Guitarrista Carlos Santana fala sobre Woodstock, sexo, drogas, dinheiro e família

Se na época de Woodstock, aos 22 anos, era ainda um desconhecido, hoje Santana é um dos maiores instrumentistas da história

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  • Roberto Midlej

Publicado em 15 de setembro de 2015 às 12:53

- Atualizado há um ano

Parece lenda, mas poucos dias antes da apresentação que o revelaria para o mundo, no Festival de Woodstock, em 16 de agosto de 1969, o guitarrista mexicano Carlos Santana, 68 anos, era praticamente um desconhecido e gerava incertezas no criador do grandioso evento, o produtor Michael Lang.Santana, que em 1999 venceu novo Grammy por SupernaturalUm diálogo entre Lang e o primeiro empresário do músico, Bill Graham, mostra muito bem isso: “Está bem. Eu ajudo você a realizar o Festival, mas para isso você precisa fazer uma coisa por mim: você precisa deixar Santana tocar”, disse Graham. “Ok, mas o que é Santana?”, perguntou Lang, desconfiado, já que a programação do evento teria atrações já bem conhecidas como Janis Joplin (1943-1970) e Jimi Hendrix (1942-1970). Poucos dias depois, no evento que reuniu mais de meio milhão de pessoas em três dias, o mundo conheceu o poder do guitarrista. A conversa entre Graham e Lang é lembrada pelo próprio músico na biografia Carlos Santana - O Tom Universal - Revelando a Minha História (Best Seller/R$ 70/608 págs.) baseada em depoimento do músico aos jornalistas Ashley Kahn e Hal Miller. Momentos diversosSe na época de Woodstock, aos 22 anos,  era ainda um desconhecido, hoje Santana é considerado um dos maiores instrumentistas da história. Tanto que em 2001 foi eleito, por um júri técnico da revista Rolling Stone, o 20º melhor guitarrista de todos os tempos, à frente de ícones como John Lee Hooker (1917-2001) e Frank Zappa (1940-1993).No Festival de Woodstock, em 1969, com o baixista David BrownA biografia parte da infância do guitarrista, nascido em Autlán de Navarro, no México, em 20 de julho de 1947. Passa por diversos períodos da vida do artista, incluindo desde as primeiras apresentações em bares de strip-tease até a consagração em Woodstock.

A volta às paradas, com o premiado álbum Supernatural, de 1999, também merece um capítulo especial, afinal rendeu-lhe nada menos que nove  prêmios Grammy e 27 milhões de cópias vendidas no mundo. Somente no Brasil, foram mais de 250 mil, com direito a um disco de platina.Santana não deixa de fora detalhes de sua vida pessoal, como a relação com a família, seus casamentos e até relatos de abuso sexual quando era criança. O sexo ganha muitas páginas em lembranças de seu envolvimento com prostitutas. As drogas, assunto que as celebridades muitas vezes têm pudor em abordar, também são encaradas sem problemas pelo guitarrista. Santana lembra, por exemplo, que havia consumido uma boa dose de mescalina pouco antes de se apresentar em Woodstock. Acreditando que só subiria no palco à noite, achava que teria tempo suficiente para se recuperar da “viagem” provocada pelo alucinógeno.Mas foi surpreendido ao saber que sua apresentação havia sido antecipada e teria que tocar guitarra ainda sob efeito da droga. “Quando uma viagem começa, subitamente você já está viajando à velocidade da luz, e as menores coisas se tornam cosmicamente gigantes”, diz Santana.DificuldadesSantana gosta de ressaltar que superou dificuldades econômicas e emocionais até chegar ao sucesso. Não esconde, por exemplo, que, por pouco, sua mãe não o abortou. Com uma família bastante numerosa e vivendo muitas dificuldades financeiras, o pai, José Santana, comprou ervas tóxicas para fazer um chá que  provocava aborto e mandou a empregada da casa, Chepa, preparar a bebida. Mas a mulher, sabendo que a patroa, Josefina, queria ter mais um  bebê, desobedeceu o patrão e trocou o líquido por outro  que não era tóxico.Em San Rafael, com a mãe, Josefina, a quem o músico dedica o livroAdolescente, Santana foi morar com a família em São Francisco, nos Estados Unidos, por causa das dificuldades financeiras, já que tinha seis irmãos. Avesso à escola, embora a frequentasse, estava mais interessado em fazer amizades ali que propriamente estudar. Na verdade, sua paixão, desde essa época, era a música. Aos 16 anos, arrumou seu primeiro emprego, como lavador de pratos, motivado pela necessidade de pagar as prestações de uma guitarra elétrica, dada, em parte, pelo irmão como pedido de desculpas após uma briga. San Francisco, na Califórnia, vivia um período de ebulição musical e o cenário era favorável ao surgimento de  novos talentos. Era o ambiente ideal para formar sua banda, a Santana Band, formada por Tom Fraser na guitarra base, Mike Carabello na percussão, Rod Harper na bateria e percussão, Gus Rodriguez no baixo e Gregg Rolie nos vocais e teclados, além do próprio Santana na guitarra solo.O guitarrista também passa boa parte do livro analisando a  qualidade de outros astros da música, como B.B. King (1925-2015), Frank Zappa e Peter Green. Sobre a banda de blues-rock Cream, de que Eric Clapton fez parte, ele diz, a respeito das apresentações: “Assistir àqueles primeiros shows do Cream era como se alguém que só conhecesse a televisão em preto e branco visse um filme em CinememaScope pela primeira vez”. Apesar de relatar momentos complicados da vida do músico, o livro não ganha um tom escandaloso ou sensacionalista, já que tudo é tratado com muita naturalidade.