Horto Florestal registra 4 casos de balas perdidas em dois meses

Os casos ocorreram em apartamentos nas principais vias do bairro: na Rua Waldemar Falcão e na Avenida Santa Luzia

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  • Bruno Wendel

Publicado em 13 de junho de 2017 às 05:55

- Atualizado há um ano

Horto Florestal registra 4 casos de balas perdidas em dois meses (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)Cães, câmeras, segurança patrimonial e portarias blindadas. A vigilância é 24 horas. Mas nem todo aparato dos luxuosos condomínios do Horto Florestal garante a proteção quando a ameaça vem do alto. Em dois meses, balas perdidas atingiram quatro imóveis do bairro, o terceiro no ranking dos mais procurados para venda em 2017, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas do Zap (FipeZap). Os casos ocorreram nas principais vias do bairro: a Rua Waldemar Falcão e a Avenida Santa Luzia.

O bairro está entre localidades onde há disputas do tráfico e relatos de disparos de armas de fogo, como Engenho Velho da Federação e Chapada do Rio Vermelho. Apesar da resistência de moradores e funcionários dos imóveis atingidos em falarem sobre o assunto, inclusive com a própria polícia, a PM confirmou os quatro casos, ocorridos nos condomínios Edifício Mansão Torre do Horto, Edifício Top Hill, Condomínio Villaggio Panamby e Condomínio Parque Florestal.

'Se os ricos, que estão longe, reclamam, o que nós vamos dizer? Que matam na nossa porta?'

“Dos quatro imóveis, apenas o caso mais recente chegou em tempo real. Assim que ocorreu, recebemos chamados no 190 e deslocamos guarnições até o local e realizamos diligências”, declarou o comandante da 26ª Companhia Independente da PM (CIPM/Brotas), major Cláudio Guanaes, fazendo referência ao fato ocorrido no último dia 28 de maio, na Rua Waldemar Falcão. Ninguém foi preso.  

O local foi um apartamento no Edifício Mansão Torre do Horto, que tem 295 metros quadrados. As unidades, com quatro suítes de alto padrão, ficam numa única torre, com 35 pavimentos, 30 apartamentos, um por andar, com valor de venda em torno de R$ 2,4 milhões. ”As informações que tivemos foi de que um carro preto passou e um dos ocupantes começou a atirar para o alto. Pegamos as características e fizemos um alerta. No entanto, no apartamento não houve o trabalho de perícia porque o dono não permitiu”, contou o major Guanaes, que não soube precisar o andar.

O CORREIO tentou falar com pelo menos um dos moradores, mas a informação passada pela portaria era de que apenas um carro havia passado em alta velocidade e se ouviu barulho de tiros. “O que estou autorizado a dizer é que realmente aconteceu. Passaram atirando para cima, mas nenhum morador registrou o fato em ocorrência porque o que aconteceu foi em via pública e não dentro do empreendimento. É só o que posso falar e nesse momento não há ninguém na administração e moradores já avisaram que não querem falar sobre o assunto”, disse um funcionário da portaria. Pessoas que trabalham no entorno do edifício disseram que a bala atingiu um dos apartamentos a partir do 20º andar.   

Neste dia, de acordo com a PM, houve registro de disparo de arma de fogo na Rua Caio Pedreira, Chapada do Rio Vermelho – que fica, em linha reta, a cerca de menos de 1 km do local. Segundo o diretor da Associação Baiana de Tiro, major César Castro, uma bala pode percorrer até 2,5 km -  a depender do ângulo e do calibre do projétil.Horto Florestal registra 4 casos de balas perdidas em dois meses (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)A 220 metros dali, o CORREIO tentou falar com moradores do Edifício Top Hill – com apartamentos de 210 metros quadrados, com preço de venda a partir de R$ 1,6 milhão. No dia 9 de março, duas balas atingiram dois andares: o 17º e o 23º. Houve  pânico no prédio. A portaria informou ao CORREIO que os proprietários não estavam.

Os relatos ouvidos por quem trabalha na área foi de que no dia, no 17º andar, uma adolescente estudava na varanda quando o vidro temperado se estilhaçou por causa do impacto do tiro. Já no 23º, uma bala atingiu uma janela. “Os apartamentos atingidos ficam de frente para a Chapada do Rio Vermelho e, nesse dia, todo mundo comentou que houve tiroteio lá”, contou a fonte.

Na Avenida Santa Luzia, moradores do Condomínio Villaggio Panamby, considerado um dos mais luxuosos do bairro – com unidades na cobertura sendo vendidas por R$ 4,4 milhões – também viveram momentos de tensão. No dia 16 de maio, um proprietário de um dos andares mais altos do condomínio foi surpreendido por uma bala perdida, que atingiu a janela do apartamento.

Segundo uma moradora, o projétil atingiu um dos apartamentos da torre Vernazza – o empreendimento tem seis torres. Ainda de acordo com ela, na ocasião, ocorria também um tiroteio na Chapada do Rio Vermelho. O CORREIO também esteve no Villaggio Panamby, mas, segundo a administração, não houve registro no livro de ocorrências.

Por e-mail, a administração do condomínio informou não ter “elementos para afirmar que foi tiro” e que um boletim de ocorrência havia sido registrado pelo morador, mas não pelo condomínio. Ainda segundo o e-mail, após a situação, que ocorreu por volta das 22h, “alguns vizinhos têm dito que não ficam mais nas janelas à noite”.

ComeçoA primeira ocorrência deste ano aconteceu no Condomínio Parque Florestal – formado somente por mansões –, às margens da Avenida Juracy Magalhães e em frente à Chapada do Rio Vermelho. Na primeira semana de março, uma bala atingiu um dos imóveis. Lá, uma casa de 582 metros quadrados e quatro quartos chega a ser vendida por R$ 5,5 milhões.

