Jair Ventura errou. Seus críticos também

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  • Miro Palma

Publicado em 16 de agosto de 2017 às 05:06

- Atualizado há um ano

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Vivemos a era do politicamente correto. Você, com certeza, já ouviu essa reclamação por aí. Não gosto muito dela. Porque como li ou ouvi em algum lugar que agora não me recordo, politicamente correto é uma redundância, visto que não há como ser político e não ser correto. Mas, como nos acostumamos a denominar de políticos determinados cidadãos que de corretos não têm nada, enxergamos a palavra como dúbia. Por isso, prefiro analisar o momento atual como um período da intolerância amplificada. Afinal, intolerância é algo que conhecemos e convivemos desde que o mundo é mundo, mas que ganhou contornos mais potentes com a internet, especialmente nas redes sociais.

A bola da vez é o técnico do Botafogo, Jair Ventura, que criticou a contratação do colombiano Reinaldo Rueda pelo rival Flamengo. No dia da apresentação de Rueda, Jair disse, em entrevista para o Fox Sports, que os técnicos brasileiros já estão perdendo espaço lá fora e que podem perder espaço também no mercado brasileiro com a chegada de estrangeiros. “Respeito a decisão, ele é um grande treinador, acho que pode dar certo. Mas estou falando em nome dos treinadores, como jovem e brasileiro. Isso é muito ruim”, completou.

Pronto, depois da entrevista a polêmica pipocou nas redes sociais e o promissor técnico de 38 anos deve ter sentido a orelha coçar bastante. As inúmeras críticas ao comentário de Jair têm fundamento. Afinal, questionar a entrada de estrangeiros em qualquer mercado é uma atitude que beira a xenofobia. Mais esdrúxulo ainda se questionar isso no mercado da bola, talvez um dos mais globalizados no mundo. Então, foi no mínimo infeliz a declaração, ainda mais no momento de chegada do colombiano no Brasil, uma péssima recepção.

A orelha coçou tanto que ele percebeu a besteira que falou e tentou se explicar em uma nota enviada à imprensa. No comunicado, Jair mudou o tom e disse que não foi claro ao se expressar. “O que questiono e me deixa triste é ver que treinadores brasileiros são vistos com desconfiança e encontram dificuldades para trabalhar no exterior”, avaliou. Nesse caso, não foi bem uma questão de clareza, mas de argumento. Porque, pelo visto, ele mirou na CBF ou na Fifa, mas acertou em Rueda, que nada tem a ver com isso.

Até porque, esse é sim um problema que os técnicos brasileiros encontram, mas que só pode ser resolvido pelas entidades que gerem o esporte. Não ter uma formação de técnicos que se equipare à da Uefa (exigida nas grandes ligas europeias) ou aceita lá fora é uma demanda importante que deve ser questionada a quem de direito pode resolver essa situação. O que não é o caso de nenhum treinador, atleta ou qualquer outro profissional que vem de fora.

Ou seja, a atitude de Jair Ventura de apontar o dedo para um técnico estrangeiro como o causador do problema foi errada. Mas crucificá-lo por isso também não é correto. Ele deu sua opinião, uma opinião ruim, mas sem ofender o rival. Nos dois momentos, tanto na crítica, quanto na mea-culpa, teve o cuidado de elogiar o colombiano a quem chamou de “grande treinador” com “currículo admirável”. Precisamos levar isso em consideração e aprender que uma opinião contrária a nossa, quando não ofende ou agride alguém, tem que ser minimamente respeitada.

Até porque não é muito “politicamente correto” criticar a intolerância sendo intolerante. O respeito às opiniões deve prevalecer. Ele como entidade máxima de qualquer relação é a única forma de alcançarmos uma sociedade mais equilibrada, tolerante e justa. Não aponte o dedo para quem está errado sem antes lembrar que, como diriam nossas mães, com isso, você estará apontando três dedos para você.Miro Palma é jornalista  e subeditor de Esporte