Investigação sobre João de Deus se concentra em 15 casos

Advogado nega saque de R$ 35 milhões e vai pedir domiciliar para o médium

Publicado em 16 de dezembro de 2018 às 20:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Estadão Conteúdo

O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, disse neste domingo, 16, que a investigação sobre as denúncias de abuso sexual contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, vai se concentrar em 15 casos e que a polícia irá focar, a partir de agora, a "formação da prova".  "A polícia civil está analisando caso a caso e está se concentrando na questão do abuso (sexual). O grande desafio é provar essa situação. A Polícia Civil persiste focada na formação da prova. Tem muitos crimes que estão prescritos, mas vítimas que comparecem atuarão como testemunha", afirmou. João de Deus está, neste momento, na Delegacia Estadual de Investigação Criminal (Deic) em Goiânia (GO), onde prestará depoimento sobre as denúncias de abuso sexual. Após ser interrogado, ele será levado ao Instituto Médico Legal para exame de corpo delito. Em seguida, o líder religioso será encaminhado para o Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia para cumprir prisão preventiva. O líder espiritual teve o mandado de prisão decretado no fim da manhã de sexta-feira, 14, e se entregou às autoridades somente na tarde deste domingo. O delegado-geral negou que a Polícia Civil estivesse preocupada com uma possível fuga do acusado. "Tínhamos situação controlada. A apresentação espontânea só se deu após várias técnicas utilizadas, aprendida por grandes delegados. É o momento agora da Polícia Civil confeccionar suas provas", afirmou. André Fernandes afirmou também que, caso a investigação aponte para a participação de funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola nos supostos crimes cometidos, essas pessoas também serão alvos do inquérito policial. "Se as investigações provarem isso, que houve qualquer tipo de conivência, essa pessoa será trazida para dentro da investigação. Com certeza (cúmplices podem ser punidos)."

Domiciliar A defesa do médium  apresenta nesta segunda-feira (17) pedido de habeas corpus para que ele cumpra em casa a prisão preventiva. A informação foi dada, há pouco, em entrevista coletiva, pelo advogado Alberto Toron, defensor do médium. O advogado quer que sejam considerados a idade e o estado de saúde de João de Deus. O médium passará a noite de domingo na prisão.

Toron disse que,ao se entregar à polícia, João de Deus não passou mal, apenas tomou um medicamento para baixar a pressão. O advogado reiterou que o médium tem saúde debilitada, é idoso e já passou por um câncer. Ainda hoje ele será submetido a exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML).

O advogado Ronivan Peixoto Morais Júnior, que também defende o médium, negou que ele tenha escolhido se entregar em uma estrada de terra na região de Abadiânia, em Goiás, por questão de estrategia. Em entrevista coletiva, Ronivan Júnior disse que o local foi escolhido para “preservar” o médium. De acordo com informações da polícia, houve uma longa negociação para ele se entregar.

Inocência Ronivan Júnior, que esteve todo o tempo ao lado de João de Deus, voltou a defender a inocência do cliente e disse que a defesa quer discutir a legalidade da prisão. O advogado informou que entrará amanhã com pedido de habeas corpus para garantir o direito de ir e vir do médium.

O advogado Alberto Toron defendeu o cumprimento de prisão domiciliar, considerando a idade e o estado de saúde do médium: “Respeita a Justiça e o Poder Judiciário.”  Como Ronivan Júnior, ele negou que seu cliente seja culpado. “Tenho estranheza que fatos acontecidos há 30 anos sejam conhecidos agora”, afirmou.

Dinheiro Questionado sobre a movimentação de cerca de R$ 35 milhões nas contas de João de Deus, o advogado considerou “normal”. De acordo com Toron, o médium não sacou o dinheiro, apenas retirou de aplicação. “O dinheiro não foi sacado, [ele] apenas baixou as aplicações”, afirmou. Com isso, “caiu por terra” a suspeita de fuga.

Além disso, acrescentou o advogado, João de Deus se manteve nas “cercanias” de Abadiânia e não deixou o estado de Goiás.

Filha Ronivan Júnior disse que teve acesso a vídeos e depoimentos de Dalva Teixeira, filha de João de Deus, que acusou o pai de abuso sexual e estupro. Segundo o advogado, a mulher chegou a pedir desculpas para o pai e negar as acusações. Ele disse que a mulher foi levada por pressão familiar a fazer as denúncias.

Tanto Ronivan Júnior quanto Toron levantaram dúvidas sobre a credibilidade das mais de 330 denúncias de abuso sexual feitas contra João de Deus. Ronivan ressaltou que os atendimentos eram feitos em um espaço transparente, enquanto Toron disse estranhar que uma vítima retornasse ao local onde foi agredida.