 Ao CORREIO, a PM confirmou que três companhias de polícia cobrem a área do Horto e comunidades vizinhas. Apenas a 40ª CIPM, responsável pelo policiamento nas localidades da Chapada do Rio Vermelho, Santa Cruz e Vale das Pedrinhas, registrou disparos de armas de fogo. Na primeira semana de março, nos dias 4 e 5, as ocorrências foram nas ruas Coreia do Norte, Vale das Pedrinhas e Reinaldo de Matos, no Nordeste de Amaralina. Outra, já no final de maio: dia 28, na Rua Caio Pedreira, Chapada do Rio Vermelho. Na 26ª CIPM, responsável pelo policiamento nas comunidades do Buraco da Gia e Candeal Pequeno, assim como a 12ª CIPM, que cobre a Canjira, não houve acionamento da corporação para disparos de arma de fogo.

Titular da 6ª Delegacia (Brotas) – unidade da Polícia Civil que atende também o Horto Florestal –, a delegada Maria Dail Sá Barreto disse que os donos dos imóveis têm rejeição em prestar queixa. “Muito provavelmente não querem suas casas e apartamentos expostos”, acha a delegada. Mas no caso específico no Parque Florestal, a dificuldade não foi o registro da ocorrência, já que o proprietário foi ouvido na delegacia e posteriormente uma perícia foi realizada na mansão.

No entanto, o problema está na perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT), que vai além dos prazos para elaboração dos laudos. Segundo Dail, o laudo não informou a trajetória da bala, fator preponderante para a investigação. “Em alguns casos, a perícia é inconclusiva. Neste caso no Condomínio Parque Florestal, o documento consta que não foi possível concluir a trajetória da bala. A justificativa foi o fato de a perícia não ter encontrado outro projétil, para então traçar um curso”, declarou a delegada.

Segundo Maria Dail, ela não descarta a possiblidade dos tiros que atingiram as residências terem partido de comunidades do entorno do Horto Florestal. “Apesar da distância, temos que levar em consideração o tipo de arma, porém, é impossível precisar por uma série de fatores e o resultado da perícia é fundamental - nesses casos, é nosso ponto de partida”, argumentou a delegada.  

Chefe do Serviço de Investigação da 6ª Delegacia, Paulo Portela contou que, em fevereiro deste ano, apurava um caso quando escutou tiros. “Fazia um levantamento, quando escutei os disparos. Eram muitos e vinham da direção da Chapada (do Rio Vermelho)”, disse ele, que, em seguida, complementou: “Informamos o fato à Centel, que deslocou viaturas até a região, mas nada foi encontrado”.

MedoMoradora da Rua Conselheiro Corrêa de Menezes, uma advogada levou um susto quando escutou tiros espaçados de seu apartamento. Os disparos aconteceram no dia 7 de maio e duas vezes nas localidades vizinhas de Canjira e Baixa da Égua, no Engenho Velho da Federação. A primeira por volta das 12h30. Já à noite, a situação foi mais intensa.

“Foram mais de dez minutos de tiroteio. Tinha gente correndo pela Avenida Vasco da Gama, de um lado para o outro. No dia seguinte, num encontro com outros moradores, todos comentaram”, contou a advogada, que testemunhou tudo da janela do prédio.

O gerente de um restaurante na Waldemar Falcão contou ao CORREIO que há três semanas os clientes ficaram apavorados com os tiros que vinham também no Engenho Velho da Federação. “O restaurante estava cheio. O barulho veio do nada e todos ficaram apreensivos. Teve gente que esboçou sair correndo, de tão apavorada que estava. Isso não é um caso  atípico. Por conta desse e de outros casos tivemos uma queda na clientela”, contou.

Versão da PMO comandante da 26ª CIPM, major Guanaes, disse que à companhia não chegou nenhuma informação de onde partiram as balas (com exceção do caso do Edifício Mansão Torre do Horto). “Vamos fazer o trabalha preventivo, mantendo o policiamento ostensivo em vários pontos, ajudando a prevenir o problema, mas temos uma delegacia da área para fazer uma investigação”, declarou o major.

O major disse que na última segunda-feira teve uma reunião com moradores do Horto Florestal. “Orientamos, em caso de qualquer ocorrência, manter contato com o 190, para o envio de viatura, e procurar a delegacia para fazer todo procedimento. Existe uma mancha criminal - roubo a transeunte, assalto a estabelecimentos comerciais e tráfico de drogas, e estamos combatendo desde o início do ano e demos uma diminuída bem acentuada”, declarou o major, sem apresentar números. Mas o CORREIO flagrou na última terça-feira blitz de abordagem a motociclistas na Waldemar Falcão.

Ainda de acordo com ele, a companhia intensificou as abordagens, com blitze nas principais vias, principalmente na Waldemar Falcão. “Temos um serviço extraordinário, onde o policial estando de folga, tira uma escala extraordinária para PM e é remunerado para este serviço, composto com duas motocicletas exclusivamente no Horto, no Cidade jardim e no Candeal de Cima”, disse o major.

O comandante da 26ª CIPM disse que, apesar dos esforços, a companhia tem que dividir o efetivo para atender chamado de outras áreas, como as avenidas Antônio Carlos Magalhães, Juracy Magalhães, Vasco da Gama, Ogunjá, Bonocô, Dique do Tororó , além de bairros populares como Engenho Velho de Brotas e Daniel Lisboa. “Temos de agir em cima ainda de locais com forte atuação do tráfico, como Polêmica, Buraco da Jia, Alto do Saldanha, Brongo, Bariri”, acrescentou.