Incêndio no Imbuí foi provocado por obras de limpeza em terreno

Alvará de supressão de vegetação foi concedido após derrubada de liminar

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  • Gil Santos

Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 16:24

- Atualizado há um ano

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As queimadas que assustaram os moradores do Imbuí, em Salvador, nesta terça-feira (15), faziam parte de uma obra de limpeza do terreno. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), um alvará de supressão de vegetação foi concedido após uma batalha judicial entre os proprietários, o Ministério Público do Estado (MP-BA) e ambientalistas.

Em nota, a Sedur informou que havia uma liminar do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) impedido que a limpeza fosse realizada, mas ela foi derrubada no dia 5 de janeiro, dando aos proprietários o direito de avançar com a limpeza do terreno.

“A Sedur esclarece que a área em questão está fora do poligonal do Parque de Pituaçu, conforme o Decreto Estadual 18.679/2018. Além disso, o órgão reitera que o Alvará de Supressão de Vegetação foi concedido em conformidade com a legislação ambiental”, diz a nota.

Alguns moradores ficaram assustados com a intensidade das chamas e registraram as queimadas em fotos e vídeos. Um lavador de carros, que pediu para não ser identificado, contou que estava trabalhando, no Bate Facho, quando percebeu a fumaça e o fogo.“Muita gente saiu de casa correndo, porque ficou com medo. As chamas estavam muito altas e muito perto das casas. Tenho uma filha de 9 meses e a gente também precisou sair, por conta da fumaça. Foi um susto danado”, contou.Outro morador reclamou que a comunidade perdeu o único local de lazer, um campo de futebol improvisado que funcionava dentro do terreno. “Eles cercaram toda a área com arame farpado e começaram a obra. A gente perguntou o que estava acontecendo, mas eles disseram apenas que aquela era uma área particular. A vegetação já tinha sido desmatada e, nesta terça, eles colocaram fogo”, disse.

 

Quem mais lamentou o fim do campo de futebol foi o morador Evandro Abade, 57 anos. Ele tem um projeto social que atende cerca de 100 crianças do Bate Facho e de comunidades vizinhas. “A gente usava o campo de futebol que tinha no terreno para dar aulas. Eu levo os meninos para a treinar na praia também, mas nem sempre essa logística é possível”, disse.

Segundo a Sedur, a liminar solicitando o embargo da supressão, que foi derrubada no dia 5 de janeiro, foi protocolada pelo Ministério Público (MP-BA) e pelo Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá). Já a empresa responsável pela obra é a Al-Teix Patrimonial LTDA.

Queda de braço  A queda de braço entre os ambientalistas e os proprietários do terreno começou em novembro do ano passado, quando foi publicado um decreto pelo governo do estado retirando o terreno da área de proteção ambiental do Parque de Pituaçu, e reconhecendo que o trecho que vai até o limite com a comunidade do Bate Facho, no Imbuí, é particular.

Segundo a conselheira do Parque de Pituaçu, Marcele do Valle, o terreno tem cerca de 400 mil metros², mas já foram desmatados cerca de 12 hectares - uma área equivalente ao tamanho de 12 campos de futebol.

"Acionamos a justiça questionando o decreto porque ele é ilegal. Esse tipo de separação precisa acontecer através de lei. Além disso, ainda que o terreno seja particular, caberia ao governo fazer a desapropriação e manter a área sob proteção ambiental", afirmou.

O pedido dos ambientalistas foi aceito pela justiça em dezembro, quando foi expedida uma liminar que suspendeu a supressão de vegetação e proibiu o desmatamento no terreno. No dia 5 de janeiro os proprietários conseguiram reverter o jogo, derrubando a liminar.

"Mesmo assim eles estão agindo de forma ilegal. Nenhuma legislação autoriza o uso do fogo para supressão de vegetação. Eles poderiam retirar a vegetação, e até vender o material, mas não queimar. Colocaram os moradores em perigo", contou Marcele.

Os ambientalistas vão recorrer da decisão.

Meio ambiente O CORREIO procurou os órgãos responsáveis pelo meio ambiente para saber sobre os impactos da ação. A Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (Sema) direcionou a demanda para o Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), que informou que o terreno fica em área urbana, não fiscalizada pelo órgão.

Já a Polícia Militar, informou que a Companhia Independente de Polícia de Proteção Ambiental (COPPA) não foi acionada para atender essa ocorrência, e orientou que o cidadão que encontrar algum animal silvestre, ferido ou não, deve entrar em contato com os policiais através do 190.

Em nota, a Secretaria da Cidade Sustentável e Inovação (Secis), por sua vez, declarou que a área é particular e que a obra está dentro do que é exigido pela lei.

"O lugar onde houve a ocorrência é uma área particular, na qual os proprietários já estão retirando os resíduos de supressão atingidos pelo incêndio. Nesse caso, não foi necessário o acompanhamento da Secis no local, uma vez que o Alvará de Supressão de Vegetação já havia sido concedido pelo órgão competente (Sedur), em conformidade com a legislação ambiental", diz a nota.

Procurados, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o MP-BA não se pronunciaram.

O CORREIO ainda tentou contato com o Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá) e com a empresa Al-Teix Patrimonial LTDA, sem sucesso.