Já raiou o dia, abram os olhos!

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2018 às 05:05

- Atualizado há um ano

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Vamos descentralizar o olhar lentamente. Deixemo-nos tocar pelas histórias dos nossos ancestrais, heróis de resistência; ocupar lugares, andar a pé, conversar com gente, desconstruir, sair desta confusão cerebral, racional.

É preciso descolonizar o olhar, compreender que a sociedade é multicultural. Isso implica possibilitar novas visualidades, interpretações, adquirindo uma consciência crítica, estabelecendo uma reconexão entre as pessoas, seus códigos, histórias, entre o visível e invisível, o cotidiano, exercitando a capacidade de sentir, emocionar, respeitar cada indivíduo como um ser único.

Saber ler o mundo é construir um diálogo com o outro, até porque, tudo se dá através do olhar, do toque, do que vejo e ou sinto. Propor uma relação com o cotidiano, é necessário para que se possa romper padrões, compreender a história, seus significados, transformar luto em luta.

Nesta perspectiva, na busca por ampliar horizontes, reporto-me às memórias, sensações apreendidas na adolescência, quando, ironicamente, ouvi alguém falar, “Ô de cor!”. Não me lembro ao certo quem disse, só sei que mais tarde percebi seus planos e motivações por trás daquela frase.

Parece até absurdo, mas ainda vivenciamos e experienciamos situações como essas no mundo real, palavras preconceituosas, que incomodam, provocam, questionam, estimulam, associam e ao mesmo tempo dissociam dos espaços ocupados.

Agora, fechem os olhos. Quantas autoras, artistas, cineastas, celebridades negras você conhece? Em cada canto, se tiver um olhar atento, irá se deparar com gente, com obras que felizmente existem, mas, durante muito tempo, foram ignoradas por toda a gente.

O que Amélia Conrado fala deve ser escutado por todos, ela nos diz que, “a história de luta e igualdade de direitos não acabou”, portanto, conhecer a história do outro é necessário para encontrar o sentido das coisas partindo de um ponto de vista diferente. Por isso, é preciso compreender de que forma vejo e sinto, levando em consideração o legado histórico, sociocultural, artístico, e que, quando decodificamos esse lugar, através do olhar, somos partícipes desta sociedade que busca constantemente aprender, apreender, conhecer, compartilhar, fruir.

Sabe uma coisa? Sejamos iguais aos Negos Fugidos do Acupe, que possamos nos libertar das estruturas do poder, das tentativas de higienização, exploração, tramado pelo “novo colonizador”.

É vital nos fortalecermos, expressando desejos, comunicando, compartilhando saberes, sem imposição de uma minoria elitista e dominadora.

Sejamos revolucionários, compreendendo que tradição e modernidade se completam, reivindicando acesso a equidade para desmistificar olhares e comportamentos.

Sabe mesmo o que queremos? Como diz os Negos Fugidos, “Queremos a carta de Alforria!”

Paula Brito é professora, artista plástica e escritora.