História na cabeça: oficina de turbantes reúne mulheres no Santo Antônio

Palestra e oficina foram ministradas pela baiana Thaís Muniz, fundadora do Turbante-se

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  • Bruno Wendel

Publicado em 6 de abril de 2019 às 16:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Almiro Lopes

Para além da versatilidade e diversas opções de estampas e amarrações, com cores fortes e estampas florais, o turbante é a história na cabeça. Durante um workshop sobre o uso da indumentária, na manhã deste sábado (6), adeptos puderam aprender mais em relação à peça, que vai além de um acessório de moda e tendência de visual. “Sempre usei turbante, mas sentia que faltava alguma coisa. Então, vim em busca de conhecer a minha ancestralidade”, declarou a designer Vanessa Silva, 28 anos.  

Vanessa e outras mulheres participaram de uma oficina de turbantes no Casa do Boqueirão, no Santo Antônio Além do Carmo. “Vim me reconectar com a minha ancestralidade. Sou baiana, mas morei na Venezuela, Rio de Janeiro, Sergipe e hoje retornei a Salvador atrás dessa bagagem ancestral, saber mais sobre a indumentária, que vai além do embelezamento. É a identidade na estética”, declarou Vanessa.  A indumentária surgiu para o movimento negro como um resgate da cultura dos ancestrais e da estética. Simboliza a resistência cultural dos descendentes dos africanos escravizados em seus costumes originais.

Como forma de valorização da história, cultura e estética africana e afro-brasileira, o uso do turbante é uma maneira de empoderar as mulheres negras e apresentar outras belezas que não as que a moda impõe como ideal.“Me emocionei várias vezes aqui. São coisas que tocam profundamente a gente essa questão do racismo”, disse a empresária Mona Soares, 38.O evento foi promovido pela diretora criativa e designer baiana Thaís Muniz, idealizadora do projeto Turbante-se. “O turbante é a identidade na estética, um elemento de comunicação não verbal”, disse ela, durante a palestra. 

“Foi bom ter vindo. Cheguei aqui por causa da beleza do turbante e hoje sei que por trás desse deslumbre tem todo o contexto de uma história de afirmação, de luta”, disse a aposentada Eliana Lima, 59.  Turbante-se Considerada uma das mulheres negras brasileiras mais influentes da web em 2014 pelo portal Blogueiras Negras e Geledés, Thaís Muniz fundou o Turbante-se em 2012 e, nos últimos sete anos, vem realizando pesquisas, garimpagem de estampas e tecidos, workshops e performances artísticas que relacionam a história, os significados e a ressignificação dos turbantes na Afro-Diáspora. 

Seu trabalho já percorreu mais de dez países, passando por cidades como Paris (França), Berlim (Alemanha), Madrid (Espanha), Lisboa (Portugal), Amsterdam (Holanda) e Freetown (Serra Leoa), além de ter integrado uma mostra de arte contemporânea da Bahia, em Los Angeles - no The Fowler Museum -, nos Estados Unidos, ao lado de nomes consagrados, como Goya Lopes, Mestre Didi e Pierre Verger.

Mundo “Me dedicar a pesquisar e difundir a história e os modos de fazer turbantes pelo mundo me traz uma sensação de estar cumprindo uma missão que eu assumi, bem como firmando a importância, os significados e os simbolismos, que transpassam essas amarrações de cabeça, na vida de mulheres negras que chegaram aqui antes de mim”, pontuou Thaís, que é natural de Feira de Santana, no Centro Norte da Bahia, mas mora na Europa (entre Dublin, na Irlanda, e Londres, na Inglaterra) há quase cinco anos. “Através do meu trabalho, consigo me comunicar com outras mulheres negras de uma forma bem direta, sobre a necessidade de empoderamento a partir de uma estética afrocentrada”, arrematou.