Já lhe ocorreu olhar as fotos de antes, do tempo em que conseguíamos respirar?

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  • Kátia Borges

Publicado em 16 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Já lhe ocorreu olhar as fotos de antes? Do tempo em que ainda conseguíamos respirar normalmente? Falo das imagens que mostram o seu rosto feliz sem sombra de dúvidas. Feito as minhas nas férias do início do ano. Atravessamos o mar em um navio.

Contei sobre a recusa de uma ida a Alemanha? Teve Orlando também, press trip, nadar com os golfinhos. E uma ida a Portugal, lançamento do Stopover. Segui em terra firme nos dois casos. Então achei que seria bom começarmos aquele ano corajosamente.

No Porto de Santos, entramos no cruzeiro de luxo, uma dessas embarcações-monstro em que cabe uma cidade. Você bem sabe, águas bastante agitadas. Mas, como era mesmo o seu riso de antes? Falo daquelas imagens que te mostram em outra vida quase.

Dizem que é como se houvesse um lance que corta e edita o que vivemos em duas ou mais partes. E que há uma ilha de edição divina, que o destino opera. É certo? É certo, se nos vemos como personagens. Mas quem escreve esse roteiro? Qual selvagem?

Talvez você estranhe, não responda. Só mais uma das minhas invenções risíveis. Em silêncio, observe. Como se fosse um exercício. Vê-se numa viagem quando eu não existia? Era feliz quando nem suspeitava? Como quem se envolve num acidente grave na volta de um passeio alegre.

Como eram os seus olhos de antes? O que eles viam? Quais paisagens? Veio de nós este tenso friso na sua testa, este desconcerto na sua pose? O que imaginava mesmo que isso tudo fosse? Todo paraíso é algo que se avista ao longe, frágil miragem que se desfaz quando se chega perto. Percebo o riso forçado que esconde o riso inteiro. E não te sei de novo, algumas vezes.

O mesmo ajuste na luz, um novo ângulo, e de repente estou no fora de campo da filmagem. Mas será que algo do que fomos ainda resta em sua imagem? Frágil réstia. Ah, me pergunto. E peço a Deus que não seja só bobagem. Porque se vejo hoje uma foto sua, depois de tanto tempo, é como se nela ainda me enxergasse.