Hotelaria registrou mais de 95% de ocupação durante Carnaval

"A diversidade musical está mais aparente do que nunca", pontuam; veja as comparações feitas pela galera de fora

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  • Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 07:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Eles se espalham pelos hotéis soteropolitanos, racham o valor de um apartamento para a temporada, ou chegam como agregados em casas de amigos baianos. Assim, de jeitinho em jeitinho, é que os turistas arranjam seus espaços para recostar antes de levantarem novamente para a folia da maior festa de rua do planeta. O movimento é tanto que Salvador registrou maior pico de taxa de ocupação dentre as capitais brasileiras, de acordo com a Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA): 96%.

O número agrada membros do trade turístico, que definem o Carnaval de 2018 como “o melhor Carnaval dos últimos anos”. O presidente da ABIH, Glicério Lemos, destacou as novidades do Carnaval de Salvador, como o Carnaval Náutico. Para ele, as novidades acabam reinventando a folia. “Isso tem uma repercussão muito boa. Mais uma vez a hotelaria e o trade está satisfeito com a ocupação que teve”, disse Lemos.

Neste ano, de acordo com dados da ABIH, o setor hoteleira registrou 98,6% de ocupação, 1% a mais do que ano passado, quando o índice alcançou 97,5%. “É a maior ocupação do país. Nós esperamos que ano que vem seja ainda melhor para Salvador”, afirmou.

O presidente da FeBHA, Silvio Pessoa, explicou que Salvador é o terceiro polo das capitais, no quesito hotelaria, perdendo para São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, durante o Carnaval, a capital fluminense registrou 85% de ocupação, enquanto a paulista registrou 45%. “Nós então tivemos a melhor ocupação hoteleira das capitais, sendo o pico máximo de domingo para segunda”.

Pessoa explica que para além da movimentação financeira que o Carnaval gera, a mídia gerada para Salvador, que é reposicionada como um bom destino turístico, é importante para a capital. “Fazer festa e Carnaval é investimento, geração de emprego e receita. Desde Iemanjá que Salvador está na mídia, mostrando os nossos pontos forte e colocando a capital como destino turístico forte”, disse.

Ocupação hoteleira A estimativa era de que a rede hoteleira de Salvador alcançasse 90% de taxa de ocupação durante o Carnaval, mas a realidade foi maior do que o previsto: Salvador chegou a alcançar 96% de ocupação durante a folia, de acordo com a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult). A Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH) chega a registrar ocupação maior. De acordo com eles, a taxa alcançou o índice de 98,6%.“O turismo durante o Carnaval superou as nossas expectativas. Ontem fizemos um balanço associado a indicadores de serviços que a prefeitura presta e o número de movimentação da cidade foi maior. É o caso de transportes de passageiros, o número de vôos extras, movimentação na Rodoviária, nas praças de pedágio e de passageiros desembarcados no aeroporto. Isso tudo demonstra crescimento de fluxo e preferência por Salvador como destino de Carnaval”, disse Cláudio Tinoco, presidente da Secult.Para o Carnaval, os turistas passam, em média, 9 dias na cidade. Do total, 5 são destinados à circuitos e brincar a folia e de 2 a 4 dias, eles circulam em outros destinos. “Por isso, vimos turistas argentinos se hospedando em Imbassaí e vindo para Salvador e também temos um índice grande de ocupação no Litoral Norte e em Morro de São Paulo. Por isso nós temos um volume tão desproporcional de turistas que entram ao número de leitos que temos : as pessoas ficam circulando, entrando e saindo da cidade”, disse Tinoco.

O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, ressaltou que o trabalho da prefeitura foi no sentido de posicionar Salvador como um dos principais destinos turísticos no Carnaval. “E a gente tem essa confirmação depois do Carnaval. A região hoteleira encontra taxa de ocupação próximo à 100%, movimentação financeira de R$ 1,8 bilhões e geração direta de 250 mil empregos. Fizemos o maior Carnaval da história, com a maior quantidade de atrações e com pouquíssimos problemas”, disse Isaac.

A FeBHA divulgou dados de ocupações durante o período até 10 de fevereiro. Os bairros com maiores ocupações eram Pituba (99,33%), Rio Vermelho (99,27%), Armação-Patamares (97,25%), Barra-Ondina (97,1%), Tancredo Neves (95, 21%) e Centro-Vitória (95,05%) até a data. A média na data alcançou 96%.

Diversidade musical atrai turistas Turistas como Diogo Figueiredo, 26, é um dos turistas que veio para Salvador curtir a folia momesca. Goiano, de Rio Verde, e morando em São Paulo há 4 anos, ele conta que já deu uns pulinhos na festança do Rio e adora uma folia, mas afirma: "É o meu segundo Carnaval em Salvador e digo sem dó: é o melhor do mundo".

O turista ainda revela que tem a sensação de estar fora do país ao chegar nas terras baianas em meio à folia. "É uma energia tão diferente, o povo é tão aberto, chegam abraçando desconhecidos como se fossem amigos, é louco, mas é um loucura que queria ver em todos os lugares", exclama. Ele está na casa da amiga Amanda Amorim, 22, que o acolhe até a quarta-feira de cinzas.“Tem que fazer amizade com baiano, é um povo fácil de criar laços e é uma galera confiável”.Fã de Ivete, mas sabendo que a cantora não iria fazer a pipoca pular neste ano, Diogo veio para correr atrás de Cláudia Leitte, Brown e Psirico. E, foi aí, falando das atrações, que ele fez a declaração final, com a qual todos os foliões de fora entrevistados pelo CORREIO, concordaram: "O que mais tem encantado é a diversidade. Tem a diversidade de opções para se divertir: camarotes, blocos de rua, pipoca... mas tem, principalmente, a diversidade musical. Essa é impressionante!".

