IC Encontro de Artes chega à 13ª edição destacando outros saberes

Evento acontece de quarta a domingo em diversos espaços culturais de Salvador

  • D
  • Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marcelo Teça Nada

O IC Encontro de Artes ganha uma edição para celebrar a conexão da arte com saberes e conhecimentos tradicionais, que apesar de pouco valorizados, já deram provas suficientes da sua importância para alargar os modos de percepção da realidade - assim como a própria arte.

Bruxarias, transes, feitiços, rituais, vibrações energéticas e fé no invisível são invocados na 13ª edição do encontro, cujo tema é Arte e Outras Magias, e que acontece de hoje a domingo, em diversos espaços culturais de Salvador.

Para abrir os trabalhos, a apresentação de Bori performance-arte: oferenda à cabeça, trabalho do artista visual baiano Ayrson Heráclito. Essa é a primeira vez que a performance, que estreou em 2008, será apresentada em Salvador. A  montagem, inspirada na prática de ofertar comidas para a cabeça em cerimônicas religiosas de matriz afro-brasileira, traz em cena 12 performers, como representações dos orixás do candomblé.

"O IC não tem a característica de ser um festival panorâmico, que só traz o que há de mais recente. A gente continua interessado nas coisas mais antigas, e considerava fundamental que Ayrson Heráclito, que é baiano, apresentasse esse trabalho aqui. Resolvemos peitar isso nessa colaboração, principalmente no ano em que evocamos a relação entre arte e conhecimentos de outras naturezas", comenta Jorge Alencar, um dos curadores da edição, sobre a retomada da obra onze anos depois. Coreografia-colagem MONSTRA, de Elisabete Finger e Manuela Eichner (SP) (Foto: Debby Gram/ Divulgação) Assim como nos anos anteriores, o IC faz questão de conectar a arte ao momento histórico e político que a sociedade vive. "Ano passado, que foi um ano de muitas tensões por conta das eleições, saímos com o lema 'arte como luta', enfatizando que a arte também é política. Esse ano, a gente segue em luta, mas se propondo a pensar outros modos de pensar e de ação, além dos modos que já estamos acostumados", explica Alencar.

Dentre os destaques da programação, a conversa-performance Norte-Nordeste Tudo É Terra Indígena, com Arissana Pataxó e Denilson Baniwa. Os dois artistas indígenas foram convidados a falar sobre como o ser indígena de cada um deles os leva a inventar um outro jeito de fazer arte, seja na Bahia, seja no Amazonas. O encontro gratuito acontece no sábado (24), às 16h, na Praça do Cacau, no Goethe Institut-Salvador.

Destaque também para a Peça Para Adultos Feita Por Crianças, de Elisa Ohtake (SP), que tem apresentações na sexta e sábado (23 e 24 de agosto), às 19h, no Teatro do Goethe-Institut Salvador. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

"O elenco é composto por cinco crianças brilhantes, que apresentam para gente um conceito que parece cabeçudo, o transumano, mas que nada mais é que pensar o mundo sem a centralidade da pessoa humana. Somos tão importantes quanto os animais, as pedras, a natureza, não somos detentores do mundo, e é possível que não exerçamos esse poder vertical. Elas trazem a cena Hamlet, de Shakespeare. E tudo isso nos lembra que não é a criança que aprende necessariamente com o adulto, a construção é conjunta, a partir da escuta. O jeito que elas elaboram esse conceito é muito especial, mutio sagaz, e quem se dispõe a escutar sai com uma sensação de que algo muito especial acontece", explica Alencar. 

Para ele, o grande propósito da edição é gerar visibilidade para uma série de conhecimentos que estão no mundo desde sempre, mas que nem sempre foram reconhecidos como tal. "Convidamos uma série de artistas que estão tentando conectar esse conhecimentos, esses outros saberes. Por muito tempo, o conhecimento ancestral feminino, que é revisto agora, foi tomado como bruxaria. As comunidades indígenas são detentoras de muito conhecimento, que não é esse sistematizado pela ciência", lembra. Peça Para Adultos Feita Por Crianças (Foto: João Caldas) Também por isso, outro objetivo do IC-Encontro de Artes é movimentar espaços culturais alternativos da cidade. Esse ano, além do Goethe-Institut e da Escola de Dança da Ufba, entraram na programação da Casa Charriot, no Comércio, e a Casa Rosada, nos Barris. Além de levar alguns espetáculos, o evento também retoma performances que estrearam lá. "A Casa Charriot vai receber festas e oficinas artísticas, mas rambém vao reapresentar Eu Nunca Tive Uma Barbie, que estreou lá. A gente quer levar o público para o contexto em que as obras nasceram, elas vieram daquele chão, daquelas paredes. Na Casa Rosada, serão apresentadas NUA e Processo Dilatado, que estrearam lá também", elenca.