Índios voltam a ocupar fazenda de Geddel em Itapetinga

Polícia Militar informou que são índios na fazenda Esmeralda

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 26 de dezembro de 2017 às 20:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

A família do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) voltou a ser incomodada por índios da etnia Pataxó Hã-hã-hãe que invadiram novamente as terras do clã no final de semana de Natal, em Itapetinga, Sudoeste da Bahia. Antes, a área foi ocupada por 14 dias entre o final de setembro e início de outubro deste ano.

A Polícia Militar informou que há 30 índios na fazenda Esmeralda, localizada no povoado de Palmares e uma das que foram alvo das ocupações anteriores. Os índios ocuparam a fazenda dizendo que no local há antigos cemitérios indígenas, o que já foi negado pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

“Enviamos equipes para o local e estamos tentando fazer com que eles deixem a fazenda de forma pacífica”, disse o subtenente da PM Paulo Geonani Fagundes Ribas. Segundo ele, não foi registrada ocorrência de violência na ocupação. (Foto: Blog Políticos do Sul da Bahia/Reprodução) O caso está sendo acompanhado também pela Polícia Civil - a queixa de invasão à fazenda foi prestada na manhã desta terça-feira. “Não fizemos ainda diligência no local. O que podemos afirmar é que é o mesmo grupo que fez as ocupações anteriores”, disse o delegado Irineu Andrade.

O imóvel de 643 hectares faz parte de um conjunto de doze fazendas que somam mais de 9 mil hectares e estão avaliadas em cerca de R$ 67 milhões. O primeiro título da propriedade é de 1937, época em que o Governo da Bahia fez doações de diversos títulos de terra na região.

Pânico Os advogados da família de Geddel não foram localizados para comentar o caso. Em outubro, uma semana após a ocupação na Esmeralda, índios e grupos ainda não identificados causaram pânico na zona rural de Itapetinga, Potiraguá, Itarantim, Pau Brasil e Itaju do Colônia, com a ocupação de 25 fazendas.

Os grupos, em sua maioria, estavam armados e usando tocas brucutu, levaram objetos das fazendas, como TVs, rádios, celas, arreios, facas e facões, e fizeram de reféns os funcionários. Até comida uma das vítimas foi obrigada a fazer para o grupo de invasores. Eles bloquearam ainda a estrada com um caminhão quebrado para dificultar o acesso da polícia.

A maior parte das fazendas ocupadas foi em Itaju do Colônia (14 propriedades) e Itapetinga (11). As propriedades passaram a ser desocupadas com uma ação conjunta das polícias Civil e Militar no dia 2 de outubro.

Durante a operação, em uma outra fazenda da família de Geddel, a Tabajara, em Potiraguá, um homem foi preso por porte ilegal de arma de fogo. Ele estava com uma espingarda escondido em um cômodo do imóvel. Na fazenda foram apreendidos uma espingarda sem cano, uma moto e dois veículos por irregularidades administrativas. 

Apesar da justificativa dos índios de afirmar que as ocupações se deram porque a área era sagrada, devido a suposta existência de cemitérios indígenas, a Funai emitiu uma declaração afirmando que na área não há demanda indígena por criação de reserva.

Ação de 30 anos Na região, em território de Itaju do Colônia, existe a reserva indígena Caramuru-Catarina Paraguaçu, de 54 mil hectares. A área foi considerada de habitação tradicional indígena em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), numa ação que durou 30 anos, uma das mais longas do tribunal.

Foram índios dessa reserva que estavam nas ocupações anteriores e que estão nessa de agora. Eles querem a ampliação da área para mais cerca de 130 mil hectares, baseados na Lei Estadual nº 1916 de 1926, que destinou na época 50 léguas quadradas para a preservação de recursos florestais e para a proteção de índios Pataxó, Tupinambá e outros que lá fossem encontrados. A área total desse decreto nunca foi demarcada.  

A Associação Nacional de Ação Indigenista (Anai), entidade que defende os direitos dos índios, chegou a declarar na época que a ocupação indígena na fazenda de Geddel “parece mais um protesto, devido ao momento político”.

Na Papuda Ex-ministro da Secretaria de Governo e Integração Nacional, Geddel está preso preventivamente desde o dia 8 de setembro no Presídio da Papuda, em Brasília.

A prisão ocorreu depois de a Polícia Federal encontrar digitais do político em cédulas de dinheiro encontradas em um apartamento ligado a ele, onde malas guardavam mais de R$ 51 milhões.

Por causa disso, dia 4 de dezembro a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) Geddel e o irmão dele, o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB), pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Geddel é suspeito de desviar dinheiro da Caixa Econômica Federal na época em que foi vice-presidente de pessoa jurídica do banco, entre 2011 e 2013. A defesa dele nega que houve desvio de dinheiro.

Também foram denunciados pelos mesmos crimes a mãe de Geddel e Lúcio, Marluce Vieira Lima, o ex-assessores do deputado, Job Brandão, o ex-diretor da Defesa Civil da capital baiana Gustavo Ferraz e o empresário Luiz Fernando Costa Filho.