Espaço para todos os ritmos Alberto Hagi, 50, mora em Salvador há 5 anos, mas era do Rio e vive entre lá e cá. Experiente entre carnavais desde a adolescência, o carioca fez comparativos, agregando a fala de Diogo. "A diversidade musical é o que mais me atrai no Carnaval de Salvador, é coisa de outro mundo. No Rio, é só samba. Hoje em dia é que lá está tendo uma abertura maior para outros estilos, mas fica mais na onda do que está fazendo sucesso no momento. Aqui, não, é tudo. É axé, reggae, rap, sertanejo, arrocha, MPB... todos os cantores tocam alguma coisa que não é deles e abraçam o que está em alta e o que já é antigos. É uma mesclagem de tempos, gerações", afirma, antes de ainda complementar que Salvador recebe 'mais gente do mundo inteiro' do que qualquer outro local.

Gringos também perceberam Logo ao lado de Alberto, um grupo cantava as músicas com algumas palavras inventadas na hora, mas que pareciam fazer o maior sentido para eles. A galera ali, era de Israel. Não sabiam nada de português. Para falar com eles, só aderindo à língua universal. Rotem, Maya, Guy e Hadar, todos na faixa dos 20 anos, racharam o pagamento de um apartamento na Barra. No local, cada um paga 1.500 por pessoa, para a temporada que dura até a terça-feira de Carnaval.

"Esse povo alegre não tem em lugar nenhum! É a melhor festa do mundo!", gritava o grupo em inglês. Eles pensavam que Carnaval era só pipoca e ficaram entusiasmados com as outras possibilidades: "Queremos também camarotes e blocos, onde conseguimos essas camisas diferentes?", perguntaram. Mas, no meio das interrogações e afirmações, mais uma vez, o mesmo elogio voltou a ecoar: "Tem músicas bem diferentes tocando o tempo todo. Passa um cantor que toca uma mais animada, depois outro com um estilo bem oposto", disse Maya, enquanto curtia Minha Pequena Eva e elogiava o coro baiano para a canção (ou hino, por melhor dizer).

Milagres para as mães Valdete Azevedo, 49, veio de Palmas de Monte Alto, interior da Bahia, e trouxe a cunhada Luzia Baradol, 50, e os filhos, Glauber Badarol, 25, e Matheus Badarol, 17, para a primeira vez na pipoca. Matheus sofre de uma doença auditiva que só o permite escutar o que estiver acima de 120 dB. "Ele consegue ouvir os trios, é maravilhoso. Um momento mágico para ele", contou, ainda afirmando: "É bacana porque os sons são bem diferentes na maior parte dos casos, ele pode perceber a diversidade musical".

Parada na calçada, requebrando de um lado para o outro, estava também Sandra Morais, 19, com a mãe, Sandra Morais, e o pai, Osvaldo Morais. Em clima familiar, eles afirmaram que vêm sempre juntos, lá de Valença. "Temos um apartamento alugado aqui, mas usamos mais pra curtir o Carnaval mesmo", disse a menina. A mãe contou que traz Sandra desde pequena para curtir a folia, principalmente porque as músicas que as duas gostam, acabam se misturando, e elas podem ter uma troca cultural diferente do que acontece no dia a dia. "Eu ensino o Carnaval antigo, ela me ensina o novo. Na verdade, os dois sempre estão aqui", disse a xará da filha, enquanto pulava na mesma animação.

Mais adiante, Nina Lisa, 41, dançava ao som de Banzeiro, de Daniela Mercury. Ela e Kaivha Carvalho, 34, vieram juntas de São Paulo para ficar na casa da irmã de Nina, curtindo o terceiro Carnaval baiano. Louca por Léo Santana, Kai trouxe o seu maior elogio para a folia de 2018. Adivinha qual foi? "Esse está sendo o melhor de todos. Além de não ter visto nenhum roubo ou violência por aí, a diversidade musical está ainda maior em todos os trios, ainda que cada um tenha também seus repertórios próprios. É música das antigas, é música nova... tudo junto e com vários gêneros. Tenho visto mais os cantores tocando o que não faz parte do estilo deles", pontua.

Romance do axé ao funk Jéssica Simões, 24, pulava aos beijos com Carlos Magno, 45, logo do outro lado da rua. Eles tinham se conhecido ali, naquele mesmo dia, mas já estavam organizando novos encontros para os próximos dias de festa. Ela, de Aracaju, ele de São Paulo. Mas o Carnaval não vê distância.

Junto com a amiga Géssica Rios, 25, Simões estava hospedada em um hotel próximo ao aeroporto. Juntas, as meninas já foram para o Carnaval de Olinda, e pontuaram o que mais as encantam na folia: "As pessoas aqui não tem frescura, sabe? A galera conversa enquanto canta, se abraça e canta com quem nem conhece". Mas, claro, que não poderia faltar a declaração mais feita em 2018: "Um bloco bem diferente vem logo atrás do outro... a gente está ouvindo axé e, de repente, vem funk, depois aquela música mais sofrência. E eles também cantam músicas um do outro, mas é tanta mistura que não fica repetitivo", disse Jéssica.