Idade não é sinônimo de incapacidade

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  • Miro Palma

Publicado em 13 de dezembro de 2017 às 05:01

- Atualizado há um ano

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A gente sabe como o mercado de trabalho pode ser cruel. Diversos fatores podem afastar profissionais de postos de trabalho e, talvez, um dos mais cruéis deles seja a idade. E a crueldade não está na inevitabilidade dessa questão. Afinal, todos vamos envelhecer. Mas, porque, desde o início da vida profissional, todos buscam acumular experiência. E quando finalmente alcançam o objetivo, começam a ser vistos como peças obsoletas.

O gerente de futebol do Botafogo, Antônio Lopes, que tem um currículo invejável como treinador e como diretor técnico, está passando por isso. Em uma carta aberta, publicada em seu site oficial, fez uma queixa às duras críticas que vem recebendo de torcedores do time desde o fim do Campeonato Brasileiro e da não classificação do Botafogo à Libertadores. E a queixa em si não é contra a indignação dos torcedores que sonhavam com a tal vaga para a disputa de 2018, mas sim pelas ofensas à sua idade.

Os 76 anos que carrega não o incapacitaram. Nem um pouco. Três anos antes, com 73 e no mesmo cargo, contribuiu para que o Botafogo vencesse a Taça Guanabara e a Série B do Brasileiro; no ano seguinte teve a classificação para a Libertadores; e este ano, além de chegar às quartas de final da Libertadores, o time carioca ainda foi até a semifinal da Copa do Brasil. Quantos gerentes de futebol e diretores técnicos com menos idade não chegaram nem perto disso? Algum deles teve sua competência ligada à sua idade? Não, né...

Os exemplos de profissionais com idades já avançadas em alto nível de performance não são raros. O Bayern de Munique lidera o campeonato alemão tendo como técnico Jupp Heynckes, que abandonou a aposentadoria aos 72 anos para reassumir o time. O New England Patriots venceu o Super Bowl este ano, pela quinta vez, sob o comando de Bill Belichick, de 64 anos. Na Olimpíada do Rio, o sul-africano Wayde Van Niekerk levou a medalha de ouro e bateu o recorde mundial dos 400 metros tendo como treinadora Anna Botha, então com 74 anos.

E nem precisamos ir muito longe para constatar isso. Por aqui temos Zagallo, que dentre tantos títulos conquistou com a Seleção Brasileira as Copas das Confederações de 1997, quando tinha 65 anos, e de 2005, quando tinha 73 anos. E aqui na Bahia, ou melhor, no Bahia, vimos Paulo Cézar Carpegiani, no alto dos seus 68 anos, afastar completamente o tricolor da zona de rebaixamento e garantir o 12º lugar do Campeonato Brasileiro, sonhando com uma vaga na Libertadores até a última rodada.

Todos esses são exemplos de que a idade não é uma data de validade. Se foi o tempo em que a chamada terceira idade ficava em casa de pijama cuidando dos netos, como torcedores do Botafogo sentenciaram a Antônio Lopes. O tempo de vida não é garantia de sucesso, tampouco de insucesso. O que garante isso é a capacidade de cada profissional, suas habilidades, preparação, formação e experiência profissional.

Negar aos mais velhos o direito de trabalhar, subjugando-os como incapazes unicamente por causa da idade, não é somente uma agressão a quem já envelheceu, mas a você, também, mais jovem. Afinal, como eu disse antes, todos vamos envelhecer. E se não valorizamos o tempo, não ensinamos as próximas gerações a valorizá-lo. E, assim, só nos resta um destino: seguirmos nos tornando obsoletos.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras