Inauguração da Arena Fonte Nova faz seis anos; Cajá relembra gol

Iniciamos hoje uma série de matérias sobre Ba-Vis e personagens do clássico que marcaram os 40 anos do CORREIO

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  • Daniela Leone

Publicado em 7 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Robson Mendes/ Arquivo Correio

Seis anos se passaram desde que a bola estufou a rede da Arena Fonte Nova pela primeira vez. Após outros seis anos de espera entre interdição e reconstrução, o estádio foi reinaugurado no dia 7 de abril de 2013 e teve um camisa 10 como protagonista dentro das quatro linhas. Diante de 37.274 pagantes, o visitante Renato Cajá roubou a cena às vésperas da Copa das Confederações que seria realizada no Brasil dois meses depois e escreveu em vermelho e preto o nome na história do estádio.

Depois dele, astros do futebol mundial como Van Persie, Robben, Xabi Alonso, Thomas Müller e Benzema repetiram o feito na Copa do Mundo de 2014, mas sem o mesmo ineditismo. “Eu fiquei muito feliz por ter sido o primeiro a marcar um gol e ter ficado na história do estádio. Foi uma sensação muito especial”, afirma o meia, ao relembrar a marca com a camisa do Vitória na goleada por 5x1 no clássico Ba-Vi.

Em meio a risos, ele revela que havia premeditado o feito uma semana antes, durante uma atividade com os companheiros. “Eu até brinquei durante um treino de dois toques no Barradão que quem iria fazer o primeiro gol da Fonte Nova iria ser eu, mas falei de zoeira. Quando vi o pênalti, pensei: ‘vou ser eu mesmo’. Caio Júnior (técnico do Vitória na época) já tinha falado quem iria bater se tivesse pênalti e era eu. A gente treinou um dia antes e eu já estava escalado”.

Habilidoso em jogadas de bola parada, Renato Cajá converteu pênaltis por muitos clubes, mas nenhum tão impactante como o daquele dia. “Esse foi o mais importante”, admite. Sem graça por ter sido de pênalti? Que nada. A cobrança foi repleta de emoção. “Eu curti pelo jeito que foi, porque pênalti é sempre mais nervoso, mais apreensivo, a torcida toda está observando. Gostei pelo clima, pela adrenalina. Achei que valeu pela apreensão e nervosismo do lance”, avalia Cajá, que lembra com detalhes as emoções dos momentos vividos pouco antes dos 41 minutos do 1º tempo, quando a bola beijou a rede e abriu o placar da Fonte Nova.“Lembro que peguei na bola, olhei um pouco para a torcida, mas aquilo não me influenciou, eu me blindei, não deixei que nada pudesse tirar minha atenção para poder concluir com qualidade. Pedi a Deus e coloquei a bola, sempre olhando para o goleiro com confiança e com força. Lembro do nervosismo, de ficar apreensivo, mas depois veio a confiança para bater o pênalti com qualidade”.  Com o pé esquerdo, deslocou o goleiro e mandou a redonda certeira no canto direito de Marcelo Lomba. O camisa 1 do Bahia naquele ano se tornaria um grande amigo pouco tempo depois, mas naquele dia só viu a cor da bola quando foi buscá-la no fundo da meta. Estava aberto o marcador do jogo e da nova Fonte Nova. “Sair na frente num clássico é importante. A gente sabia que o Bahia tinha uma marcação forte, mas que se a gente saísse na frente eles iriam se abrir mais e, como a gente tinha jogadores rápidos pelos lados, teria mais facilidade para sair em contra-ataque com muita velocidade”, explica Cajá.

O Vitória foi para o intervalo em vantagem no placar e voltou para o 2º tempo com uma postura avassaladora. Maxi Biancucchi e Michel ampliaram. Zé Roberto esboçou uma reação tricolor, porém acabou sendo apenas o autor do gol de honra que não impediu a demissão do técnico Jorginho. Vander e Escudero deram números finais à goleada: 5x1.

Outra goleada No mês seguinte, o Vitória aplicaria mais um placar histórico no rival, sem gol de Cajá, por 7x3, e comemoraria o título estadual. Mais adiante, o rubro-negro faria boa exibição também na Série A do Campeonato Brasileiro. Naquele ano, o Leão terminou a competição nacional em 5º lugar e brigou até a última rodada por uma vaga na Libertadores da América.

“O time estava bem unido. Todo mundo se gostava. O ambiente do Vitória estava perfeito, o time deslanchou e chegou quase à Libertadores. Todo mundo se dedicava. Foi um ano muito importante pra gente. O ano de 2013 foi especial pra mim. O time foi campeão, eu fui (eleito para a) seleção do Baiano. Tivemos duas goleadas em cima do rival e ficou marcado pra mim”, lembra o jogador.

Aos 34 anos, ele já defendeu 14 clubes. Revelado pelo Mogi Mirim, Cajá vestiu a camisa de equipes como Ponte Preta, Grêmio, Botafogo e o próprio Bahia, pelo qual festejou o acesso à Série A do Brasileiro em 2016. Fez o mesmo com o Goiás no ano passado, última agremiação que defendeu. Atualmente, está sem clube.

O clássico do dia 7 de abril de 2013 tem lugar especial na memória de Renato Cajá. Eleito por ele um dos mais importantes da extensa carreira, o jogo está eternizado no mural da casa onde mora com a família em Campinas, interior de São Paulo. “Ficou marcado pelo placar elástico, pelo rival ser um time muito importante como o Bahia. Foi muito legal, especial e ficou marcado na minha vida. De vez em quando eu abro alguns arquivos no YouTube e assisto”, conta o meia, animado.

Cajá não estava sozinho algumas das vezes em que parou para reviver o gol histórico ao longo desses últimos seis anos. A filha Vitória, 11 anos, foi companheira em muitos momentos de nostalgia. Afinal, o tento foi dedicado à ela na época. “Ela gostou muito. Sempre mostro alguns lances. Foi para ela e para a minha esposa, Jeanne. Elas estavam na arquibancada”, completa o jogador. O filho Miguel nasceu um ano depois e hoje, aos 5, também curte as recordações do papai que escreveu o nome na história da Arena Fonte Nova.