Igreja de Sant’Ana inaugura memorial em homenagem à Maria Quitéria e Padre Roma

Espaço em homenagem aos heróis nacionais fica no ossuário do templo católico

Publicado em 8 de abril de 2018 às 17:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes

O legado de Maria Quitéria e Padre Roma não será esquecido pelos fiéis da Igreja de Sant’Ana, em Nazaré. Considerados heróis nacionais, os dois ganharam um memorial localizado no ossuário da paróquia, inaugurado na manhã deste domingo (8).  Um monumento de mármore foi colocado nos fundos da Igreja para informar aos visitantes das duas figuras ilustres enterradas ali. 

A missa, que também foi realizada por causa do Domingo da Divina Misericórdia, segundo domingo do mês, levou moradores da região e personalidades da política baiana para a Igreja.  "Eu gosto daqui por ser uma igreja tradicional, além de muito bonita. Estou na expectativa para visitar o memorial", contou a técnica de enfermagem Jadiraci Braga, 57 anos, que vem à igreja sempre aos domingos.

A dona de casa Eny Santana, 30, veio à missa acompanhada da filha de apenas dois anos. "Que bom! Quero muito conhecer. Sempre trago minha filha pra essa igreja pra ela aprender desde pequena. Acho importante reservamos um tempo pra Deus", comentou quando soube do memorial. 

Descendente do Padre Roma, o ex-chefe de gabinete da Prefeitura de Salvador, João Roma, esteve na celebração de inauguração do memorial. "A alegria nossa enquanto descendente é de ver um resgate desses herois. O orgulho não é só para a família, mas para a Bahia para o Brasil. Tem um pedaço da história muito pouco revelada, pouco divulgada, que são os feitos realizados com a consolidação da independência do Brasil", disse, se referindo a movimentos como a Revolução Pernambucana, que vitimou o Padre Roma, e outros como a Revolução Praieira e o Dois de Julho.  Missa celebrou inauguração de memorial Foto: Almiro Lopes/CORREIO Quem também foi prestar homenagens aos heróis nacionais foi o presidente da Câmara Municipal , Léo Prates (DEM). O vereador completou mais um ano de vida na quinta-feira (5), mas veio receber a bênção do padre neste domingo. "É sempre importante resgatar a história de Salvador e da Bahia nas suas figuras que marcaram a história. São bons exemplos muito importantes pra sociedade", comentou. 

O memorial faz parte da restauração de todo o ossuário da Igreja, construída em 1747. A baiana Maria Quitéria morreu em 21 de agosto de 1853; Padre Roma foi fuzilado em Salvador em 29 de março de 1817 e seu corpo foi levado à Sant´Ana por paroquianos que comungavam da sua luta.

Durante a homilia, o pároco da igreja, José Abel Pinheiro, lembrou que nos séculos passados a Igreja Católica exigia que cada paróquia possuísse um cemitério contíguo. No século XX o cemitério transformou-se em ossuário. O costume de enterrar os mortos nas igrejas só foi mudado após a década de 1850, quando começaram a surgir as primeiras noções de higiene pública. Segundo explicações dadas à época, o ar poluído pela decomposição dos corpos poderia disseminar doenças.

O pároco da igreja, José Abel Pinheiro, revelou que no ossuário se encontram ainda os espólios de pessoas importantes para a sociedade da época e também de diversos religiosos. Entre as famílias notórias, se destacam a família Caymmi (1903); família Brigadeiro Francisco Vieira de Faria Rocha (1833) e família Conselheiro João José de Almeida Couto, o Barão do Desterro (1900).

Maria Quitéria (1792-1853): heroína da Independência A baiana Maria Quitéria de Jesus Medeiros tinha grande habilidade no uso de armas de fogo e lutou como voluntária contra as províncias que não reconheciam Dom Pedro como imperador. Ela teve atuação destacada em lutas importantes. Foi condecorada com a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. Natural da fazenda Serra da Agulha, na freguesia São José de Itapororocas, (hoje Feira de Santana), tornou-se exemplo de bravura nos campos de batalha, sendo promovida a cadete, em 1823. Maria Quitéria faleceu em Salvador, Bahia, no dia 21 de agosto de 1853, quase cega e em total anonimato.  

Padre Roma: fuzilado há 200 anos em Salvador  O advogado pernambucano José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, conhecido como padre Roma, foi fuzilado no Campo da Pólvora, em Salvador, há 200 anos. Ele foi um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817. Viera à Bahia buscar apoio para o levante - irrompido três semanas antes em Recife - que pretendia derrubar a Monarquia, separar o Brasil de Portugal e implantar a República. A Revolução Pernambucana de 1817 forma, ao lado da Inconfidência Mineira (1789) e da Revolução dos Alfaiates, na Bahia (1798), o conjunto das maiores revoltas separatistas ocorridas no Brasil.