Inovar é essencial para melhoria na qualidade do ensino

Especialistas defendem importância do papel do professor na escola do futuro, mas divergem sobre como tecnologia deve ser aplicada nas aulas

  • Foto do(a) author(a) Wladmir Pinheiro
  • Wladmir Pinheiro

Publicado em 25 de outubro de 2015 às 16:34

- Atualizado há um ano

Com tanta tecnologia, como fica o papel do educador nos próximos anos? Que escola se pretende para formar o capital humano brasileiro? O professor da University of California-Berkeley, Naeem Zafar, defende o uso da tecnologia, como tablets e programas especiais, em sala de aula. A diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, avalia que a inovação é mais importante do que lousas eletrônicas, holograma e robôs, no processo de aprendizagem. Ambos, no entanto, concordam que o ensino de qualidade é a base para todas as transformações.

Naeem reforça que, apesar das tecnologias, o professor não será substituído. “Não estamos substituindo-os, estamos assistindo-os. Hoje, o trabalho do professor é muito difícil e, por isso, a qualidade do ensino cai. Temos que engajar, envolver os professores e eles também vão trabalhar como mediadores”, defende.Priscila Cruz: "Inovar significa mudar o sistema de ensino" (Fotos de Arisson Marinho/CORREIO)Priscila acompanhou um dos projetos citados por Naeem, no Quênia, em que a tecnologia tem papel importante no aprendizado. Segundo ela, o professor precisa ter um papel mais ativo. Priscila Cruz defende mudanças no sistema atual de ensino, mas que essa mudança não passe pela implementação de tablets e parafernálias para alunos.

“Inovar significa mudar o sistema educacional de ensino. É a escola que precisamos para o futuro que queremos. Não pensar em inovação é desistir de garantir esse futuro melhor, mais interessante e mais sintonizado como século 21”, acredita.

Durante sua palestra, Priscila mostrou que o sistema de ensino não conseguiu avançar, diferente de outras áreas. A especialista citou como exemplos os hospitais, que mudaram radicalmente nas últimas décadas. “Programas que envolvem a família e a escola, por exemplo, são excelentes iniciativas. É preciso ver que a escola não é só um quadrado concreto, onde a educação só acontece lá dentro, com disciplinas a cada 50 minutos. A gente precisa inovar no modelo, e nesse modelo pode ter tecnologia”, defende Priscila.

Nesse mesmo ideal de inovar, o secretário de Educação de Salvador Guilherme Bellintani citou como exemplo de mudança na estrutura, articular pais, alunos e professores no projeto Agentes da Educação, iniciado neste ano em escolas públicas do município.

O projeto prevê que cada escola tenha um estudante de Pedagogia, que ficará responsável por acompanhar a frequência dos alunos e servir como uma ponte entre os pais e a escola. O objetivo é combater a evasão escolar, um dos principais problemas da educação. “Há uma série de coisas que precisam ser resolvidas antes de colocar um tablete na mão de cada aluno”, defende.

O secretário estadual de Educação, Osvaldo Barreto, também defendeu os processos de inovação nas escolas do estado. Mas acredita que não é possível mais negar o uso de tecnologias em sala de aula. Para Barreto, os estados devem ser tratados de maneira diferenciada para qualificar o ensino dos jovens. Fernando Veloso, PhD em Economia pela Universidade de Chicago defende a tecnologia aliada à mudança no perfil dos professores.

“O grande papel da tecnologia na educação é facilitar. Na turma, há pessoas com diferentes capacidades, alguns acompanham rápido, outros precisam mais de ajuda. Então a tecnologia permite você fazer isso em diferentes ritmos”, diz Veloso.

Educação básicaDebate entre Guilherme Bellintani, Osvaldo Barreto e Priscila Cruz sobre educação e tecnologiaFazer o simples. Sem inovações tecnológicas, mas apostando no contato maior entre as escolas e a secretaria de Educação, em ações corriqueiras como limpeza e poda de árvores, o secretário Guilherme Bellintani aposta na implementação efetiva de 112 ações para revolucionar o sistema de ensino de Salvador.

“Cada ação tem orçamento bem definido, com monitores responsáveis por acompanhar cada projeto, modelo de gestão. Dessa forma, conseguimos mobilizar a rede toda, os gestores pedagógicos, as famílias e as crianças. É preciso buscar impacto real. A grande inovação é fazer o simples”, defende.

As ações servem para chamar atenção para a gestão do ensino fundamental, onde, segundo o secretário, está a base do qual saíram alunos bem ou mal preparados. “A real transformação se dá por meio da educação básica. A transformação para essa nova realidade na educação se dá nos municípios”, defende Guilherme Bellintani sobre a necessidade de se redefinir a prioridade nos repasses de dinheiros para a educação básica. Segundo ele, o modelo atual distribui o dinheiro de forma desigual. 

Celulares e tablets 

Produtos como celulares e tablets, redes sociais como Whatsapp, Facebook e Instagran, são parte da realidade diária dos estudantes brasileiros. O caminho para aproveitar bem a tecnologia no processo educacional passa pela capacidade de ajudar a garotada que as ferramentas utilizadas para a interação são um caminho para o aprendizado, defende do secretário de Educação da Bahia, Osvaldo Barreto.

“A escola precisa estar aberta para o uso da tecnologia. O celular e o tablet já fazem parte da realidade de nossas crianças e de nossos adolescentes. Nós precisamos orientar esse uso para o aprendizado. Os estudantes precisam ver esses materiais como uma possibilidade de pesquisa”, acredita.

Mas existem alguns desafios que impedem o processo de funcionar adequadamente. Um dos maiores está na falta de infraestrutura adequada para o acesso à banda larga em algumas regiões do estado. “Em alguns lugares, a escola tem uma rede wifi, o aluno está lá com o celular, mas a rede não suporta que se abra para o acesso irrestrito dos alunos”, lamenta. O jeito é limitar o acesso, diz.

Educação pelo mundo

*Vale do Silício - Escolas de São Francisco, na Califórnia (EUA), já começam a mudar por influência do Vale do Silício e da Universidade de Stanford, que têm orientação para inovação. Existem projetos que reorganizaram a sala de aula, o papel do professor e usam a tecnologia como apoio para viabilizar ideias que há 20 anos não funcionariam.

*i-Zone - Em Nova York, por orientação do governo, há um incentivo à inovação. Escolas foram liberadas de cumprir algumas burocracias para serem mais inovadoras, na chamada i-zone (innovation zone, zona de inovação, em inglês)

*Disciplinas – Na América Latina, há experiência na Colômbia, no Peru e no Uruguai, em que escolas testam novos modelos de abordar os assuntos em aulas que integram mais de uma disciplina. No Brasil, apesar de não serem proibidas as disciplinas integradas, por lei, há uma acomodação, segundo Priscila Cruz.

*Bolo dividido - Países adotam a divisão de responsabilidades na educação entre governos e empresas para melhorar ensino dos jovens.

[[saiba_mais]]