Itapuã: ato denuncia invasões como responsáveis por secar Abaeté

Ambientalistas, comerciantes e comunidade querem resgatar tempos áureos em que lagoa recebia visitantes do mundo inteiro

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 9 de junho de 2018 às 19:21

- Atualizado há um ano

A fotografia impressa em um banner mostra uma vegetação exuberante e muita água escura arrodeada de lavadeiras e areia branca. Ou seja: a reprodução exata da letra de Caymmi. Inspirado por imagens como essa, que remontam o lindo cenário dos tempos áureos, o Fórum Permanente de Itapuã realizou um ato neste sábado (9). O objetivo é justamente chamar a atenção das autoridades e da sociedade civil para a necessidade de fiscalizar as ocupações da região, que, junto com as mudanças climáticas, seriam responsáveis por fazer a lagoa secar.

Na tentativa de resgatar uma época em que a Lagoa do Abaeté era ponto de visitação internacional, o ato reuniu Ongs, comerciantes, instituições de ensino, representantes de grupos culturais e de diversas comunidades de Itapuã - Alto do Abaeté, Alto do Coqueirinho, Largo de Cira, Vila Militar, Sereia e KM-17. “A gente está aqui clamando não só a atenção das autoridades, mas também da comunidade de Itapuã, para que não esqueçam do Abaeté. A ocupação irregular do entorno da lagoa está fazendo ela secar. Cuidando do meio ambiente e da infraestrutura, acreditamos que podemos transformar esse cenário de violência e abandono”, afirmou Tato Rezende, músico, morador do bairro e um dos organizadores do ato. Seu Ulisses, de 76 anos, lembra do tempo em que as famílias eram sustentadas pelas lavadeiras do Abaeté (Foto: Roberto Abreu) O que Tato e os mais jovens querem tornar real ainda está vivo na memória das lavadeiras e dos moradores da velha guarda. É a partir do relato deles que o Fórum pensa ações, elabora projetos e incentiva as comunidades. “A lagoa vinha aqui em cima. Hoje eu vejo um quinto da lagoa. Parece uma poça”, lamenta Ulisses dos Santos, 76 anos, nascido e criado no bairro. Ele denuncia o processo que levou o Abaeté a perder muito de sua água. “Não é a natureza! Isso é desculpa. Os verdadeiros culpados são o invasores do entorno que abre poços artesianos e acaba com o lençol freático”, diz Ulisses.    

A Lagoa do Abaeté pertence a uma Área de Preservação Ambiental (Apa) que tem 1.870 metros quadrados. Hoje, tanto a Apa Lagoas e Dunas do Abaeté quanto o Parque Metropolitano do Abaeté são administrados pelo Instituto do meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). O coordenador da Diretoria de Unidades de Conservação do Inema, Mateus Leite Matos, que marcou presença no ato, confirmou que as águas da lagoa secam por conta da ocupações irregulares nas regiões próximas ao lago natural. Fórum Permanente de Itapuã se reuniu em uma estrutura próxima à Lagoa e debateu seus problemas ambientais e humanos (Foto: Roberto Abreu) Por isso, o grande desafio, diz ele, é exercer o poder de fiscalização de forma eficiente e desenvolver um grande projeto de educação ambiental para as comunidades. Tudo giraria em torno da revisão do plano de manejo que foi desenvolvido no final da década de 1990 e do zoneamento criado em 2002. “Se a gente conseguir revisar o plano e colocar em prática o zoneamento, ambientalmente falando, a Lagoa do Abaeté tem jeito, sim”, acredita.

O Parque do Abaeté vem sofrendo uma reforma que se arrasta desde 2014. Mas, afirma Mateus Leite, a simples recuperação da infraestrutura não resolve todos os problemas. “Estamos em fase de conclusão da reforma. A partir dela, o objetivo é pensar o conjunto, com a participação da comunidade na questão ambiental e intensificando a fiscalização”, afirmou. Enquanto isso, os comerciantes da área sonham com uma maior visitação do espaço. “Isso aqui era cheio de turistas do mundo todo, a gente não sabia a quem atender primeiro”, afirmou .