Haters: como são e onde habitam

Por Malu Fontes

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Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 07:53

- Atualizado há 10 meses

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Em 5 de julho de 1993, a revista The New Yorker, famosa no mundo por suas capas criativas, seus textos em profundidade e por seus cartoons, publicou um cartoon de Peter Steiner que se tornou recordista de faturamento por republicações em todo o mundo. Talvez nenhum outro desenho tenha até hoje ilustrado tão bem o conforto experimentado por tanta gente no mundo que, desde o advento e a democratização da internet, fica atrás de uma tela espalhando o que lhe dá na telha sob o que acredita ser a proteção do anonimato. 

No cartoon, dois cachorros “conversam” diante de um computador, em cujo teclado um deles ensina ao outro a maior descoberta da sua existência. Com as patas dianteiras apoiadas no teclado, diz para o outro: “Na internet, ninguém sabe que você é um cachorro”. Algo muito parecido com a sensação e a sacada do cão de Steiner deve ser o combustível que move todos os dias pessoas anônimas a usar o teclado do computador, e hoje, mais frequentemente, o dos smartphones, para atacar, xingar e ofender pessoas que nunca viram, com as quais nunca conversaram.

Desdentado O modus operandi dos haters, os odiadores de redes sociais, é basicamente o mesmo, embora eles não se conheçam entre si e nunca tenham combinado estratégias. Antes de tudo, o hater é um desconhecido em busca de aparição, visibilidade e fama, seja a fama na esquina, na província, e, é claro, nas redes. Ele precisa odiar e anunciar o ódio aos quatro ventos para existir. Quem dá vida e oxigênio digital ao hater é seu objeto de ódio, seja este uma pessoa, uma ideologia, um comportamento alheio ou uma causa.

O hater precisa vomitar ódio no mundo digital para, assim, ganhar algum espaço e 15 segundos de fama no mundo off line. E quando é obrigado a vir a público se explicar por força da lei, vê-se que era tão somente um cão manso desdentado fingindo ser uma fera. Já sai de trás da tela com o rabo entre as pernas, vitimizando-se, transfigurando-se de atacador em atacado. Vejamos dois casos brasileiros clássicos, separados por sete anos: Mayara Petruso e Day McCarthy. A primeira, uma rica estudante do 6º semestre de Direito em São Paulo, em 2010. A segunda, uma moça capixaba sem ocupação definida na vida, aparentemente imigrante ilegal no Canadá e que se auto-intitula socialite.

Imbecil   Na segunda-feira após o domingo em que Dilma Roussef venceu a primeira eleição para a Presidência da República, Mayra postou em seu Twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo: mate um nordestino afogado”. A motivação da moça: Dilma havia vencido a eleição em São Paulo, derrotando José Serra em seu ninho de tucano.

Hater antipetista, talvez o tipo mais endêmico hoje no Brasil, Mayara atribuiu os votos de Dilma aos nordestinos e lançou uma campanha típica de cão escondido atrás do teclado. Insultava-os, propondo matá-los afogados, aparentemente numa referência à migração Nordeste-Sudeste por fuga da seca. Hater racista, outro tipo endêmico, e com um toque do oportunismo imbecil que habita os planos das candidaturas a celebridade por 24 horas, Day McCarthy, ou melhor, Dayane Alcântara Couto de Andrade, 28 anos, decidiu que iria usar uma criança de 4 anos para ser catapultada ao mundo da fama. E conseguiu.  

Bisturis Sem profissão e ocupação definidas e com traços faciais pouco elogiáveis deixados por bisturis de cirurgiões de eficácia duvidosa, Day resolveu que iria nascer para o Brasil usando como instrumento a filha de Bruno Gagliasso e Giovana Ewbank, a quem xingou de preta, feia e macaca. Foi manchete de tudo o que era veículo noticioso. E como o pântano habitado por essas criaturas tem coro, ganhou em um só dia mais de 50 mil seguidores. Esses seguidores são os haters “nutela”, que se alimentam do ódio dos haters “raiz”, que são os que latem mais alto e respondem aos processos judiciais.