Hábitos são responsáveis por 70% do envelhecimento; veja cuidados

Cuidar da alimentação e do corpo é tão importante quanto cuidar da mente, diz especialista

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  • Tailane Muniz

Publicado em 29 de outubro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Está vendo essa mulher da foto acima? Você daria a ela quantos anos? No dia a dia, sempre atribuem à personal trainer Mônica Medeiros alguma idade na casa dos 30. Mas ela se orgulha em dizer que cinquentou e que chegou lá da melhor forma possível: feliz com o seu o corpo e esbanjando saúde e disposição. 

Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia seccional São Paulo (SBGG-SP), a médica Maisa Kairalla, 70% do envelhecimento somos nós quem determinamos com os hábitos que adotamos e outros 30% vem da carga genética.

A especialista explica que além de cuidar da alimentação e do corpo, é essencial se preocupar com a mente. Para ela, quanto mais cedo uma pessoa inicia os cuidados consigo, mais se aproxima do envelhecimento com qualidade. 

O mesmo defende o presidente do Centro Internacional da Longevidade no Brasil seccional Rio de Janeiro, médico Alexandre Kalache. “Quanto mais cedo você começar as boas práticas, melhor você vai chegar na velhice e melhor vai estar preparado para tudo que envolve estar velho”.

Cuidados  Os exercícios regulares praticados desde a adolescência renderam a Mônica não só um corpo sarado, mas disposição para encarar a rotina de mais de 15 horas diárias de trabalho. Sem filhos, ela divide o tempo entre o trabalho, corridas na orla e algumas horinhas de sono. “Só não sou exemplo de alimentação. Não me privo de tudo. Também bebo bastante água”.

Mas o maior segredo da juventude, garante Mônica, é o sorriso. “Minha receita é sorrir muito, não se preocupar à toa.  É um exercício diário. Não concordo que envelhecer é ruim. Envelhecer bem é conseguir fazer as coisas sozinha. No dia em que eu precisar de ajuda pra tomar banho, aí, sim, eu vou achar a velhice uma droga”, salientou.

 De acordo com a geriatra Maisa Kairalla, os brasileiros não foram ensinados a envelhecer. “Creio que 100% das pessoas tinham que pensar, sim, sobre velhice”, diz. Uma pesquisa realizada pela SBGG-SP, em parceria com a Bayer, em dez capitais do Brasil, incluindo Salvador, indicou que 63% das pessoas com mais de 55 anos pensam a respeito do envelhecimento. Pelo  menos 33% afirmaram que lidam bem com a condição e outros 14% se disseram assustados com a velhice. 

“Não tive esse estalo de me olhar no espelho e notar que envelheci. No geral, me acho maravilhosa”, diz Mônica, aos risos. A  dentista Patrícia Lavigne, 53, também não tem neuras quando o assunto é o envelhecimento. Até porque ninguém diz que ela já entrou na casa dos 50. “Acham sempre que tenho entre 35 e 40”, conta. 

Patrícia diz que os sinais do tempo não a assusta, embora não abra mão de envelhecer com qualidade de vida. “Nunca fumei, bebo socialmente e cuido da minha alimentação. Também faço remo, ando de bicicleta e pratico funcional na praia. Não nego minha idade. Pelo contrário, tenho muito orgulho de dizer que tenho 53”.

Namorado da personal Mônica Medeiros, o produtor musical Pava Marques, 56, tenta acompanhá-la no estilo de vida saudável.“Ela é meio psicopata com exercícios. Eu sempre malhei por prazer. Além disso, não fumo e nem bebo e procuro evitar rotina de estresse”, conta Pava.Ele explicou que além de prazeroso, a prática de exercícios é importante para condicionar o corpo para a rotina exaustiva do trabalho, que envolve muitas viagens.

