Internet ajuda a aproximar crianças da leitura na quarentena

Apps e redes sociais são ferramentas que pais podem usar neste Dia Nacional do Livro Infantil (sábado, 18)

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  • Roberto Midlej

Publicado em 17 de abril de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo Correio

Neste sábado (18), é celebrado o Dia Nacional do Livro Infantil e esse é um ótimo pretexto para se falar sobre a literatura dedicada às crianças. Que tal aproveitar que está em casa e sentar com seu filho ou sua filha para ler aquele livro que está esquecido na estante? Ou, quem sabe, é uma chance de os pais contarem aos filhos uma história que marcou sua infância?

A baiana Emília Nuñez já escreveu 14 livros para os pequenos e mantém no Instagram o perfil Mãe Que Lê (@maequele), onde faz contação de histórias e tem mais de 130 mil seguidores. Desde o início da quarentena, a escritora lê diariamente às 11h um livro infantil. Desde o início do isolamento, calcula ter lido ao menos 50 publicações em lives, que ficam disponíveis por 24h. "No Instagram, estimulo a leitura em família e falo sobre a experiência de ler com os meus filhos, uma menina de cinco anos e uma menina de seis. No início da quarentena, houve um aumento espontâneo no número de acessos. Depois, no Instagram, os contadores acabaram se movimentando mais e indicando uns aos outros", diz Emília.

Anos atrás, podia-se imaginar que as editoras, por questões de direitos autorais, resistiriam em permitir iniciativas como a de Emília. Mas as empresas começaram a perceber que, principalmente no caso das crianças, os instagramers podem ser importantes aliados, já que impulsionam a divulgação dos livros. Além disso, o público infantil gosta de repetir a leitura e assim, muitas vezes, os pais acabam comprando os livros para elas.

Quarentena

Para Emília, a quarentena pode ser vista como um momento para aproximar a criança da leitura, já que elas estão confinadas: "É como diz aquele clichê: 'a leitura é uma forma de viajar sem sair de casa'. Assim, a criança pode acessar outros mundos de forma lúdica, leve. O livro ajuda a falar sobre vários temas importantes, num momento de crise como este".

O gaúcho Volnei Canônica, que dirige peças de teatro para crianças e tem especialização em literatura infantil e juvenil, também acredita que a quarentena pode aproximar a criança dos livros: "Muitas plataformas digitais estão aproveitando para divulgar seus livros e há muitas lives de contadores. Em casa, o momento de leitura pode ser usado como integração entre a criança - que está começando a experiência como leitora - e o adulto, que já é um leitor experiente". 

É uma ocasião também que pode ser aproveitada para os pais escutarem melhor os filhos, já que estão em casa por mais tempo. "É hora de os pais perceberem por exemplo, as dificuldades da criança, que palavras ela não entende".

Para Volnei, os pais devem também ficar atentos aos medos e angústias das crianças diante do problema do coronavírus. "Por mais que não falemos, por exemplo, sobre morte com elas, para resguardá-las ou protegê-las, ela percebe, pois estamos com a TV ligada ou lendo algo no celular. A criança não está alheia a isso, ela também tem medo da morte ou da solidão".

Medo

"A arte e a literatura trabalham no subjetivo. A criança tem medo do lobo mau da história, mas não é exatamente do lobo. Ela tem medo de ficar sozinha, medo do escuro, de ser abandonada... essas coisas são construídas em cima de um arquétipo do personagem", acrescenta o especialista.

Vale lembrar que o compositor Chico Buarque já se arriscou como escritor infantil e Emília sugere um livro dele para as crianças lidarem com o medo: Chapeuzinho Amarelo. Foi uma das histórias que contou numa live no período da quarentena e teve uma participação entusiasmada nas crianças. No livro, a garotinha que tem medo de tudo não conseguia sequer se divertir, de tão medrosa que era. Mas, depois de finalmente enfrentar o Lobo, ela dá uma lição de coragem e de como superar o medo. A publicação tem um charme a mais: as ilustrações de Ziraldo.

O Dia Nacional do Livro Infantil é celebrado no dia 18 de abril em homenagem ao mais popular escritor brasileiro voltado para esse público, Monteiro Lobato (1882-1948) , nascido neste dia. Criador do Sítio do Picapau Amarelo, ele tem sido acusado, nos últimos anos, de ser racista e preconceituoso.

Monteiro Lobato

Volnei comenta a escolha da data: "Precisamos entender a importância de Monteiro Lobato como escritor e como formador de grandes escritores, que o tiveram como referência. Além disso, foi tradutor, livreiro, editor e autor de um bestseller clássico [o Sítio] que trouxe para a nossa literatura elementos da literatura universal clássica".

O gaúcho destaca ainda a importância da personagem Emília, criada por Lobato e que, para diversas gerações, é uma heroína. "É uma das personagens mais importantes da literatura universal e o mundo inteiro a conhece. É uma boneca de pano que, por ter o desejo de ser um humano, é mais humana que qualquer ser humano".

Mas Volnei não nega as acusações de que o escritor era racista. "Sim, ele era racista e isso está nos livros dele. Se escrevesse hoje algumas coisas que escreveu naquela época, estaria preso. Não vou 'passar pano' para ele. Devemos usar a obra dele para discutir o racismo. Mas não podemos excluir os livros dele de nossa história, pois isso não diminuiria o racismo", diz Volnei, que preside o Instituto de Leitura Quindim, em Caxias do Sul (RS), cujo nome faz referência a um dos personagens criados por Lobato.

Curta com as crianças Bamboleio

Uma biblioteca digital de livros para a infância, que permite acesso prático às pulbicações. Quem se cadastra tem direito a 14 dias grátis e a assinatura nesal custa R$ 19,90. O aplicativo oferece também um material de apoio para o adulto mediador da leitura. Fafá Conta

No YouTube e no Instagram, a atriz Flávia Scherner conta histórias modernas e clássicas para as crianças desde 2015. A linguagem é adequada para os pequenos, com efeitos sonoros e edição que lembram os desenhos animados. Num dos vídeos, Fafá sugere como explicar o coronavírus para crianças.

O Livro Maluco das Poções Mágicas

Não seria maravilhoso ter uma poção para cada momento da vida? Com magia, imaginação e poesia, Leo Cunha traz um livro repleto de fantasia e poções mágicas. Com ilustrações que convidam para uma leitura visual inusitada, Mariana Massarani convida o leitor para uma mergulho na imaginação além do tradicional mundo do conto de fadas. "Leo é um poeta mineiro muito bacana, que brinca de uma ótima maneira com as palavras", diz Volnei Canônica. Emília Nuñez

A escritora baiana, autora de livros como A Menina da Cabeça Quadrada, Emília também conta história no Instagram Mãe Que Lê, que tem mais de 130 mil seguidores.