Instrumento de PVC? Conheça o projeto que tem dado o que falar no Centro

Em cartaz no Espaço Coaty até setembro, ocupação artística InstruMentes cria esculturas sonoras; veja vídeo

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  • Laura Fernades

Publicado em 19 de junho de 2019 às 06:00

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. por Foto: Marina Silva/CORREIO

Parece que a região está deserta, mas é só descer a Ladeira da Misericórdia, no Centro Histórico, para escutar as primeiras notas musicais e entender que há vida por trás das paredes de concreto. O som vem do Espaço Coaty que, depois de três anos fechado, ganhou fôlego com a movimentação cultural do projeto InstruMentes - Música para (re)Invenção, instalado por lá de maio a setembro com residências artísticas, oficinas, apresentações gratuitas e exposição.

Com várias etapas, o projeto busca estimular a experimentação sonora. A começar pela construção de instrumentos musicais a partir de materiais pouco convencionais, como tubo de PVC e vigas de madeira de restos de obras, além de cabaça e bambu. Criados em oficinas voltadas para alunos de projetos sociais como Neojiba, Quabales e Rumpilezzinho, os instrumentos já testados por eles serão expostos de 1º de agosto a 1º de setembro no próprio Coaty, com visitação gratuita. Fernando Sardo é luthier (Foto: Divulgação) “A riqueza maior que tem nesse trabalho da diversidade de matéria-prima é justamente que ele me dá timbres e sonoridades diferentes”, ressalta o multi-instrumentista, compositor e artista plástico paulista Fernando Sardo, 55 anos, que também é luthier:  profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos, com quase 40 anos de experiência.

Pioneiro nas apresentações de música dentro da Bienal de Artes Plásticas de São Paulo e com atuação no projeto da Orquestra de Plástico do Neojiba, Sardo é consultor do InstruMentes. Além disso, o luthier foi responsável pela primeira etapa de oficina e residência artística do projeto, realizada entre maio e junho. No processo, compartilhou com os alunos um pouco do conhecimento e das inspirações criativas.

Escultura sonora Até perceber “o instrumento como uma escultura sonora”, Sardo bebeu na fonte de músicos orientais e do pesquisador e músico suíço-baiano Walter Smetak (1913-1984), responsável por inovar a forma de criar a música na Bahia e no mundo.“Não existe uma forma certa ou errada para fazer um instrumento, nem mesmo a música. É um universo de pesquisa e descoberta, onde o artista se aproxima de um cientista”, compara o luthier.Foi pensando em reunir esses e outros discípulos de Smetak que surgiu o InstruMentes. Idealizadoras do projeto, Alana Silveira, 29, e Lívia Cunha, 33, queriam ver “onde essa semente da criação de novos sons estava plantada”. Por isso a decisão de reunir esse time na formação na música experimental. “O que inspira a gente é essa ideia de Smetak da música experimental ser uma nova forma de ensinamento, de despertar a sensibilidade para além do tradicional”, explica Alana.

Por isso, além das oficinas de instrumentos orgânicos, o projeto terá uma vivência musical com instrumentos virtuais, conhecidos como tecnologias Midi. O músico, produtor musical e artista multimídia brasiliense Victor Valentim, 30, é quem vai realizar a próxima oficina marcada para julho, exclusiva para os alunos já citados, além de projetos sociais como o Axé, Pracatum e a Didá.

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Victor, que também fez parte da primeira residência com Sardo, vai trabalhar em cima dos instrumentos criados por ele. O resultado fará parte da exposição que será inaugurada em agosto e inclui uma instalação sonora já criada por Victor, chamada Aciabáss. Resultado da união de uma bacia de metal com um alto-falante, a Aciabáss cria “esculturas” de água em tempo real, já que  o som grave gera novas formas na água. Tudo isso acontece a partir de um tapete interativo que, ao ser pisado pelo visitante, faz a água vibrar.

“Essa busca por novos sons fomenta a criação musical coletiva”, elogia Victor, que é professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). “A gente pensou mesmo em um processo compartilhado, que fizesse a pessoa sair do isolamento do ateliê dentro de casa. Pensamos nisso com a esperança de provocar eles a se influenciarem”, reforça Lívia Cunha.

 A partir desse intercâmbio, Victor pretende mostrar que “a música é um produtor do coletivo” e sua evolução acontece no sentido humano. “A tecnologia é só um instrumento”, reflete. Apesar disso, o professor destaca que música e tecnologia andam juntas e “o casamento das duas gera resultados interessantes”. “As experiências sonoras não vão contra a tradição, elas são novas abordagens de como criar música de uma nova maneira”, garante.

Programação InstruMentes: Música para (re)invenção 

Oficinas Vivência musical com instrumentos reais e as tecnologias MIDI acontece de 9 a 12/7, das 13h30 às 17h30, com Victor Valentim

Residências artísticas De 15 a 20/7, com Sofia Galvão (PE), Marco Scarassatti (SP/MG) e Roberto Michelino (SP)

Apresentação Caossonância  Resultado das residências artísticas, apresentação acontece dia 20/7, a partir das 17h, com Sofia Galvão (PE), Marco Scarassatti (SP/MG) e Roberto Michelino (SP). Entrada gratuita.

Exposição As obras construídas durante a ocupação serão expostas de 1/8 (com apresentação musical e performances na abertura) a 1º de setembro. Entrada gratuita.