‘Ialorixá não renuncia. Não existe’, diz pesquisador sobre caso de Mãe Stella

Não existe sucessão no candomblé enquanto a ialorixá estiver viva

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  • Fernanda Santana

Publicado em 12 de dezembro de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

(Foto: betto Jr./CORREIO) Pela tradição do candomblé, não há possibilidade de Mãe Stella ser substituída - em vida - por outro membro do Afonjá. É o que explica o antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia Vilson Caetano. Mães de santo, esclarece, não podem ser substituídas em vida, mesmo que se afastem da função. “Ialorixá não renuncia. Não existe. Até porque, a mãe de santo não responde sozinha, ela é assessorada por um grupo que, teoricamente, é sucessor dela. Portanto, se ela precisar se afastar, o terreiro não estará desassistido”, fala.

A ialorixá, no entanto, precisa comunicar à comunidade o desejo de não exercer as atribuições, mas somente quando a decisão for definitiva. O anúncio, no entanto, é informal, e não tem consequências práticas, conforme ressalta o presidente da Federação Nacional do Culto Afrobrasileiro, Aristides Mascarenhas. Para ele, o Afonjá deveria ter resolvido a questão internamente.

“O que a gente defende é a questão religiosa. O lugar de Mãe Stella tem que ser no terreiro. Mas, o que eu acho, é que existe muita falta de respeito. Ela é uma senhora de 92 anos, além de ser tão importante como é. Essas coisas poderiam ser discutidas dentro da própria sociedade. Faltou esse respeito com Mãe Stella e entendimento da situação”, declara.

Enquanto persistir a ausência da ialorixá, a yakekerê do terreiro - ou mãe pequena - é a responsável pelas celebrações. No caso, Edite Santos Andrade, a Mãe Ditinha.

A cerimônia de sucessão só pode ser iniciada a partir da data da morte da mãe ou do pai de santo do terreiro e dura aproximadamente um ano. O processo inclui as chamadas “obrigações”, que dão caminho à espiritualidade da ialorixá e a encaminha para o plano da ancestralidade. Em seguida, o Oluwô, responsável pelo jogo de búzios, define a pessoa integrante da linha sucessória que ocupará a cadeira vazia.

Mãe Stella é a quinta ialorixá do Afonjá e está no posto desde 1976. Fundado em 1910, o terreiro teve como primeira ialorixá a Mãe Aninha. Ela permaneceu no posto até a morte, em 1938, quando foi substituiída temporariamente por Mãe Bada de Oxalá, que morreu em 1941, deixando o posto para umas das mais respeitadas ialorixás, a Mãe Senhora. Ela morreu em 1967 e deixou o posto para Mãe Ondina, que faleceu em 1975, sendo substituída por Mãe Stella.  

*Integrante da 12ª turma do Correio de Futuro, orientada pela editora Clarissa Pacheco