Ivan Dias Marques: Guga é um orgulho nacional

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 2 de junho de 2017 às 05:30

- Atualizado há um ano

Há 20 anos, eu assistia um brasileiro cabeludo, com roupas bem extravagantes para quem jogava tênis, em 1997, surpreender nas quadras de Roland Garros. Ainda estávamos antes das oitavas de final, logo após Gustavo Kuerten bater o 5º cabeça de chave, o austríaco Thomas Muster.Eu nem sonhava em fazer Jornalismo, mas já queria dar opinião. Lembro de ter comentado com meu irmão e meu padrasto que não botava fé naquele brasileiro que eu pouco tinha ouvido falar no nome. “Sou mais Meligeni, ele, sim, é bom”. Sabe de nada, inocente.Os dias se passavam e Guga ia batendo rivais mais fortes e mais experientes. Que água milagrosa o catarinense de 20 anos havia tomado? Naquele tempo, só torneios grandes, muito grandes, eram transmitidos para o Brasil. O tênis era um esporte tão irreal para a maioria de nós que pensar em praticá-lo era como se imaginar numa aula de hipismo. Você sabe que existe, mas vá procurar...Claro que há uma singela tradição. Maria Esther Bueno, Thomas Koch, Jaime Oncins. Mas a relação é semelhante à com o já citado hipismo. Nomes esporádicos, de épocas bem distintas e, sem dúvida, representando uma classe social alta. O mais importante sobre Guga não é ter o orgulho de um brasileiro se sagrar campeão de Roland Garros aos 20 anos, sendo o 66º colocado no ranking mundial. O mais importante é ter sido uma pessoa como Gustavo Kuerten é. E, só com o passar dos anos, é que esse orgulho aumentou. Quando se entendeu o jeito e o caráter do catarinense. Sua forma de lidar com a vida e não esconder emoções, sua transparência, sua luta para fazer o esporte que ama crescer e, principalmente, sua luta para se manter fazendo o que gosta.Lembremos do sacrifício a que ele passou para isso. Cirurgias nos quadris, incontáveis sessões de fisioterapia e frustrações por ver seu investimento no próprio corpo para voltar a competir não dar o retorno sonhado. Guga é um dos nossos grandes exemplos do quão destruidor o esporte de alto nível pode ser a uma pessoa. Nessa semana, no início das celebrações dos 20 anos de sua primeira conquista, ele mal conseguia se movimentar ao bater uma bolinha simples em Paris. Com 40 anos. O croata Ivo Karlovic, apenas dois anos e meio mais novo que o catarinense, por exemplo, é o 24º do mundo e ainda atua em bom nível.Celebrar os 20 anos do primeiro Roland Garros conquistado por Guga é comemorar a descoberta de um esporte tremendo pelos brasileiros, que nos propiciou, por exemplo, a ter quadras públicas de tênis (dava pra imaginar isso antes dele?). É festejar que um esportista nacional talentoso e de caráter chegou aonde nenhum outro tenista brasileiro chegou e, talvez, nem chegue mais por muitos anos. É comemorar a oportunidade de ter visto jogos como o encontro contra Max Mirnyi (outro ainda na ativa) no US Open de 2001, numa virada espetacular do brasileiro, que ele mesmo diz que foi a última vez que seu corpo rendeu como o de um tenista top deveria render. De relembrar como palavras e expressões como backhand, dupla falta, slice, top spin, entre outras, passaram a ser normais no nosso dia a dia. Só temos que agradecer e pedir desculpas por todas as vezes que exigimos de Guga além da conta (nossa especialidade). Obrigado, Gustavo Kuerten. O prazer será sempre também nosso.