planejadas para a Previdência, em análise no Congresso, e o decreto publicado pelo Ministério do Trabalho que modifica a definição de trabalho escravo e deixa nas mãos do ministro a inclusão de empresas na "lista suja" - ou seja, que desrespeitam os direitos trabalhistas.

A expectativa dos sindicalistas é que o ato reúna cerca de 50 mil trabalhadores e estudantes.

Veja a lista com a adesão ao movimento de algumas atividades e serviços para a manhã desta sexta-feira.Trabalhadores Posicionamento Professores municipais, estaduais e federais  participam da paralisação Vigilantes  participam da paralisação Metalúrgicos  participam da paralisação Comerciários participam da paralisação Correios participam da paralisação Petroleiros participam da paralisação Aeroviários participam da paralisação Policiais Civis participam da paralisação  Eletricitários participam da paralisação Rodoviários de Salvador não devem aderir à paralisação Rodoviários das Regiões Metropolitanas não devem aderir à paralisação  Trabalhadores da área de limpeza urbana participam da paralisação Bancários participam da paralisação até às 12h