Segundo a médica, o envelhecimento chega em tempos diferentes para homens e mulheres. “Elas vivem mais, então é diferente. Conta o estilo de vida, a exposição às profissões”. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida na Bahia é de 69 anos para homens e 78 anos para mulheres. A estimativa é que, até 2030, os homens vivam até os 71 anos, enquanto as mulheres poderão chegar aos 80.  Em 2015, o número de pessoas com mais de 60 anos na Bahia era de 2.032 milhões. Ou seja, 13,4% da população do estado, de 15.220 milhões.  O produtor musical Pava Marques, 56 anos, e sua namorada, a personal trainer Mônica Medeiros, 50 (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Cuidados estéticos podem ser aliados, mas custam caro Além de hábitos saudáveis, os cuidados estéticos também podem ser aliados dos que querem retardar o envelhecimento. Mas cuidar das rugas, das marcas de expressão e das gordurinhas localizadas costuma pesar no bolso. Segundo  a dermatologista Ariene Paixão, da Sociedade Baiana de Dermatologia, os tratamentos de preenchimentos e lasers podem variar entre R$ 1,5 e R$ 5 mil.

“Não são processos baratos, mas não precisa fazer todo mês. O preenchimento que usamos na boca, no bigode chinês, é feito de dois em dois anos. Quem teve alguns cuidados com a pele desde cedo, não vai precisar fazer nada disso”. 

A personal Mônica Medeiros contou que já fez preenchimento, botox e drenagem.“Faço pouco porque não é baratinho, mas acho ótimo. Se tivesse dinheiro sobrando, faria mais. Envelhecer bem pode custar caro, sem dúvida. Mas é possível envelhecer bem tendo pouca grana, basta se virar de outras maneiras”, aconselha Mônica.Adepta de procedimentos estéticos, Patrícia Lavigne já percebeu que se cuidar é uma coisa cara. “Tratamentos estéticos custam alto. Nunca fiz estética no corpo. Não tenho silicone, nunca fiz lipoaspiração, mas se precisar, faço, sim. Não tenho problema com isso.

Segundo a dermatologista, embora todos os órgãos envelheçam, é a pele que primeiro aponta as marcas do tempo. “A gente tem de tratar a pele desde a juventude. O uso do filtro solar deve começar lá na juventude”, explica, acrescentando que aos 30 anos esses sinais se tornam mais evidentes. 

Ela explica que, além do filtro solar, os antioxidantes orais ajudam a diminuir o fotoenvelhecimento. “A pele é visível, os órgãos não. O sol aumenta muito o envelhecimento cutâneo. Pessoas que se expõe muito ao sol chegam aos 30 com outra pele”.

'As pessoas querem permanecer ativas’ Para fugir do envelhecimento, há quem recorra à medicina ortomolecular, que se baseia na teoria de que as doenças podem ser curadas pela restauração dos níveis ideais de substâncias químicas do organismo, como vitaminas e minerais. No entanto, este é um segmento que ainda não é reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina. 

O médico ortomolecular especialista em geriatria, Leonardo Eugênio, explicou que a longevidade saudável está diretamente ligada à prática. “A pirâmide de antes era do topo pessoas mais jovens e a base de pessoas mais velhas. Mas está se invertendo. As pessoas buscam saúde, elas querem permanecer ativas. Se a medicina tradicional busca tratar a doença, a ortomolecular trata a saúde em sua esfera preventiva”, ressalta.

Ele destaca ainda que o corpo tem diversos sistemas que funcionam em conjunto. “A vida, na verdade, é uma reação química. A bioquímica explica tudo o que ocorre com os seres vivos, que dependem do zinco, cobre, cálcio e algumas vitimas como a C, E, A. Esses elementos estão envolvidos em diversas reações químicas. A gente sabe que as dosagens recomendadas pela medicina convencional são adequadas para uma reposição nutricional, mas não para manter o nível de saúde das pessoas em níveis ótimos”, completou.

O geriatra Alexandre Kalache defende que a sociedade brasileira necessita construir um ambiente mais amigo dos idosos. “O conhecimento foi o bem principal do século XX e a imaginação vai ser o principal bem principal do século XXI. Não só ter imaginação, mas também ter capacidade de discernimento para fazer escolhas adequadas individual e também para a sociedade. À medida em que a gente envelhece, a gente vai ficando mais diferente. É importante que se desenvolva uma cultura de cuidados em resposta à revolução da longevidade”, afirmou ele, acrescentando que existe distinção da qualidade de envelhecimento para os que têm e os que não têm dinheiro.