Homem que matou passageiro após assalto a ônibus diz que agiu em legítima defesa

Antônio Carlos da Silva, o Negão, disse que não entendeu porque o rapaz estava correndo atrás dele e se desesperou

Publicado em 24 de maio de 2017 às 16:10

- Atualizado há um ano

Antônio Carlos, o Negão, matou passageiro que tentou recuperar pertences roubados (Foto: Alberto Maraux/Divulgação SSP)O assaltante Antônio Carlos da Silva, 28 anos, conhecido como Negão, disse à polícia que agiu em legítima defesa quando matou Enéas Santos Santana, 21 anos, passageiro do ônibus que ele havia acabado de assaltar no último domingo (21). O rapaz foi morto com três facadas após tentar recuperar os pertences roubados. Antônio foi preso no bairro de Aquidabã, nesta quarta-feira (24), por uma equipe da Operação Gêmeos da Polícia Militar, que atua diretamente com o Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc).

Segundo o próprio Antônio Carlos, ele não entendeu o porquê de Enéas correr atrás dele após o assalto, já que não tinha levado nenhum pertence dele. O rapaz desceu do ônibus logo após o assalto na tentativa de recuperar os pertences dos passageiros.

O assaltante desceu do coletivo num ponto próximo a um shopping na Av. Paralela e correu pela passarela, mas foi alcançado por Enéas. "Eu pedia para ele voltar, mas ele corria mais do que eu e me alcançou rápido. Ele meteu um bloco em mim, meu ombro está machucado. No que ele fez isso, eu me defendi. Minha intenção não foi tirar a vida dele. Vou pagar pelo que fiz", disse chorando. No entanto, a polícia não encontrou indícios de que Enéas tenha agredido o assaltante, refutando sua defesa. 

Faca

O assaltante confessou ter dado apenas um golpe contra Enéas, mas a polícia informou que a vítima foi esfaqueada três vezes com uma faca de serra comum. O objeto foi descartado na fuga. Segundo o delegado José Nélis Araújo, titular do Gerrc, Antônio Carlos sabia como manusear uma faca, já que havia trabalhado num frigorífico no Politeama, de onde foi demitido por justa causa há oito meses por ter dado uma facada em um colega.

Também de acordo com Negão, ele não tinha intenção de matar o passageiro. Antônio Carlos também disse que nunca matou ninguém - o colega do frigorífico sobreviveu ao ataque. "Ali foi brincadeira. ele falou comigo que minha patroa ia me demitir e eu falei que ia pegar ele. Aí ele foi e prestou queixa, mas não foi facada. Eu encostei a ponta da faca nele", alegou.

PraiaSegundo a polícia, após o crime, Negão, foi para a praia, no bairro de Itapuã, porque já sabia que os policiais estavam a sua procura. Durante esses dias, ele ficou entre Itapuã, Canabrava e região do Centro. Ele tem sete filhos com quatro esposas diferentes. Imagens da câmera do ônibus foram divulgadas para ajudar na busca ao assaltante (Foto: Reprodução)Quando foi preso, esta manhã, Antônio Carlos não resistiu à prisão. A polícia tinha informações de que ele estava na região do Centro e desde o domingo vinha fazendo buscas. Com ele, os policias encontrou uma quantia de dinheiro, que ele disse ser produto restante do roubo ao ônibus. Os outros pertences dos passageiros não foram encontrados. Segundo Negão, os produtos foram vendidos na Praça Marechal Deodoro, no Comércio, conhecida popularmente como "Praça da Mãozinha".

Antônio Carlos tem sete passagens pela polícia, sendo cinco no Gerrc, todas elas por roubo, e três em flagrante. O Gerrc instaurou um inquérito e solicitou a prisão preventiva do homem.

Para o delegado Nélis, a reincidência no crime é que tem preocupado a polícia. "Nos preocupa quando os criminosos migram do crime patrimonial para crimes de latrocínio, violentos e letais. Nessas entradas e saídas, eles acabam cometendo crimes mais graves", ressaltou. Ainda segundo o delegado, em Salvador e Região Metropolitana são registrados, em média, cerca de oito assaltos por dia.

O subcomandante da Operação Gêmeos, Edenilson Francisco Santos, aconselha os usuários do serviço de ônibus que não reajam aos assaltos.  "As pessoas têm que evitar reagir quando for assaltado. Tem que registrar ocorrência do fato porque a polícia está cumprindo sua missão e numa hora dessas você pode pagar com a vida. A PM se solidariza com a família da vítima, mas não há como trazer a vida dele de volta", alertou.