Grupo Corpo volta ao TCA com coreografias que exaltam a cultura brasileira

Companhia mineira apresenta hoje e amanhã os espetáculos 21 (1992) e Gira (2017)

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  • Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2018 às 06:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: José Luiz Pederneiras

Vinte e cinco anos separam a criação dos espetáculos 21 (1992) e Gira (2017), duas coreografias do Grupo Corpo, que serão apresentadas juntas neste fim de semana na Sala Principal do Teatro Castro Alves.

 “Apesar da diferença temporal, eles dialogam de uma forma muito legal e mostram essa evolução artística na nossa linguagem”, diz o coreógrafo Rodrigo Perdeneiras, que assina 31 dos espetáculos da companhia fundada em 1975. 21, que também é o 21º espetáculo do Grupo Corpo, é um marco  na consolidação não apenas da sua gramática coreográfica, mas também do seu método de criação.

Trilha original Foi a partir de 21 que as trilhas sonoras dos espetáculos passaram a ser encomendadas a grandes artistas da música popular brasileira. 

Lenine, José Miguel Wisnik, Tom Zé, Arnaldo Antunes e Caetano Veloso são alguns dos nomes que já compuseram músicas originais para o Grupo Corpo. “Todos são músicos de MPB, que nunca tinham composto para dança. É um outro tipo de trabalho, completamente diferente”, comenta Rodrigo Pederneiras.

 A trilha de 21 foi composta por Marco Antônio Guimarães e interpretada pelo grupo Uakti. Divididas em três partes, a música e a coreografia do espetáculo surpreendem o espectador a todo o momento ao longo de 40 minutos de duração. As partituras geometrizadas fazem um interessante contraponto com o colorido do cenário e do figurino, que em determinado momento remetem à riqueza regional e fazem alusão aos folguedos populares. Cena do espetáculo 21, considerado um marco na história do Grupo Corpo (Foto: José Luiz Pederneiras) Já a trilha de Gira é assinada pelo grupo paulistano Metá Metá, que trouxe um novo oxigênio ao Grupo Corpo, a partir da umbanda, na simbologia de Exu, o orixá que representa a comunicação entre dois mundos, o espiritual e o material. Três faixas ainda contam com as participações especiais do poeta, ensaísta e artista plástico Nuno Ramos, que assina uma das letras, e da cantora Elza Soares em duas músicas.Desafiando limites Além da trilha original, 21 e Gira têm ainda como ponto em comum a exaltação de uma brasilidade, cujas raízes se fincam no popular, seja na cultura ou na religião.Para Rodrigo Pederneiras, a oportunidade de aprender ainda mais sobre o país. “Foi uma loucura! Gira surgiu a partir de Paulo [Perdeneiras, diretor geral e artístico do Grupo Corpo], foi ele quem teve a ideia de convidar o Metá Metá. Ele que conduziu esse processo. A trilha me chegou relativamente pronta, com essa ideia de falar de Exu”, relembra Rodrigo Pederneiras.  O coreógrafo, que até então “nunca tinha entrado em um terreiro na vida”, chegou a cogitar não fazer o trabalho, por não ter o conhecimento exigido. “Comecei a ler como um maluco e a frequentar terreiros de candomblé e de umbanda. A umbanda é uma religião essencialmente brasileira, que abraça a pajelança, o catolicismo, o espiritismo e também o candomblé. Comecei a ver como se manifestavam as entidades, me tornei amigo de pai de santo e hoje sou frequentador de um terreiro aqui em Belo Horizonte”, conta, sobre o início do processo de pesquisa. “Isso mudou minha vida. Eu me senti obrigado a ter cuidado, porque é religião. Pedia para as pessoas que não me deixassem fazer qualquer coisa que fosse desrespeitosa”, diz ele.  Para a cantora Juçara Marçal, vocalista do Metá Metá, a forma como a companhia lidou com o pedido facilitou bastante o trabalho de compor uma trilha para um espetáculo de dança, até então inédito para o Metá Metá. “Acho muito incrível isso de convidar e dizer: ‘faça o que vocês quiserem. A gente vai montar a coreografia em cima do que vocês fizerem’. Então, ficou tudo mais simples”, conta.Ouça trilha na íntegra:

 

Gira é a primeira coregografia criada depois das celebrações dos 40 anos da companhia. “A ideia não é colocar um terreiro no palco. É um espetáculo de dança contemporânea. Não deixa de ser isso! Mas fomos buscar os ritmos, os movimentos, nesses rituais”, destaca Pederneiras.  A expectativa de apresentar o espetáculo em Salvador, cidade cuja maior parte da população é negra e a herança da cultura africana é inegável, é grande. “É a primeira vez que levamos Gira à cidade, com 21, já passamos outras vezes. Estou ansioso, querendo ver como o público soteropolitano vai receber, já que diz tanto respeito a vocês. As pessoas têm saído tomadas”, afirma. No palco, 19 bailarinos fazem os dois espetáculos acontecerem. “A companhia inteira está envolvida. Temos 22 bailarinos, mas tem uma grávida e dois estão machucados”, explica o coreógrafo.

Confira alguns trechos de Gira: