Idosa é agredida a pedradas no RJ e família denuncia intolerância religiosa

Vizinha havia ameaçado matar Maria da Conceição, 65 anos, a quem chama de “macumbeira e feiticeira”

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Publicado em 20 de agosto de 2017 às 19:02

- Atualizado há um ano

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Uma idosa foi agredida a pedradas no bairro Cerâmica, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A família diz que a mulher foi vítima de intolerância religiosa. 

Segundo a filha da idosa, a vendedora Eliane Nascimento da Silva, de 42 anos, a mãe, Maria da Conceição Cerqueira da Silva, de 65 anos, foi agredida quando saiu de casa para ir ao mercado. A vendedora relatou que a mãe retornou com o rosto ensanguentado e ferimentos no braço esquerdo. 

Maria da Conceição é candomblecista e a família acusa uma vizinha de ter cometido a agressão, que ocorreu na última sexta-feira, por volta das 15h, por intolerância religiosa.“Ela veio da Bahia do interior com essa cultura dos ancestrais, da família e seguiu a educação que recebeu lá”, disse a filha.

A aposentada foi atendida no Hospital Geral de Nova Iguaçu, no bairro da Posse, e levou seis pontos na testa e três na boca. A idosa ainda não fez exame oftalmológico para verificar se o olho esquerdo foi afetado. Exame oftalmológico irá verificar se o olho esquerdo da idosa foi afetado (Foto: Acervo Pessoal) De acordo com a vendedora, a vizinha havia ameaçado matar Maria da Conceição, a quem chama de “macumbeira e feiticeira”. Além disso, teria dito que a família podia apresentar queixa na delegacia, o que não resultaria em nada.

Eliane entregou aos policiais os vídeos das câmeras de segurança, instaladas na porta da casa da mãe, que mostram o horário que ela saiu e voltou. O local da agressão, ao lado de um caminhão, no entanto, não está no ângulo das câmeras. “Essa moça chegou a ir na delegacia se fazendo de vítima dizendo que a minha mãe tinha uma tesoura para pegar ela. Só que as imagens mostram que a minha mãe não estava com nada na mão e essa menina não tinha um arranhão no corpo”, completou.

De acordo com a Polícia Civil do Rio, a agressão foi registrada na 58ª DP (Posse) e as investigações estão em andamento com diligências para apurar os crimes de lesão corporal e de injúria. A agressão não foi registrada como intolerância religiosa. 

Amanhã (21), a aposentada e parentes serão recebidos, às 13h30, na Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos. O órgão colocou à disposição da idosa e da família, assistência jurídica, psicológica e social. A secretaria informou que vai acompanhar as investigações e pedirá que a Polícia Civil registre o caso como intolerância religiosa.

Para o secretário Átila Nunes, casos como esse são inadmissíveis. “Esta senhora foi vítima, no mínimo, de dois crimes: intolerância religiosa e agressão contra idosos”, apontou.

Diante dos casos de intolerância religiosa que vem ocorrendo no Rio, o secretário defendeu a criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância . “Crimes como esse, que envolvem o preconceito não só religioso, mas também à pessoa idosa, precisam ser combatidos. Pedimos para quem for vítima de qualquer agressão motivada por intolerância ou preconceito, que entre em contato com o nosso Disque Combate ao Preconceito”, disse. Dados do Disque 100, de Direitos Humanos, indicam que, em 2016, foram registrados 79 casos de intolerância religiosa no Rio, um aumento de 119%, na comparação com 2015.